LÁZARO, VEM PARA FORA

Reflexão à Liturgia da Palavra do V Domingo da Quaresma, Ano A

Nesta marcha quaresmal, vêm-nos hoje ao encontro a morte e a vida. É andando que se ressuscita; é saindo para fora que nos saem as ligaduras. O que seremos depois já o somos agora, ressuscitados na fé e na esperança. 

A ressurreição de Lázaro é signo baptismal. No Baptismo fomos sepultados com Jesus Cristo para n’Ele ressuscitarmos para uma vida nova. A vida cristã é o duelo radical entre a morte e a vida. Do túmulo e cativeiros do pecado, vamos ressuscitar gloriosos pela graça de Jesus Cristo. Lázaro regressando à vida anuncia o renascer da nova criação, restaurada em seu ser original. Dos túmulos que se abrem sairá em liberdade o novo Israel de Deus (1.ª leitura).

Durante esta Quaresma , ouvimos com insistência o apelo da Igreja à conversão pessoal, programa central deste tempo litúrgico. Como podemos concretizar a resposta a este apelo, proclamado para o nosso bem? A Liturgia da Palavra deste V Domingo da Quaresma ajudar-nos-á a descobrir na nossa vida os caminhos da conversão pessoal.

O profeta Ezequiel anuncia tempos novos aos hebreus exilados em Babilónia, sinais da benevolência de Deus. Promete que os virá tirar dos túmulos do desânimo, da tristeza e da infidelidade em que se deixaram encerrar. A primeira leitura é extraída da terceira parte da profecia de Ezequiel 37, 12-14.

A Liturgia da Palavra deste Domingo coloca em nossos lábios um salmo ao Altíssimo, como resposta à promessa de libertação feita pelo profeta Ezequiel. É uma súplica ardente elevada ao Céu, do profundo abismo do nossos nada, pedindo humildemente ao Senhor que escute a nossa prece. Para Salmo Responsorial é-nos proposto o salmo 129 (130), 1-2.3-4ab.4c-6.7-8. 

S. Paulo dirige-se aos cristãos da Igreja de Roma, exortando-os a fugir da escravidão da carne, para viverem entregues à liberdade dos filhos de Deus. A recomendação do evangelizador dos gentios é também válida para nós, ajudando-nos à conversão pessoal que a Igreja nos recomenda , especialmente agora.. “Deus também dará vida aos nossos corpos mortais” – refere S. Paulo na Epístola aos Romanos 8, 8-11, na segunda leitura deste Domingo. Vivemos na esperança. “Teu irmão ressuscitará”. O Baptismo é o sacramento da ressurreição. Deixámos o sepulcro das trevas e corrupção e tudo mudou de sentido no nosso olhar de ressuscitados. Por isso, deixemos túmulos e ligaduras, para caminharmos livres ao encontro da vida que nos chama. Exige esforço constante até ao fim, se queremos assegurar a posse da herança prometida. Temos de lutar contra as forças do mal e o poder das trevas, para não cairmos de novo no cativeiro do pecado e da morte. Páscoa é vida nova; tudo o que é velho passou. A morte foi vencida pela vida.

“Eu sou a ressurreição e a vida”, diz Jesus na passagem evangélica deste Domingo, tirada do Evangelho segundo S. João 11, 1-45. Neste Domingo, dito de Lázaro, lemos o sétimo e último dos sinais do quarto Evangelho, que deixam ver Jesus como o Messias, não um messias sem mais, mas aquele que é a própria vida, capaz de dar a vida aos mortos. O homem não foi criado para a morte, mas para viver eternamente. “A glória de Deus é que o homem viva”, refere Santo Ireneu. Jesus Cristo nasceu e morreu para que nós tivessemos a vida em seu nome. A morte não é o fim, mas fronteira de vida nova, começo de vida eterna.. Diante da morte, Jesus comove-se e chora. Nas lágrimas de Jesus vai a divina compaixão, que O fez descer do Pai e enxugar todas as lágrimas, a remir do mal e da morte. Agora as nossas dores e agonias são a sua morada permanente, presença definitiva. “Senhor, se tivesses estado aqui!”.-

“Quem acredita em Mim, viverá”, adverte Jesus no Evangelho. Fé é vida e ressurreição. A vida cristã funda-se na fé em Jesus Cristo, morto e ressuscitado. A ressurreição de Lázaro é argumento de fé. A ressurreição de Lázaro é também um sinal de regeneração qe se dá no crente através do Baptismo, com plena inserção no mistério pascal de Jesus Cristo. Pela acção e poder do Espírito Santo, o cristão é uma pessoa que caminha na vida como uma nova criatura: uma criatura para a vida e que vai em ditrecção à vida. Ao verem o acontecido, “muitos judeus acreditaram n’Ele”. Todo o cristão sai do túmulo da infidelidade, por acreditar na Palavra que o chamou. “Senhor, acredito!”. Como Marta, como o cego e a samaritana, o cristão acredita que Jesus Cristo é o Filho de Deus. E este acontecimento é vida. “Todo o que acredita em Mim, nunca mais morrerá”. Jesus Cristo é Deus de vivos e não de mortos. Só o que acreditar verá a glória de Deus. Acreditar em Jesus Cristo é ser glorificado n’Ele e Ele glorificado em nós.

Na Eucaristia que celebramos comemos a nossa própria ressurreição. Presente no altar, o Mestre chama-nos a partilhar do Pão da vida, para assimilarmos na fé e no amor o seu Corpo glorioso.Vamos pois, com fome, ao altar de Deus, saciar o apetite de ressurreição e vida nova.

Que a bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a ser tão compassivos quanto a seu Filho Jesus, que fez sua a nossa dor. Que cada um de nós seja próximo daqueles que estão na prova, tornando-se para eles um reflexo do amor e ternura de Deus, que liberta da morte e fez vencer a vida.

Diácono António Figueiredo

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