SINAL DE CONTRADIÇÃO

Reflexão à Liturgia da Palavra do XX Domingo do Tempo Comum Ano C

Jesus Cristo é sinal de contradição. Foi assim desde o berço e continua a sê-lo em cada cristão e na Igreja, seu corpo místico. Logo ao nascer levanta contradições. A sua vida e mensagem foi a espada cortante, que dividiu e pôs a descoberto pensamentos e corações. Uns rejeitam-no como condenado; outros reconhecem-no como Filho de Deus.

Ser cristão é ser baptizado no Espírito Santo e no fogo, num compromisso de fidelidade a Jesus Cristo e ao seu Evangelho. Isto faz de nós profetas, pessoas comprometidas em mostrar os verdadeiros valores espirituais e humanos. O cristão, na sua fidelidade a Jesus Cristo, não pode ser neutro, passivo ou ausente, mas pedra de tropeço e sinal de contradição… perante um mundo sem espírito, o cristão tem de mostrar os verdadeiros valores espirituais e humanos… incendiando o mundo e o coração dos homens com os valores do desprendimento e solidariedade, amor e oração, coerência e responsabilidade, verdade e liberdade, compromisso firme com a justiça e a libertação de toda a descriminação social, cultural, religiosa.

A primeira leitura, proveniente da profecia de Jeremias 38, 4-6.8-10, apresenta-nos a figura deste profeta que recebe de Deus uma missão, que lhe vai trazer o ódio dos chefes e a desconfiança do povo de Jerusalém: anunciar o fim do reino de Judá. Por isso é acusado de ser um falso profeta e atirado para a prisão até que um estrangeiro corajoso vá em seu socorro. Jeremias é bem o ícone incandescente das lutas sem fim em defesa da Palavra de Deus.

Para Salmo Responsorial deste Domingo, a liturgia traz-nos o salmo 39 (40), 2.3.4.18. Neste salmo encontramos uma acção de graças ao Senhor pelos benefícios recebidos, seguida de uma súplica e lamentação: “Senhor, socorrei-me sem demora”. Assim é a nossa vida: tecida de momentos de sonho e de momentos de dor e sofrimento. 

No caminho da nossa vida somos convidados a correr com perseverança e com os olhos postos em Jesus Cristo, guia da nossa fé e autor da sua perfeição… para alcançarmos a vida plena e recebermos do Pai a coroa da glória. 

São Lucas, na passagem do Evangelho deste Domingo 12, 49-53, fala-nos no fogo e da divisão até na própria família, trazidos por Jesus. Mas que fogo é este? É o fogo anunciado pelos profetas e ateado por Jesus Cristo, que salva, purifica e cura. É o fogo da sua palavra, é a sua mensagem de salvação, é o seu Espírito; aquele Espírito que no dia do Pentecostes desceu como chama sobre os discípulos e começou a difundir-se no mundo como um incêndio benéfico e renovador.

Todo o cristão enviado ao mundo levanta contradições. Já os profetas correram a mesma sorte, como está patente na primeira leitura da profecia de Jeremias. “Em troca da alegria suportou a cruz”, salienta a segunda leitura. O verdadeiro cristão incomoda, a verdade molesta, porque denuncia o erro e a mentira. Por isso, a rejeição e o fracasso são o sinal evangélico que te acredita diante de Deus e diante dos homens. Quando todos dizerem bem de ti, desconfia. Talvez te não distingas, porque não levas o sinal. Se tudo te corre bem, ainda não começaste a ser discípulo de Jesus Cristo. “Bem aventurados sereis, quando disserem todo o mal contra vós”. (São Mateus 5,11)

Deus é fogo que arde. “Vim lançar o fogo sobre a terra” – diz Jesus no Evangelho. Mas o fogo se não se ateia, morre. Por isso o fogo divino saltou a imensidade de Deus e propagou-se na obra da criação e sobretudo na maravilha inefável da redenção do homem e do universo. Fomos remidos no fogo e no amor do Pai que nos deu o seu Filho. A obra a realizar em fogo era o Baptismo de sangue para lavar os pecados do mundo. É amando-nos que o fogo se ateia e a redenção continua.

Jesus afirma no Evangelho que “Eu vim para estabelecer a desavença”. No mundo, Jesus Cristo é a revolução permanente. Veio revolucionar critérios e medidas, inverter a hierarquia de valores. Desde menino será posto como sinal de contradição, ruína e salvação de muitos em Israel. Jesus Cristo é o inevitável, o imprescindível, o que divide os homens. Ninguém pode ficar indiferente, ninguém lhe pode fugir. Tudo passa por Ele, tudo acontece n’Ele.

“Tenho um Baptismo a receber” – lembra Jesus no Evangelho. O cristão leva gravada em si a contradição da cruz de Cristo. Fomos baptizados em sangue e fogo, imersos em Jesus Cristo, purificados no Espírito renovador. Agora a cruz divide as pessoas e marca com o seu sinal os escolhidos de Deus. Há uma guerra total entre o bem e o mal, o sim e o não. A paz de Jesus Cristo que levamos, implica desavenças com o mundo, oposição radical. Exige intransigências em nome do Evangelho, rompimentos que sangram e o mundo não entende. Há uma paz falsa que não é a de Jesus Cristo, feita de concessões e compromissos. A paz evangélica paga-se pelo alto preço de renúncias e inquietudes. Não basta viver em paz; é preciso construí-la. Só assim seremos bem-aventurados.

A vida cristã é combate e corrida, de olhos postos em Jesus Cristo, a meta e o guia da nossa fé. Não há espectadores a ver passar, sentados em egoísmos e falsas seguranças. Somos o fogo de Jesus Cristo; o que falta é arder.

Maria Santíssima nos ajude a deixar-nos purificar o coração com o fogo que Jesus trouxe, a difundi-lo na nossa vida, através de escolhas decisivas e corajosas.

Diácono António Figueiredo

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