DÁ-ME DESSA ÁGUA

Reflexão à Liturgia da Palavra do III Domingo da Quaresma Ano A

Diácono António Figueiredo

A celebração qaresmal desperta mais uma vez a sede que leva à fonte. No caminho da fé levantam-se contradições, pondo-a à prova, sempre em questão. A fé é sede constante. A água do rochedo e do poço de Sicar converteu-se em fonte de graça que brota para a vida eterna.

Nos nossos dias tudo se compra, tudo se vende; pouco ou nada se dá. Neste dia somos desafiados à solidariedade para com aqueles que mais necessitam, com um dos verbos do Evangelho deste Domingo: dar. Dar de beber … todos sentimos sede física, mas também temos outras sedes: de verdade, de justiça, de paz, de sair de uma vida sem sentido … para saciar a nossa sede e encher o cântaro do nosso coraçãoa com água viva; desçamos até à fonte, para nos encontrarmos com Alguém que a dá de graça, sem cobrar nada em troca. È Ele que enche os nossos cântaros vazios de fé e de esperança. É Ele que nos faz correr à cidade para falar a todos de que Ele é realmente o Salvador do mundo.

O capítulo dezassete do livro do Êxodo apresenta-nos uma das dificuldades que o povo de Deus teve na travessia do deserto: a sede. Sedento, ele impacienta-se contra Deus e contra Moisés e duvida do plano de libertação. Mas Deus não deixa de revelar os segredos do seu amor: presença, palavra e acção. A primeira leitura deste Domingo é tirada do livro do Êxodo 17, 3-7. A falta de fé do povo na Provindência divina é muitas vezes posto em relevo na Sagrada Escritura. Também, aparece sublinhada a falta de fé de Moisés, cuja dúvida o levou a bater na rocha duas vezes.

Deus fala a todo o seu povo. Noutros tempos o povo ouviu a Sua voz por meio de Moisés e endureceu o coração. Agora fala por Jesus Cristo. Escutem-n’O os nossos corações. Aquele que enviava mensageiros diante de Si, dignou-Se vir por Si mesmo. Fala agora por sua boca, Aquele que falava pelos profetas. Por isso, «se hoje ouvirdes a Sua voz, não endureçais os vossos corações» (Santo Agostinho). O Salmo Responsorial deste Domingo é o salmo 94 (95), 1-2.6-7.8-9.

Deus não quer a morte do pecador, mas que se converta e viva. Por isso enviou o seu Filho, que oferecendo-Se por todos, veio oferecer o amor do Pai que nos justifica, ou seja, que nos salva, resgatando-nos das consequências do pecado. É assim que Ele prova o seu amor para connosco. A segunda leitura é tirada da Epístola de S. Paulo aos Romanos 5, 1-2.5-8. Dentro do tema central desta epístola, a obra da nossa justificação realizada por Jesus Cristo, S. Paulo aponta para os efeitos desta sua obra salvadotra: a paz, o acesso à graça, um orgulho santo e a esperança que não engana, porque tem como fundamento o amor de Deus.

Os judeus detestavam os samaritanos, por os considerarem heréticos, a ponto de nem sequer lhes dirigirem a palavra. Hoje vamos encontrar Jesus não só em território samaritano, como sentado junto a um poço a conversar com uma mulher samaritana sobre ter sede e tirar água. O Evangelho deste Domingo é de S. João 4, 5-42. É o amor que O obriga a passar na nossa vida, em Páscoa permanente de amor e aliança. O amor traçou-lhe caminhos, urgiu encontros e horas. Veio de longe para o encontro marcado nos segredos do amor. Cansado do caminho, Jesus sentou-se junto ao poço de Jacob, como qualquer, para encher de plenitude as nossas buscas e anseios Encarnou a nossa sede peregrina para beber e ser bebido, saciar e ser saciado. Para os saciados da vida, Ele é a sede; para os que buscam, Ele é a fonte. 

“Dá-me de beber”, pede Jesus à mulher samaritana, conforme narra o Evangelho. Jesus tem sede. É uma sede eterna e infinita, que O faz sair do seio do Pai. A sede que O abrasa, arde no amor que nos tem. A água que nos pede e nos sacia, vai no amor que lhe damos. Se pede de beber é para poder saciar-nos. O cansaço de Jesus fortalece-nos; a sua sede nos desperta e nos enche. Criou-nos com o seu poder; pelo cansaço e fraqueza nos remiu.

É dia de ir à fonte. A sede de Jesus nos atrai a matar a sede que nos domina. A sede mais atroz é aquela que não se sente. Andamos talvez perdidos noutras águas, enganando o amor, como a samaritana. Bebemos águas impuras de cisternas rotas, que só despertam mais sede. Só Deus pode tirar a água que nos conforta, porque o poço é fundo. Desta sede insatisfeita Deus vai tirando água viva. A busca já é encontro; ter sede já é ser saciado.

“Se conhecesses o dom de Deus”, afirma Jesus. O dom de Deus é Jesus Cristo. Em que medida O conheço? Jesus é fonte da visda, rochedo que mata a sede aos caminhantes. Do seu coração aberto brotou a água viva, torrente de graça que nos purifica e fecunda. “Se alguém tem sede, venha a Mim e beba” (Evangelho de S. João 7,37). Pela água que bebemos no Baptismo renascemos para uma vida nova. Beber de Jesus Cristo é acreditar n’Ele para nunca mais ter sede. Beber Jesus Cristo é beber a própria fonte, jorrando dentro de nós para a vida eterna.

“Senhor dá-me essa água”, pede a mulher samaritana a Jesus. A água é o Espírito Santo. Por Ele foi derramado em nossos corações o amor de Deus (2.ª leitura). Ao revelar-nos Jesus Cristo, torna-se rio de graça, brotando no coração dos crentes. Com o sopro da sua presença impele-nos a entrar no santuário interior, onde se adora o Pai em espírito e verdade. É o Espírito que em nós reza e ensina a dizer Pai. Rezar em espírito é escutar a sua voz e deixaer-se conduzir por Ele. Levados pelo Espírito Santo somos atraídos a encontros que não marcamos, a saciar sedes que não sentimos. Como a samaritana,deixemos o nosso cântaro vazio e vamos dizer aos outros: “Vinde ver um homem!”. Na sede de dar é que nos vamos encher.

A bem-aventura Virgem Santa Maria nos ajude a cultivar o desejo de Jesus Cristo, fonte de água viva, o único que pode saciar a sede de vida e de amor que sentimos no nosso coração.

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