Reflexão à Liturgia da Palavra do Segundo Domingo da Páscoa
ou Domingo da Divina Misericórdia
Páscoa é a apariçãodo Senhor. Viste-lo passar? “A paz esteja convosco!” Onde houver paz aí está o Senhor.
Paz era o dom preferido, a mensagem com que os envia, como o Paz que o enviou. Paz é a sua conquista, despojo que reparte por aqueles a quem ama. Com o preço do seu sangue “comprou” a nossa paz e reconciliou todas as coisas. Paz é a presença em nós de Jesus Cristo ressuscitado, vencendo as portas fechadas dos nossos medos e ausências. A paz é um dom que Jesus Cristo deixou como bênção destinada a todos os homens e a todos os povos. Não a paz segundo a mentalidade do mundo, como equilíbrio de forças, mas uma nova realidade, fruto do amor de Deus, da sua Misericórdia. É a paz que Jesus Cristo adquiriu com o preço do seu sangue e que comunica a quantos n’Ele confiam: “Jesus em Vós confio”. Nestas palavras resume-se a fé do cristão, que é a fé na omnipotência do Amor misericordioso de Deus. Ver a Jesus Cristo e tocá-l’O é a paz que tudo vence, a alegria que nos faz correr. “Vimos o Senhor!”
A primeira leitura é tirada do Livro dos Actos dos Apóstolos 2, 42-47. Neste trecho, S. Lucas conta-nos a vida dos primeiros cristãos de Jerusalém. São exemplo para todos fixarmos e imitarmos.
Para Salmo Responsoial a Liturgia propõe o salmo 117 (118), 2-4.13-15.22-24. Este salmo convida-nos a encher-nos da alegria pascal e a viver o dia que o Senhor fez, a celebrar a vitória de Jesus.
Na segunda leitura, tirada da Primeira Primeira Epístola de São Pedro 1, 3-9, São Pedro lembra-nos que a fé enche-nos de alegria, já neste mundo, mesmo no meio de provações. Em todos os Domingos pascais neste ano A, vamos ter como segunda leitura um trecho da primeira Epístola de São Pedro. Os versículos que hoje escutamos ou lemos, têm todo o aspecto de um hino trinitário, de sabor baptismal.
A passagem evangélica deste segundo Domingo da Páscoa, é do Evangelho segundo S. João 20, 19-31. O Apóstolo São João narra as aparições de Jesus ressuscitado no dia de Páscoa e na Pascoela (Domingo da oitava da Páscoa). Como então, Jesus está vivo no meio de nós.
“Recebei o Espírito Santo”, diz Jesus no Evangelho. É o presente pascal que Jesus Cristo trouxe do Pai. “Soprou sobre eles”. Dando-nos o seu espírito, Jesus repetiu o mesmo gesto criador do princípio (Génesis 2,7), inaugurando agora a nova humanidade. Ressuscitado da morte, enviou do Pai o Espírito Santo prometido para o derramar sobre nós (Actos dos Apóstolos 2,33). Para isto ressuscitou. Era a sua pressa e ânsia de partir. Enquanto não ressuscitasse, o Espírito Santo não viria completar a sua obra. O Espírito Santo é o princípio vital do homem novo, enxertando em nós a vida nova de Jesus Cristo ressuscitado. Os caminhos de Páscoa, a plenitude de Jesus Cristo, são efusões do Espírito Santo.
“Os pecados ficarão perdoados”, esclarece Jesus no Evangelho. Jesus Cristo é o Vivente, o vencedor do pecado e da morte. Se o pecado nos impedia de ressuscitar em Jesus Cristo, o seu Sangue nos libertou, triunfando da iniquidade. No fogo do Espírito Santo fomos purificados e ressuscitamos para a vida da graça. Ressuscitar quer dizer perdoar e ser perdoado. Quando eu perdoar aos outros, abrem-se túmulos, acontece ressurreição.
“Não sejas incréculo, mas crente”, diz Jesus a Tomé. A Ressurreição é mistério de fé, que não se funda em sinais e aparências, mas na Palavra do Senhor que nos falou. “Sou Eu; não tenhais medo”. Fé é ver mais para além. Tomé viu e tocou um homem, mas adorou o seu Senhor e o seu Deus. Fé é ver sem ter visto, sentir sem ter tocado. Não põe condições, mas cai de joelhos e adora. Quando eu cair de joelhos, verei então o invisível. A fé tem provações e buscas dolorsas (2.ª leitura), sinais de cravos, toques de feridas. Crer e ressuscitar vêm para além da dor. Fé exige morte. Quem crê em Deus tem de morrer às suas razões e evidências, sofrer noites e tempestades para O poder ver e tocar. Ver a Deus é morrer; ver a Deus é mudar de vida. No meu olhar novo de ressuscitado, as trevas e as dores se transfiguram e o definitivo aparece.
A Igreja é sacramento de ressurreição, sinal e consequências de Jesus Cristo ressuscitado. Nasceu da fé no Senhor que está vivo, convocada pela Boa Nova. Jesus Cristo ressuscitado, nas suas aparições, reúne ao seu redor os irmãos dispersos e convoca a Igreja para ir proclamar aos homens que Ele ressuscitou. No grito unânime saído das obras e da vida, saberá o mundo as razões da nossa fé e da nossa esperança. Mas a fé vive-se em comunhão. Fora da comunidade, como Tomé, não há razões que convençam, um testemunho que arraste.. Unidos em caridade, seremos fortes na fé, firmes na esperança e a luz da nossa vida brilhará aos olhos dos homens.
Fé e testemunho só podem existir e crescer na partilha de bens e de amor fraterno, na oração contínua e na fracção do pão, como refere a primeira leitura. Quando participamos na Eucaristia proclamamos a nossa ressurreição.
Peçamos a intercessão da Bem-aventurada Virgem Santa Maria, para que saibamos imitar os primeiros cristãos, na escuta atenta dos ensinamento de Jesus Cristo e do Magistério da Igreja.
Diácono António Figueiredo

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