Joynal 12julho2020

Nellie Bly (1864-1922)

É sempre gratificante ler histórias sobre os heróis e heroínas lendários que não se curvam perante as injustiças, e dão o suor do corpo para as combater. É ainda melhor saber que pessoas assim existem realmente, e que não só combateram nessa luta como também a venceram. Uma dessas pessoas é Nellie Bly.

Elizabeth Cochran Seaman nasceu a 5 de maio de 1864, filha de Michael Cochran e Mary Jane Kennedy, em Pittsburgh, uma cidade Norte Americana. O seu pai era um imigrante irlandês, que lhe ensinou e aos seus irmãos a importância do trabalho árduo e honesto. Quando Elizabeth tinha cerca de 6 anos o pai faleceu e, para poder sustentar os 15 filhos, a mãe teve de voltar a casar. Nellie apercebeu-se então que os ideais do pai não se aplicavam inteiramente a mulheres.

Aos quinze anos Nellie iniciou estudos para poder vir a ser professora, mas teve de abandonar a escola devido a falta de fundos. No ano seguinte a família Cochran mudou-se para a cidade, onde Nellie se deparou com um artigo intitulado “Aquilo para que as raparigas servem” (no original em inglês, “What Girls Are Good For”), publicado no jornal Pittsburgh Dispatch, afirmando que o lugar de uma rapariga deveria ser dentro de casa, tomando conta do lar, e que uma mulher que trabalhasse era uma “aberração”. 

Revoltada com esta mentalidade, que discriminava principalmente as mulheres da classe trabalhadora que, mesmo que quisessem, não podiam ficar em casa pois precisavam de trabalhar para sustentar as suas famílias, Nellie escreveu uma carta dirigida ao jornal, usando o pseudónimo “A pequena órfã zangada”, na qual expressava a sua opinião sobre esse assunto. Essa carta acabou por se tornar no seu bilhete de entrada no mundo profissional. Tornou-se jornalista quando tinha cerca de 20 anos, altura em que lhe foi dado o nome pelo qual hoje é reconhecida.

Em 1887 Nellie abandonou o Pittsburgh Dispatch e mudou-se para Nova Iorque, onde acabou por arranjar trabalho no jornal New York World. Aí, Nellie escreveu o seu primeiro grande êxito; um artigo de investigação intitulado “Dez dias num manicómio” (no original em inglês, “Ten days in a Mad-House”). 

Poucos meses antes da entrada de Nellie no New York World, vários artigos foram publicados relativamente às suspeitas de brutalidade e negligência no hospital psiquiátrico para mulheres na Ilha Blackwell. Nellie foi presenteada com a possibilidade de realizar um artigo de investigação sobre as condições a que as pacientes eram sujeitas dentro do estabelecimento, mas, para isso teria que conseguir “infiltrar-se” no interior deste, sem que ninguém suspeitasse. Para tal, registou-se numa pensão para mulheres da classe trabalhadora e começou a comportar-se de maneira errática, até que os donos da pensão chamaram a polícia, que a levou para fazer uma avaliação psiquiátrica. Depois disso, foi levada para o manicómio. Durante a avaliação psiquiátrica Nellie manteve a fachada, mas assim que chegou à Ilha Blackwell começou a agir normalmente, o que, para seu espanto, foi recebido com indiferença por parte dos cuidadores do estabelecimento, que continuaram a tratá-la como qualquer outra paciente. 

Durante 10 dias, Nellie testemunhou o tratamento e condições atrozes a que as pacientes eram sujeitadas: A comida era arroz, carne estragada e pão seco, acompanhados de água intragável. As pacientes consideradas “perigosas” eram amarradas umas às outras com cordas, enquanto que as outras pacientes eram obrigadas a ficar sentadas em bancos duros durante o dia inteiro, sem nenhuma proteção contra o frio.  O esgoto corria pelo refeitório e pela cozinha, e ratos andavam à vontade pelas salas. Os banhos eram de água gelada, que era atirada às pacientes com baldes. As enfermeiras eram abusivas, e batiam nas pacientes que não lhes obedeciam. Ao interagir com algumas pacientes, Nellie apercebeu-se que muitas não tinham problemas mentais, e estavam internadas contra a sua própria vontade. 

O artigo publicado por Nellie levou a uma revolta geral e ao início de uma investigação que teve como consequência a revisão das leis e a aprovação de novos impostos na cidade de Nova York, o que permitiu a atribuição de 1 milhão por ano para instituições de saúde mental.

Deste modo, Nellie marcou a diferença ao alertar a sociedade para uma situação que estava “varrida para debaixo do tapete” e escondida nas brumas, impactando de uma maneira extremamente positiva a vida de todos aqueles que realmente necessitavam deste tipo de cuidados.

Num ponto de vista pessoal, Nellie compara-se a Marta, irmã de Maria e Lázaro, e amiga de Jesus; Marta, que sempre serviu os outros em seu redor sem nunca ter receio de expressar a sua opinião e falar sincera e abertamente.

Que esta semana as nossas intenções sejam para as Nellies e as Martas do mundo, bem como todos os que concedem a sua voz aos que não a têm, ajudando-os e participando na luta por um mundo melhor.

Que possamos, também nós, ser essa voz.

Teresa Cunha

artigo preparado por
Teresa Cunha

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