
Reflexão à Liturgia da Palavra do VII Domingo do Tempo Comum Ano A
Talvez não façamos nada. Quem quiser ser perfeito, tem de amar todas as pessoas, até os próprios inimigos. “Se só amardes aqueles que vos amam, que recompensa tereis? “ – lemos no Evangelho. Não há vida cristã sem amar como Jesus Cristo ama. Para ser cristão não basta “amar o teu próximo e odiar o teu inimigo”. Isso fazem os pagãos e os publicanos. Não basta só a justiça. Isso fazem os fariseus.
Continuamos com Jesus no alto da montanha! Passo a passo, Jesus convida-nos a ir sempre mais alto e mais além no caminho do amor. Um caminho de não violência, num amor sem limites. É difícil resistir ao terramoto interior que as suas palavras fazem estremecer dentro de nós! Mais do que querer dar a volta ao texto, nos dê a volta a nós. Reconheçamos diante do Senhor, que sem Ele nada podemos fazer.
Na primeira leitura, tirada do Livro do Levítico 19, 1-2.17-18, é lançado um convite à santidade, ou seja, a viver na comunhão com Deus Santo, exige ser santo e a dar frutos de santidade. “Sede santos, porque Eu, o Senhor, sou Santo”. Só Deus é Santo, transcendente, mas todos os seres que estão em contacto com Ele e Lhe são cionsagrados, participam da santidade de Deus, tornam-se santos, separados do profano, consagrados ao seu serviço e ao culto.
No Salmo Responsorial, invoquemos o nosso Deus que é clemente e cheio de compaixão. Para este Domingo, a Liturgia propõe o salmo 102 (103), 1-2.3-4.8.10.12-13
Na segunda leitura deste Domingo, temos a Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios 3, 16-23. Neste trecho, S. Paulo pretende pôr cobro às divisões em grupinhos rivais; os coríntios iam atrás da sabedoria humana e não da divina, ao gloriarem-se em pregadores preferidos. No seu apelo à unidade, o Apóstolo apresenta a Igreja como um edifício sólido, em que todos têm de estar unidos, para se manter firmes. S. Paulo convida os cristãos a serem o lugar onde Deus reside e Se revele aos homens. Para que isto aconteça, eles devem renunciar à «sabedoria do mundo».
No Evangelho deste Domingo, Jesus continua a propor a santidade aos discípulos, o que implica viver um amor que não marginaliza nem descrimina ninguém. Só nesse caminho de santidade se constrói o Reino. “Sede perfeitos, como o vosso Pai celeste é perfeito”, diz Jesus no Evangelho. A perfeição farisaica fica-se pelos rigores da justiça nas relações com o próximo. O seu ideal de perfeição assemelhava-se ao dos pagãos e publicanos. Mas Jesus aponta-nos como meta suprema, a prosseguir inédita e distante, a perfeição infinita de Deus. A perfeição do Pai é o nosso ideal de filhos. O que nos distingue como filhos de Deus é o amor misericordioso, com que amamos todo o ser humanio. É o mandamento novo. Quando o cristão perdoa, eleva-se à altura de Deus, ama com o coração do Pai. Perdoar é a nossa distinção e fidalguia, estilo novo de viver. Quem perdoa, eleva-se; mas quem se vinga, amesquinha-se. Perdoar é a riqueza do pobre, a grandeza do ofendido. Amar os amigos é humano; amar e fazer bem aos inimigos é divino, lição e graça que nos vieram por Jesus Cristo.
“Amai os vossos inimigos”, recomenda Jesus no Evangelho. Porquê? Porque Deus os ama, porque Jesus Cristo nos manda perdoar. Todo o homem é filho de Deus e tem lugar próprio no coração do Pai. Deus ama-nos, perdoando; perdoar é sinal visível da sua perfeição e santidade. Quando um cristão perdoa, encarna e aparece entre os homens a santidade de Deus. Como devemos perdoar? Perdoar sempre e em tudo. “Não só sete vezes, mas setenta vezes sete”. (S. Mateus 18,22). Perdão absoluto e radical, sem condições ou reservas. Não basta abster-se de qualquer atitude de vingança; não chegam sentimentos e intenções, mas gestos positivivos e reais. O perdão começa dentro, no coração, numa atitude de respeito pelo outro, que não permite julgar nem condenar. “O homem vê as aparências, mas Deus vê o coração” (I Sam 16,7). O amor misericordioso é que tem sempre razão.
“Apresenta-lhe a outra face”, exorta Jesus no Evangelho. O mandamento do amor salva sempre o lado oculto das coisas e das pessoas. Amar é descobrir a outra face. Não é loucura, mas sabedoria evangélica. Loucura de Jesus Cristo, sabedoria dos santos! Jesus não proibe a defesa, mas a vingança. “Se fiz mal, diz-me em quê; se falei bem, porque me bates?”. Ensina-nos a defender-nos com paciência e mansidão. Perdoar não significa aceitar tudo o que os outros fazem, ceder perante injustiças.
A outra face é odiar o pecado, mas amar o pecador. A outra face é repreender e corrigir, mas sem orgulho ou exaltação. A outra face é aquele mais que se oculta, como exigência constante, a quem quiser dar tudo. Quando eu der a outra face, quando eu fizer do extraordinário a minha norma de vida, então serei discípulo de Jesus Cristo. Optemos hoje pelo amor, ainda que custe, mesmo que vá contra a corrente. Não nos deixemos condicionar pelo pensamento comum, nem nos contentemos com meias medidas. Como a bem-aventurada Virgem Maria, acolhamos o desafio de Jesus e coloquemos no Senhor toda a nossa vida, toda a nossa esperança: “Eis a serva do Senhor, faça-se em mim segundo a vossa palavra”.
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