Reflexão à Liturgia da Palavra do Domingo de Pentecostes
A Solenidade do Pentecostes completa o mistério de Jesus Cristo. Terminou a missão do Verbo Encarnado e começa a missão do Espírito Santo. Por Ele, Jesus continua a obra do Pai, renovando a face da terra. O divino Espírito Santo é a última palavra de Jesus Cristo. Por Ele vai o Senhor inaugurar a nova humanidade criada à sua imagem. Tudo acontece como no princípio. “Soprou sobre eles”.
Pelo dom do Espírito Santo, a Igreja do Cenáculo transforma-se no novo Israel de Deus. O Pentecostes cristão celebra a Nova Aliança no Sangue do Cordeiro, inaugura a Nova Lei proclamada em línguas de fogo. Agora a plenitude da lei reside no amor, escrita e falada no coração pelo fogo do Espírito. A efusão do Espírito Santo abre os últimos tempos, o Dia do Senhor, onde cada acontecimento é fogo que desce, um grito que rompe: “Vem, Senhor Jesus!”.
A Igreja é o tempo do Espírito Santo. D’Ele recebem vida as suas formas e estruturas, n’Ele se começa e continua a Sua missão entre os homens. A unidade perdida na torre de Babel vai a Igreja reencontrá-la na linguagem nova do Espírito. O amor é a língua de fogo, que tudo entende e reduz à unidade. Sopra o vento de Deus, em brisa ou em tempestade, impelindo a barca da Igreja e os homens para as metas da história, as margens de Deus.
S. Lucas relata a vinda do Espírito Santo no dia do Pentecostes (Cinquenta dias após a Páscoa) e como se manifesta no coração dos Apóstolos. “Linguas de fogo, que se iam dividindo”, refere a primeira leitura, tirada do Livro dos Actos dos Apóstolos 2,1-11. O dom do Espírito Santo é unidade na diversidade. Todos recebiam o mesmo Espírito, mas as línguas “iam-se dividindo”. Há na Igreja de Jesus Cristo diversidade de dons e de talentos, que exprimem a riqueza da multiforme ciência de Deus. Pela diversidade dos seus membros e funções, cresce e se consolida o Corpo Místico de Jesus Cristo. A unidade da Igreja faz-se no amor que reconcilia a diversidade de todos os dons e carismas.
Unidade na diversidade reproduz a mesma vida de Deus, uno na essência, diverso nas Pessoas. Unidade na uniformidade é caricatura do Espírito, ilusão de construir. “Não extigais o Espírito”. Desce para nos ungir de fortaleza e irmos ao mundo anunciar Jesus Cristo. Abalos e tormentas são o destino da Igreja. Quando faltarem martírios e perseguições, perde a Igreja o rosto de Jesus Cristo e a força do testemunho para a missão. Por entre fracassos e perseguições, por desertos e silêncios, vai o Espírito descendo e construindo.
“Todos ficaram cheios do Espírito Santo”, descreve a primeira leitura. Permanece na Igreja e desceu sobre nós no Baptismo e na Confirmação. Não há novos Pentecostes. A linguagem do amor é o Pentecostes de todos os dias. O Espírito do Senhor sagrou-nos testemunhas e profetas para nos proclamar o mistério de Jesus Cristo. O amor que vem de Deus fala em nós todas as línguas, tudo aceita, tudo entende, tudo desculpa. Falar línguas é dialogar na verdade, partilhar amor e vida em comunhão.
O Salmo Responsorial deste Domingo convida-nos a pedir a vinda do Paráclito. Disto nos dá conta o salmo 103 (104) 1ab.24ac.29bc-30.31.34.
Sem o Espírito Santo nada podemos fazer de bem. É Ele que une e vivifica a Igreja. A segunda leitura é tirada da Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios 12, 3b-7.12-13. O contexto em que fala S. Paulo aos Corintios é o de certa confusão que reinava na comunidade acerca dos carismas, em especial os de linguagem. Para começar, avança com um critério de discernimento, a saber, que quem fala, o faça de acordo com a verdadeira fé, a confissão de fé na divindade de Jesus.
Jesus dá aos Apóstolos o poder de perdoar os pecados e comunica-lhes o Espírito Santo. A passagem evangélica deste Domingo é do Evangelho segundo S. João 20, 19-23. Este texto foi escolhido por nele se falar também de uma comunicação do Espírito Santo, este no dia de Páscoa e que permite à Igreja o exercício de uma das concretizações da sua missão salvífica: o perdão dos pecados por meio do Sacramento da Reconciliação.
“Os pecados ficarão perdoados”, promete Jesus. O Pai e o Filho enviaram-nos o seu Espírito para a remissão dos pecados. Vem restaurar a ordem violada, restabelecer o amor perdido. O pecado é Babel de confusão; mas o Espírito Santo é diálogo de amor. Pelo amor de Deus derramado em nossos corações, temos agora acesso junto do Pai (Epístola de S. Paulo aos Efésios 2,14). A Igreja nasceu do perdão pascal. Perdoar é sinal que a aponta e acredita entre os seres humanos. Foi enviada a construir no amor misericordioso. Onde houver perdão aí está a Igreja.
A solenidade do Pentecostes renova em nós a consciência de que a presença vivificante do Espírito Santo habita em nós. Também nos dá a coragem de sair das paredes protectoras dos nossos “cenáculos”, pequenos grupos, sem nos acomodarmos numa vida tranquila, nem nos fecharmos em hábitos estéreis.. Elevemos agora o nosso pensamento à Bem-Aventurada Virgem Santa Maria. Ela estava lá com os Apóstolos quando o Espírito Santo veio, foi protagonista da primeira comunidade da admirável experiência do Pentecostes e oremos a Ela para que obtenha para a Igreja um espírito missionário fervoroso.
Deixe uma Resposta