
Reflexão à Liturgia da Palavra do II Domingo da Quaresma Ano A
Estamos no segundo Domingo da Quaresma. A Liturgia deste Domingo coloca à nossa reflexão o mistério da morte e Resurreição de Jesus. É este o mistério final de toda a Quaresma – entender o mistério de Jesus no Calvário como expressão do amor de Deus a todos os homens. A Transfiguração do Senhor no alto do monte Tabor, que o Evangelho deste Domimgo nos relata, lembra-nos que, através do esforço quaresmal, no seguimento de Jesus Cristo na sua Paixão, chegaremos também à alegria da Sua gloriosa Ressurreição.
Nesta caminhada para a Páscoa segue connosco Jesus Cristo transfigurado. Tem tentações e triunfos, o morrer e o ressuscitar. Hoje levanta-se o véu que encobre os caminhos da fé. A Transfiguração de Jesus Cristo tudo unifica e esclarece. Entre anúncios de morte se revela e inaugura a glória da Ressurreição.
O Patriarca Abraão, inteiramente confiado na Palavra do Senhor, abandona tudo e parte ao encontro do desconhecido. Assim deve ser a nossa fé, sem medo de nos confirmarmos às exigências que a Lei do Senhor nos põe aos ombros e no coração. “O Senhor disse a Abraão”. Assim, começa a primeira leitura, tirada do Livro do Génesis 12, 1-4a. Estamos nas origens do antigo povo de Deus, como preparação do caminho do Evangelho: «no devido tempo Deus chamou Abraão para fazer dele um grande povo» (Dei Verbum).
O Espírito Santo convida-nos, pelo Salmo Responsorial, à semelhança de Abraão, a confiar na Sua Palavra, caminhando ao encontro do desconhecido. A Liturgia deste Domingo propõe para Salmo Responsorial o salmo 32 (33) 4-5.18-19.20.22.
S. Paulo na segunda leitura tirada da segunda epístola a Timóteo 8b-10, fala na vida como experiência do amor indissolúvel a Jesus Cristo e aos irmãos. E o segredo é dar a vida como Jesus Cristo.
A salvação do mundo é obra do próprio Deus que na fidelidade à Aliança com Abraão, enviou primeiro Moisés e Elias e finalmente o seu próprio Filho. “Este é o meu Filho muito amado: escutai-O”. Diz-nos o Evangelo deste II Domingo da Quaresma tirado de S. Mateus 17, 1-9. O Senhor transfigurado é a resposta do Pai ao anúncio da Paixão, exaltando o Filho que se esvazia e esconde. Glória e sofrimento são inseparáveis no mistério de Jesus Cristo e do homem. Convergem no mesmo monte, unidos no mesmo “êxodo”. A voz do Pai proclama Jesus como Filho muito amado. Apresenta-O ao mundo como o seu Profeta, que vem dar sentido e plenitude às vozes de todos os profetas. Agora Jesus Cristo é o Verbo que temos de escutar, o Mestre que temos de seguir. “Escutai-O!”. Moisés e Elias significam a plenitude da Lei e dos profetas, realizada em Jesus Cristo. A espera fez-se encontro e as figuras realidade.
“Uma nuvem luminosa os cobriu”, narra o Evangelho. A Encarnação de Jesus Cristo é a nuvem de que o Filho de Deus se reveste e nos cobre com a sua sombra, desde o presépio à Ressurreição gloriosa. Meteu-se na nossa vida para ser meta e modelo. Jesus Cristo transfigurou-se para que eu me transfigure. Em Jesus Cristo glorioso se funda e consiste toda a esperança da glória. N’Ele se transfigurará o nosso corpo humilhado, conforme ao seu corpo glorioso. Quando Jesus Cristo for manifestado, também nós o seremos.
“A vida cristã está oculta com Cristo em Deus” – refere S. Paulo na Epístola aos Colossenses 3,3. O cristão é aquele que faz ressaltar das aparências e da vida o rosto novo, oculto entre sinais. Para isso é preciso despojar-nos de tudo o que nos impede e subir ao monte, andar caminhos de Páscoa. Como Abraão, temos de sair da nossa terra, obedientes à voz de Deus. A vontade de Deus é a terra estranha, onde nos movemos e existimos. Na intimidade da oração, o fogo de Deus transfigura-nos. Não há transfiguração, se o coração não tocar o Senhor para O seguir e imitar. Quando a minha vida for Cristo, então serei transfigurado. A dor nos revela, a cruz nos exalta.
“Levantai-vos e não temais”, exorta Jesus. Jesus Cristo veio libertar-nos do temor sagrado da nuvem do Sinai. Entramos com Ele dentro do mistério que nos penetra e sacia do amor inseparável. A vida do cristão é reflexo e transparência de Jesus Cristo transfigurado. Levamos ao mundo sementes de transfiguração pela luz das boas obras e pureza de vida. “Chamou-nos para sermos santos”, salienta a segunda leitura. Por isso, o mundo espera impaciente a revelação dos filhos de Deus. Vamos ao mundo transfigurados dar às coisas o sentido real e ser entre os homens a transparência de Jesus Cristo. Pela fé e pelo amor transpomos transparências e entramos dentro do recinto sagrado, onde a realidade dos homens e da vida tem o brilho do sol e vestes brancas. Passam ao nosso lado Cristos encobertos, que um olhar de fé, um gesto de amor transfigura. A Transfiguração de Jesus Cristo marca o sentido último da história. Tudo converge em Jesus Cristo glorioso. A Quaresma da vida é cortejo de transfigurados.

Neste tempo propício da Quaresma, que a Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos obtenha aquela docilidade ao Espírito Santo que é indispensável para nos encaminharmos decididamente pela via de conversão. (Papa Franciso, Angelus 8 de Março de 2020)
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