Meditação à Liturgia da Palavra do XXI Domingo do Tempo Comum, Ano C
Normalmente somos muito prudentes na defesa dos nossos valores materiais e a nossa prudência aumenta na medida em que os valores das coisas sobem. Não acautelamos com o mesmo cuidado uma moeda de um euro ou uma peça de ouro que possa valer mil euros. Quando porém se trata do valor supremo da nossa salvação eterna, procedemos como se não tivesse qualquer valor, ou como se tudo estivesse já garantido e não corressemos o risco de a perder. A Liturgia da Palavra deste vigésimo primeiro Domingo do Tempo comum, ano C, alerta-nos para o cuidado que devemos ter com a nossa salvação eterna.
O Reino dos Céus é uma festa e todos fomos convidados. Não importa saber se respondem poucos ou muitos; o importante é saber o caminho que para lá vai. “Deus quer que todos os homens sejam salvos” (1.ª Epístola de S. Paulo a Timóteo 2,4). Virão do nascente e do poente, do norte e do sul tomar lugar à mesa. Deus é amor; não se recusa a ninguém. Não há priviligiados, nem lugares de reserva. O único privilégio é fazer-se último para ser primeiro.
Na primeira leitura, proveniente da profecia de Isaías 66, 18-21, o profeta inspirado pelo Espírito Santo, profetiza o que vai ser a Igreja no nosso tempo, com espírito missionário e sacerdotal.
O Salmo Responsorial que a liturgia deste Domingo nos convida a entoar, recorda o mandato de Jesus Cristo a todos os que O seguem: levar a todos a luz do Evangelho, (Salmo 116 (117) 1.2).
O autor da Carta aos Hebreus 12, 5-5.11-13, fala-nos da importância da correcção fraterna e pergunta: “Qual o filho a quem o pai não corrige?”. Lembra-nos que num primeiro momento, a correcção pode causar-nos tristeza. “Mais tarde, porém, dá àqueles que assim foram exercitados um fruto de paz e de justiça”. “O Senhor corrige aquele que ama”. A correcção de Deus é amor de Pai; a correcção fraterna é amor de irmãos. Deus corrige-nos porque somos filhos. Nas nossas quedas e fracassos há um chamamento de amor, uma lição a aprender. Provações e sofrimentos são as portas que Deus abre a traçar caminhos direitos. A correcção fraterna é a expressão real do mandamento do amor. Exige um clima de compreensão e confiança mútua, que abre os corações ao diálogo libertador. Correcção fraterna só tem por fim ganhar o irmão (S. Mateus 8,15). Por isso, quando corriges, não te deixes mover pela secreta vaidade de não seres como os outros. Aquele que corrige não se julgue melhor que ninguém. Corrigir e ser corrigido, iguala-nos a todos na confissão da mesma fragilidade e na mesma busca da perfeição.
A nossa principal preocupação é seguir o caminho do Céu e Jesus diz-nos que Ele próprio é o Caminho. Disto nos fala o Evangelho deste Domingo, tirado de S Lucas 13, 22-30.
Jesus no Evangelho deste Domingo recomenda: “Esforçai-vos por entrar pela porta estreita”, Palavra do Senhor que soa como fim de festa do banquete das criaturas. A sociedade de consumo em que vivemos, não entende as exigências da porta estreita que conduz à vida e prefere entrar pela porta larga de prazeres e comodismos. Porta estreita é renúncia e abnegação no seguimento de Jesus Cristo, tomar parte com Ele na sua paixão e na sua morte. No Reino dos Céus só entram os que se fizerem pequeninos. Para isso, é preciso diminuir e despojar-nos. Quando Jesus Cristo for tudo em mim, já tenho o Reino e a porta. “Eu Sou a Porta”.
No caminho do Reino há uma porta que se abre e outra que se fecha. “Abre-nos Senhor”. Qual porta escolhemos? Sem conversão e renúncia, a porta fecha-se. De nada serve “comer e beber” com Ele, receber sacramentos, ter nome de cristãos, se nos desmentimos com as nossas obras, gestos e ritos. A fé com obras abre-nos a porta do banquete. Cumprindo a vontade de Deus seremos livres do “pranto e ranger de dentes” e introduzidos no coração do Pai, nosso Céu e bem-aventurança. É a prática do amor e da justiça que nos abre a porta e nos faz sentar à mesa do Senhor. Só o pecado nos condena e impede de entrar na alegria dos justos. Deus não fecha a porta a ninguém; é o homem que recusa entrar.
Os nossos critérios precisam de correcção. Andam lugares trocados, valores invertidos, “últimos que serão dos primeiros e primeiros que serão dos últimos”. O Reino de Deus está dentro e tem secretos adoradores em espírito e verdade. Os últimos que eu desprezo, talvez sejam os pequeninos que têm o primeiro lugar no Reino. A infância espiritual é maturidade evangélica.
Que nos ajude nisto a Virgem Maria. Ela passou pela porta estreita que é Jesus.Acolheu-o de todo o coração e seguiu-o todos os dias da sua vida, até mesmo quando não o compreendia, até quando “uma espada trespassou a sua alma”. É por isso que a invocamos como “Porta do Céu”: Maria, Porta do Céu, uma porta que reproduz exactamente a forma de Jesus: a porta do Coração de Deus, um coração exigente, mas aberto a todos nós.
Diácono António Figueiredo
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