
Meditando a Liturgia da Palavra da santa Missa do dia do Natal do Senhor, Ano C
A vida que estava em Deus nasceu entre nós, o amor de Deus fez-se dom e partilha. Alegremo-nos! O mistério do Natal celebra a eterna genealogia do Menino que nos nasceu. Jesus é o Verbo eterno do Pai, a Palavra incriada na qual se comunica. O Filho único que está no seio do Pai, fez-se entre nós a sua imagem e esplendor da sua glória. Por Ele tudo foi criado e por Ele tudo foi dito.
O Profeta Isaías, na primeira leitura, capítulo 52, versículos 7-10, convida os povos de toda a terra a esperar a salvação que o Messias nos oferece.
O Salmo Responsorial, salmo 97 (98) 1.2-3ab.4.5-6, exorta-nos a anunciar Jesus Cristo a todo o mundo. Só n’Ele a humanidade encontrará a paz.
A segunda leitura, tirada da Epístola aos Hebreus, capítulo 1, versículos 1-6, diz-nos que Deus continua a falar connosco através de Seu Filho Jesus. Cumpramos os seus ensinamentos. “Falou-nos por seu Filho” – refere a segunda leitura. O amor de Deus fez-se Palavra entre os homens, Palavra que diz e faz. Em Cristo tudo foi dito, porque Ele é o Verbo que esgota a divina essência e a exprime em sua Pessoa. Agora já não há outras mensagens, outros messias. Depois de tudo o que nos foi dito, não há mais nada a dizer. Cristo é a Palavra que o Pai nos deu, o diálogo de amor entre Deus e os homens. Nele temos o penhor da aliança definitiva e a garantia que nos assegura a vida eterna.
O início do Evangelho de S. João, capítulo 1, versículos 1-18, é proclamado nesta celebração. Jesus é a Luz do mundo. Jesus assumiu a condição humana e a minha existência concreta. “E o Verbo fez-se carne”. A maior prova de amor que Deus me deu, foi encarnar e parecer-se comigo. Tenho de fazer agora a minha parte, identificando-me com Ele, nos mesmos sentimentos e atitudes. Pela Encarnação chega à plenitude o projecto inicial de Deus, que nos criou à sua imagem e semelhança. Andavam no homem e em toda a criação sementes do Verbo, que frutificaram finalmente em Jesus Cristo. Pôs Deus nos homens tais exigências que só em Deus encarnado podiam obter resposta. O nome que só Deus sabia, anda agora de boca em boca.
Ao assumir Deus a natureza humana, o homem transcendeu os seus limites e tornou-se consorte da natureza divina. O eterno inseriu-se no tempo e o infinito aconteceu, feito história dos homens. Agora tudo o que acontece tem inscrito o nome de Jesus e vai em sua busca a marcha da humanidade. A história do homem é história de Deus, unidos num mesmo projecto de glória e exaltação. O Menino que nos nasce, é a chave da história, que abre e fecha caminhos, a resposta de tudo o que passou ou há-de vir. A história é a Palavra de Deus encarnada, é Cristo que acontece pelos caminhos dos homens, feitos caminhos de Deus.
Em Belém um outro Cristo nasce: é a Igreja, seu Corpo Místico e cada um de nós, membros desse Corpo. Sou eu que tenho de renascer neste Natal de graça, completando o que falta ao nascimento de Cristo. “Como vai ser isso?” Pela fé e pelo amor como a Virgem Maria. Obedientes na fé, comungando no amor e vontade de Deus, encarna em nós Jesus Cristo. Por obra e graça do Espírito Santo, que vem sobre nós, nasce Jesus outra vez.
No Presépio de Belém, reclinada em pobreza e humildade, está a humanidade inteira, assumida na mesma carne do Filho de Deus, que nasceu. Agora cada um de nós tem de ser verbo encarnado, palavra e pão da vida. Como no Menino Jesus, transparece em todo o homem a perfeição de Deus.
Mas o berço do meu Natal está no coração dos outros. É lá que eu vou nascer, gémeo de todos os homens, meus irmãos, membros de um mesmo corpo. Aceitar, compreender, amar: são os três verbos da vida, gerando Cristo no coração dos homens. O meu Natal consiste em dar alegria e esperança, fazer os outros felizes
A Virgem Maria — que soube escutar atentamente a Palavra de Deus, que acolheu em si o Verbo de Deus, a Palavra viva e eterna do Pai — nos ensine a dá-Lo ao mundo que nos rodeia e que vive em tantos lugares ainda nas trevas do Velho ou de um novo paganismo.
Diácono António Figueiredo
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