
Comentário à Liturgia da Palavra do III Domingo do Advento, Ano C
O pessimismo é uma espécie de miopia; a pessoa vê apenas o que é material e não conta com o mundo sobrenatural: Deus, a Santíssima Virgem, os Anjos e os Santos que estão na vida eterna. Invade os corações quando, humanamente, parece que não há mais possibilidades e torna-nos profundamente negativos ao falar de tudo: da saúde, dos transportes, da comunidade, das casas, dos meios de comunicação social … às vezes nem a própria Igreja escapa a esta visão pessimista. Esquecemos que todas as coisas deste mundo são zeros e nada valem, se não lhes colocarmos no princípio do número a unidade – Deus.
Aproxima-se o Natal de Jesus e um sentimento de alegria envolve todo o mistério, como precursora do dom que há-de vir. Vão realizar-se as promessas e entraremos no gozo do desejo e da esperança. Deus faz-nos participantes da plenitude da sua alegria e envia ao mundo o seu Filho Jesus, sorriso de Deus e dos homens.
Alegria é presença de Deus entre os homens, expressão original da sua divina essência.
Alegria é Cristo no meio de nós, fruto pascal animando a festa em segredo. Dá-se de presente a quem o procurar, como prémio de vencedores.
Alegria é o sabor do Espírito Santo, dando gosto a tudo o que vive e acontece. É Ele quem no-la traz e ensina, Ele que em nós se alegra, perfeita alegria de Deus em Pessoa.
Na primeira leitura da liturgia da Palavra deste Domingo, o profeta Sofonias, no capítulo 3, versículos 14-18a, anuncia-nos que no início, no meio e no fim desse caminho de conversão, espera-nos Deus que nos ama. O seu amor não só perdoa as nossas faltas, mas provoca a conversão, transforma-nos e renova-nos. Daí o convite à alegria. Deus está no meio de nós, ama-nos e apesar dos nossos descaminhos, insiste em nos amar.
O Salmo Responsorial é retirado da profecia de Isaías, capítulo 12, versículos 2-3.4bcd, 5-6, é um hino de louvor e acção de graças ao nosso Deus. No centro deste texto está a salvação prometida pelo Senhor e realizada em Jesus Cristo. O Altíssimo espera agora que nos decidamos a um trabalho sério pela santidade pessoal que nos está prometida.
A segunda leitura, da epístola de S. Paulo aos Filipenses, capítulo 4, versiculos 4-7, é uma formosíssima carta dirigida aos fiéis de Filipos, anima-os a vivermos em alegria contínua e dá-nos a razão para isso: o Senhor está próximo. Não somos néscios que vivem, alheios aos problemas reais que afligem todas as pessoas, mas confiamos fielmente no Senhor nosso Deus.
A mensagem de Jesus Cristo é radicalmente libertadora, libertando-nos das muitas escravidões que o pecado cria em nós. Assim o afirma São Lucas no seu Evangelho, no capítulo 3, versículos 10-18. Alegremo-nos com esta certeza que nos dá a fé.
Alegria é a marca inconfundível do discípulo de Cristo. Nasce com Ele, como expressão e exigência pascal de vida nova, optimista de nascença e profissão. João Baptista é um semeador de paz e alegria nos corações das pessoas que o vão escutar no deserto da Judeia. Dá um testemunho eloquente de humildade, apresentando-se, não como o Messias, mas como a voz d’Ele, o seu arauto.
Aos publicanos, odiados cobradores de impostos que exorbitavam no cumprimento de um dever, exigindo mais do que estava estabelecido e usando métodos ilícitos, São João Baptista adverte: “não pratiqueis violência com ninguém, nem denuncieis injustamente; e contentai-vos com o vosso soldo”.
A paz e a alegria têm de ser construídas na verdade e na caridade.
Com Maria construiremos a paz, imolando-nos pelos nossos irmãos, numa doação generosa de todos os momentos. Para transformar o mundo, Deus escolheu uma humilde jovem da Galileia, Maria de Nazaré, e interpelou-a com esta saudação: “Alegra-te ó cheia de graça, o Senhor está contigo”. Com a ajuda de Maria, ofereçamo-nos com humildade e coragem, para que o mundo acolha Cristo, que é a nascente da verdadeira alegria.
Diácono António Figueiredo
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