A GLÓRIA DE SOFRER

Reflexão à Liturgia da Palavra do Domingo de Ramos e da Paixão do Senhor

A Paixão do Senhor começa em triunfo. Por entre palmas e hossanas aclama-se o mistério. Começa pelo fim a grande história do amor.

Percorre todo o mistério pascal, dando-lhe unidade e sentido, um fio constante de glória e exaltação. Não é só expectativa, mas é já realidade. Jesus Cristo entra na sua Paixão passeando-a como grande Senhor. “Ninguém me arrebata a vida; sou Eu que a dou livremente” (S. João 120,17). Da sua obediência ao Pai veio-Lhe a soberania. Foi aclamado Rei, reconhecido Senhor, porque se fez Servo. Pelas ruas de Jerusalém, o triunfio é dar a vida. Na dor triunfa, na humilhação é Rei.

O Domingo de Ramos apresenta-se-nos com dois cenários: um de festa, ao comemorar a entrada trinfal de Jesus em Jerusalém, com a bênção dos ramos e a proclamação do Evangelho segundo S. Mateus 21, 1-11. “Hossana ao Filho de David”, salienta o Evangelho inicial antes da Procissão de Ramos. A Paixão de Jesus Cristo começa em triunfo e termina em ressurreição. No espaço que se interpõe entre hossanas e aleluias é que a cruz se levanta como fundamento e sinal. A cruz é condição de triunfo, semente de ressurreição e de glória. Morrer e ressuscitar, gozo e sofrimento, formam um todo indivisível, dois tempos essenciais da mesma realidade. O triunfo de Ramos continua inalterável na marcha para o Calvário. Mudam as aclamões e os gritos, mas o sentido permanece. No princípio e no fim, aclamado ou traído, quem passa é um ressuscitado. Outro momento é de sofrimento, ao celebrarmos a Paixão do Senhor, com a proclamão do Evangelho segundo S. Mateus 26, 14-27,66. Com o Domingo de Ramos, iniciamos a Semana Maior, a Semana Santa, na qual vamos celebrar a Paixão, Morte e Ressurreição do Senhor. Nesta semana percorremos a última etapa da Quaresma, até à renovação das promessas do nosso Baptismo na noite da Vigília Pascal. 

O profeta Isaías, sete séculos antes da Paixão de Jesus, descreve-a com tal realismo, como se a estivesse a contemplar. A primeira leitura é tirada da profecia de Isaías 50, 4-7.

Como resposta aos sentimentos que a profecia de Isaías despertou em nós, vamos entoar a oração de Jesus Cristo na cruz, ao eterno Pai. É uma formosa oração para rezarmos com fé e amor, quando nos parecer que a cruz da vida pesa demasiado sobre os nssos ombros. O Salmo Responsorial é o salmo 21 (22) 8-9.17-18a-19-20.23-24.

S. Paulo , na Carta aos fiéis da Igreja de Filipos, entoa um hino à realeza de Jesus Cristo: “Jesus Cristo que era de condição divina, não Se valeu da sua igualdade com Deus, mas aniquilou-Se a Si próprio”. Trata-se provavelmente de um hino litúrgico cantado nas celebrações da Igreja dos primeiros séculos. “Por isso Deus O exaltou”, lemos na segunda leitura, tirada da Epístola de S. Paulo aos Filipenses 2, 6-11. O triunfo de Jesus Cristo vem-lhe do Pai, que assim dá testemunho do seu Filho pela voz do povo. É Ele que O reconhece e aclama nos brados da multidão, exulta de alegria e se revê no disfarce humano que O encobre. É Ele que O exalta nas horas da humilhação e O vem confirmar para a obra que lhe confiou.

A grande humilhação foi encarnar, tomando a forma de Servo. Despojou-Se do esplendor da sua divindade, rebaixando à nossa pobreza, para fazer a vontade do Pai. No sofrimento e na cruz aprendeu a obedecer. Por isso o Pai O exaltou e lhe deu o nome de Senhor. Mas a força e exercício da sua realeza não está em dominar, mas em servir. Porque se fez o último, Deus O fez assentar acima de todo o principado e senhorio e tudo pôs debaixo dos seus pés.

A procissão do Domingo de Ramos continua na marcha da Igreja com Jesus Cristo para a glória do Pai. O triunfo de Jesus Cristo acontece para dar sentido às nossas dores, completar agonias. Sofrimentos e cruzes inserem-se na vida da Igreja e do cristão, entre dois tempos de glória. No seguimento de Jesus Cristo, tristezas e alegrias, dores e triunfos, tudo é Paixão, tudo procede dum só amor para a glória de Cristo total. Paixão de amar há só uma: morrer e ressuscitar. Na obediência de servos seremos exaltados com Jesus Cristo. Servo é a atitude essencial do ser humano perante Deus. Não há outra grandeza. Obedecer é triunfar.

Na celebração da Eucaristia revive-se o mistério do triunfo do Senhor. O cortejo da entrada iniciou a marcha triunfal, e que termina no sacrifício. Ouvem-se os mesmos gritos e hossanas. Já não há espectadores a ver passar. Quem triunfa e vai morrer é o Cristo que somos nós.

A Bem-aventurada Virgem Santa Maria seguiu, a partir de determinado momento, a Paixão de Jesus Cristo, até que Ele exalasse o último suspiro. Que Ela nos ensine a meditar a Paixão de Jesus Cristo e a ter um coração agradecido a quem morreu para nos salvar.

Diácono António Figueiredo

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