Ícones

A Realidade presente no Símbolo

(10 de Março de 2014)
Por Mariana Filippe
Mestre em Pintura pela Faculdade de Belas Artes, Universidad Dublin, Irlanda,

Sempre me impressionou muito o repouso que se sente diante de um ícone. Não se trata simplesmente de observar a pintura e a sua impressionante concepção mas de contemplar como ela ecoa em nós. Os seus temas trazem consigo uma realidade que transborda os limites do quadro, convidando sempre à reflexão. E é justamente isto que faz com a imagem seja acessível a todos os seus espectadores. Não porque estamos simplesmente diante de uma cena, de uma narrativa, mas porque essa narrativa significa algo pessoal para cada um. São passagens e figuras que nos são familiares, mas sempre novas, porque vêm ao nosso encontro de formas diferentes.

Este políptico de João D. Filipe completa o ambiente da capela. Ajuda-nos a entrar no silêncio necessário para a oração. Os tons quentes dos dourados acrescentam ‘a tranquilidade e ‘a transcendência de Deus sempre presente. O estilo deste pintor vai buscar influencias à tradição do Bizantino mais primitivo, por se debruçar especialmente numa capacidade simbólica. Desta forma, João D. Filipe apresenta-nos oito imagens contemporâneas que dão vida à capela do Ressuscitado.

Esta abertura dos ícones para os seus observadores vem principalmente dos seus temas, mas detenhamo-nos também nas características formais, com que estes temas se traduzem para o visível. O que é de sublinhar é que a imagem em si é sempre simbólica. Nunca se trata de uma imagem complexa visualmente ou carregada de ornamentos. Isso de certa forma fecharia a imagem sobre si própria por representar uma cena muito realista e muito concreta. Os ícones, pelo contrário, apresentam sempre todos os elementos da composição de uma forma muito simples e depurada, por vezes até abstrata. Isto permite que se mantenham universais sem se prenderam a uma época ou estilo específico. Estes elementos simplificados dão lugar então a que o símbolo e a realidade que ele representa predominem no quadro, tornando-se centrais na experiência do observador e portanto acessíveis e próximos. E assim a imagem renova-se em cada observador.

Cristo, nestas imagens, apresenta-se sempre numa visita muito concreta, mas de passagem. Vemo-lo sempre num lugar central e destacado, no contexto da composição. As figuras a que se dirige encontram-se surpreendidas e num gesto de reverência, o que reforça este mistério da Ressurreição. E o que mais nos surpreende é justamente que o conjunto transmite a Ressurreição sem que ela esteja fisicamente representada. A Paixão juntamente com as Aparições são o visível que nos leva ao invisível!

OS QUADROS

Estes quadros não são o objecto da nossa adoração. São apenas ajudas que nos recordam Jesus, a Bem-Aventurada Virgem Maria e os Santos. Deste modo as imagens não sendo fotografias da realidade antes nos indicam as realidades divinas de uma forma simbólica. E como a arte cristã não tem que ser totalmente original, antes um acrescentar de algo novo à tradição, para estas pinturas recorri aos antigos mestres Duccio de Buoninsegna e Simone Martini.

a) Capela do Santíssimo ou da Ressurreição

OITO APARIÇÕES DE JESUS RESSUSCITADO

À volta do Crucifixo vemos oito episódios da aparições de Cristo Ressuscitado. Cada quadro é construído após uma citação da sagrada escritura que aqui se deixa. Lendo estas passagem bíblicas e contemplando estas imagens somos convidados à meditação e à oração. Ouvindo cada um, individualmente, o que o próprio Deus nos revela no nosso santuário interior o mais profundo do nosso ser.

b) Corpo da Igreja

TRÍPTICO DE NOSSA SENHORA DO CABO

No interior da igreja encontramos à esquerda do altar, um tríptico representando Nossa Senhora do Cabo apresentando o Menino. Dos lados nas portas, dois santos: à esquerda São Nuno de Santa Maria e à direita São Francisco Xavier.
MARIA APRESENTA-NOS O MENINO
SÃO NUNO DE SANTA MARIA
SÃO FRANCISCO XAVIER

c) No átrio da Igreja

SÃO JOÃO DE DEUS
SANTO ANTÓNIO DE LISBOA

(NOTA: actualmente estes dois ícones estão na sacristia)