TENTADOS, MAS NÃO VENCIDOS!

Reflexão à Liturgia da Palavra do I Domingo da Quaresma, Ano A

Diácono António Figueiredo

Quaresma é preparação para a Páscoa, vésperas solenes do grande acontecimento. O tempo da Quaresma pretende, sobretudo através do Baptismo e pela Penitência, preparar os fiéis para a celebração do mistério pascal. São quarenta dias de oração mais intensa e de penitência. Ouviremos com mais frequência a Palavra de Deus que implicará em cada um de nós uma mudança para melhor. Que cheguemos todos à alegria da Páscoa com «maior compreensão do mistério de Cristo e a nossa vida seja um digno testemunho» (oração Colecta).

Rompeu a marcha da libertação. A vitória definitiva só virá ao fim, quando sair do sepulcro a humanidade nova. Quaresma jé é anúncio de morte e ressurreição. Desde o princípio vivemos a alegria de ressuscitados, porque o mistério pascal é uno e indivisível. O cristão só pode aceitar a cruz, se estiver associada já à ressurreição do Senhor. A cruz de Jesus Cristo é uma cruz gloriosa, troféu do ressuscitado. Pela vivência do nosso Baptismo e celebração da Penitência, ressuscita o Cristo que somos. A vida cristã é tentação permanente. Vai o Senhor tentado lançar fora o príncipe deste mundo.

O livro do Génesis conta-nos a primeira tentação da história da humanidade e a queda dos nossos primeiros pais. Por eles entrou o pecado no mundo, pecado que irá manchar todos os seus descendentes. Isto nos narra a primeira leitura, tirada do livro do Génesis 2, 7-9.3,1-7. Este “relato” bíblico das origens do universo, não pode ser lido como um relato histórico daquilo que sucedeu no início do Universo e do ser humano, mas para percebermos o sentido da nossa origem, como obra de Deus.

O Salmo 50, é dos mais belos salmos de David. Após o pecado gravíssimo de adultério e homicídio, David chora as suas culpas cheio de arrependimento. O Salmo Responsorial deste 1.º Domingo da Quaresma é o Salmo 50, 3-4.5-6a.12-13.14.17. Reconheçamo-nos também pecadores.

Na segunda leitura deste Domingo iremos escutar a Epístola de S. Paulo aos Romanos 5, 12-19. Nesta passagem, S. Paulo fala-nos do pecado original. Em Adão todos pecamos. Pelo pecado entrou a morte no mundo. Em Jesus Cristo, novo Adão, fomos restituídos à vida. Com Jesus Cristo, uma nova humanidade, uma nova criação. 

“Jesus foi conduzido pelo Espírito Santo ao deserto para ser tentado” -assim começa a passagem evangélica deste Domingo, tirada do Evangelho segundo S. Mateus 4,1-11. Convém advertir que as tentações de Jesus não aparecem como uma tentação ocasional qualquer, nem sequer como um ataque violento, mas como “um duelo mortal” e decisivo entre dois inimigos irredutíveis. Trata-se de umas tentações dirigidas a fazer com que Jesus caia em diversas faltas pessoais (gula, orgulho, avareza), mas têm o carácter de um ataque frontal para desvirtuar toda a obra de Jesus, desviando-a da vontade do Pai. Se era o “Filho muito amado” tinha de prestar provas. Jesus Cristo, novo Adão, vem vencer o tentador na mesma prova em que o primeiro Adão fora vencido. Se no deserto o povo de Deus sucumbira à tentação, no deserto Jesus Cristo vai reduzir à impotência o demónio tentador. Quis ser tentado como um de nós para aprender na luta a ciência de obedecer (Epístola aos Hebreus 5,8).

As tentações de Jesus Cristo são o desafio lançado à sua vocação messiânica, a proposta dum Messias diferente. Nas palavras do demónio insinua-se a recusa dum Messias sofredor, o desvio de obediência ao Pai. Tenta afastar Jesus da sua missão espiritual para a falsear e reduzir a um messianismo mágico e triunfalista, feito de portentos, glórias e poderios.

Nas tentações do deserto já está ensaiada toda a existência cristã. O mesmo campo de lutas, a mesma estratégia da tentação. Jesus Cristo revive na sua humanidade as grandes tentações e idolatrias do ser humano. Quis sentir como nós o engano dos bens sensíveis, a sedução de glórias e grandezas. Concentra-se nas suas tentações toda a fragilidade humana e recusas dos projectos de Deus. “Deita-te daqui para baixo”.

Na parte final do Evangelho, Jesus diz ao demónio: “Vai-te satanás, porque está escrito”. A resposta de Jesus Cristo e a nossa vêm na fidelidade à Palavra. A fome que nos aperta e solicita, sacia-se de busca e entrega generosa, conformando a nossa vontade ao plano que Deus traçou. A vontade do Pai é outro alimento que temos de discernir e assimilar para realizar a sua obra. Quando se declaram lutas e dificuldades, o cristão não põe Deus à prova, mas abandona-se e confia. O amor é incondicional. Não mede saltos, são sonda alturas. Honras e riquezas pretendem tronos e altares. Mas tudo o que nos prometem não tem comparação com a divina grandeza de só a Deus adorar e só a Ele servir.

A vitória de Jesus Cristo é também a nossa vitória. Pelo Baptismo participamos na sua mesma vitória, porque “todo o que nasceu de Deus vence o mundo” (1.ª Epístola de S. João 5,4). Quando entramos na luta já somos vencedores pela vitória de Jesus Cristo. A vida cristã é a vitória constante sobre o demónio e o pecado.

Para vencermos as tentações, jamais devemos descurar a devoção filial a Nossa Senhora: “Antes, só, não podias … Agora recorreste à Senhora e com ela, que fácil”, (Caminho §513). «Maria Santíssima, que no meio das ocupações quotidianas conservava a mente e o coração sempre dirigidos para o mistério de seu Filho, nos leve a realizar um frutuoso itinerário quaresmal» (S. João Paulo II na oração de Angelus de 13 de Fevereiro de 2005).

Uma resposta a “TENTADOS, MAS NÃO VENCIDOS!”

  1. Bom dia!
    Artigo esclarecedor e inspiração para seguirmos na luta com fé na vitória.

    Obrigado

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