Reflexão à Liturgia da Palavra do Domingo de Páscoa
Onde está, ó morte a tua vitória? Onde está, ó cruz, a tua infâmia? Jesus Cristo tinha de morrer para ressuscitar. A morte e a Ressurreição do Senhor dão o significado último à existência do homem e da Igreja. É a chave que abre e fecha, a razão que ilumina e convence. Agora sei, agora entendo. Tinha de ressuscitar. Neste dia de Páscoa da Ressurreição do Senhor, exultemos em verdadeira alegria pascal em Jesus Cristo ressuscitado. Esta alegria é plena, semelhante à dos bem-aventutrados do Céu, quando vivemos na graça santificante e procuramos conduzir-nos como bons filhos de Deus. Assim como Jesus Cristo ressuscitou dos mortos para não morrer mais, de modo semelhante devemos conservar a vida de Deus em nós, para no último dia ressuscitarmos com Ele.
A primeira leitura deste Domingo de Páscoa, é tirada do Livro dos Actos dos Apóstolos 10, 34a-37.-43. Na casa do centurião romano Cornélio, em Cesareia da Beira-Mar, Pedro dá um caloroso testemunho da ressurreição de Jesus Cristo. A ressurreiçao de Jesus Cristo é o alicerce da nossa fé, porque não seguimos uma memória consoladora, nem uma boa doutrina, mas a Pessoa viva de Jesus Cristo.
A Liturgia do Domingo de Páscoa, convida-nos a elevar da terra aos Céus um hino de acção de graças pela ressurreição gloriosa de Jesus Cristo, fundamento da nossa Esperança. Na verdade, também nós queremos unir ao nosso canto a terra inteira: “Dai graças ao Senhor, porque Ele é bom, porque é eterna a sua misericórdia. Para Salmo Responsorial é proposto o salmo 117 (118) 1-2.16ab-17.22.-23.
Deus chamou-nos à sublime vocação de filhos e filhas de Deus e herdeiros da felicidade do Paraíso. Por isso São Paulo diz-nos, na carta aos fiéis da Igreja de Colossos: “Se ressuscitastes com Cristo, aspirai às coisas do alto, onde está Cristo, sentado à direita do Pai”. “Ressuscitastes com Cristo”, refere S. Paulo na segunda leitura, tirada da Epístola de São Paulo aos Colossenses 3,1-4. A vida cristã é Jesus Cristo ressuscitado. Pelo Baptismo somos as testemunhas qualificadas da ressurreição. Rejeitámos o velho fermento, que corrompia as obras e a vida para celebrarmos a festa com o pão imutável, sem mistura, ázimos de sinceridade e de verdade. A fé pascal é aparição de Jesus Cristo disfarçado, clarividência do amor. Só o amor vê e acredita. “Não nos ardia cá dentro o coração?”, interrogaram-se os discípulos de Emaús.
A fé é desconcertante como Jesus Cristo crucificado: de névoas tira certezas e dos túmulos desperta a vida. Se o fracasso nos desalenta e a dor nos endurece, como aos discípulos de Emaús,abramos a porta aos outros,. Entremos em comunhão. Ser cristão consiste em afirmar que Jesus Cristo está vivo. Fomos agarrados por Ele para vivermos a mesma aventura de morrer e ressuscitar..
Jesus Cristo, o verdadeiro Cordeiro Pascal, foi imolado na cruz e voltou à vida gloriosa na Páscoa da nossa salvação. “Viu a pedra retirada do sepulcro”, lemos no Evangelho deste Domingo, tirado de S. João 20, 1-9. Ressurreição é vida nova. Não procureis entre os mortos Aquele que se chama vida. Com Jesus Cristo ressuscitado nasceu o Homem Novo, revestrido de Ressurreição. Ressuscitar é mudar de vida. Pelo Baptismo a nossa vida está submergida em Jesus Cristo, corre em nós a mesma vida, à imagem do seu corpo glorioso.- Jesus Cristo é a causa da nossa ressurreição e penhor dela, primícias dos que adormeceram (1.ª Epístola de S. Paulo aos Coríntios 15,20).
Se ressuscitou a cabeça, ressuscitaram também os membros. Vivemos já ressuscitados na fé e na esperança. A ressurreição de Jesus Cristo inaugura a nova criação, saída do seu túmulo de esperas e gemidos. Há na essência das coisas e da vida um sorriso de Páscoa, ânsia de plenitude. Tudo o que é humano e divino acontece em nós, ao ritmo binário de morte e ressurreição.
”Dera-se a conhecer ao partir do pão”, refere S. Lucas 24, 13-35. As aparições de Jesus Cristo acontecem no Cenáculo e convergem para Ele, ou dão-se num contexto de refeição. Isto quer dizer que a Eucaristia é a celebração de Jesus Cristo ressuscitado. Nela se revive o memorial da morte e ressurreição do Senhor até que Ele venha. A Santa Missa que celebramos é a aparição do Senhor. Em disfarces de fé vem comungar-nos o Senhor ressuscitado. É que que nos convida e põe a mesa. O seu manjar somos nós.
O mistério pascal traz exigências de partilha. A Igreja e o cristão vivem na pressa de ir dizer aos outros que Jesus Cristo ressuscitou. É a Boa Nova, a alegre notícia que faz correr os homens. Quando formos pão de Páscoa, fracção de vida e de amor, então o mundo reconhecerá Jesus Cristo oculto na fé. O cristão é o fermento novo, metido na massa para dar sabor e fazer crescer. Nós somos a aparição de Jesus Cristo entre os homens.
Quando me abrir e partilhar do meu pão, caem barreiras, abrem-se os olhos. “É o Senhor”. Não temos de usar as coisas da terra, na vida de cada dia, porque não podemos viver sem elas. Mas devemos usá-las de tal modo como se fossem emprestadas por Deus e pôr toda a nossa aspiração em juntar tesouros espirituais para merecermos a Vida Eterna. Unamos à alegria da Bem-Aventurada Virgem Santa Maria, ao ser visitada por Jesus Cristo, radiante de glória, com os dotes do corpo glorioso.
Diácono António Figueiredo

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