EU DIGO-VOS

Reflexão à Liturgia da Palavra do VI Domingo do Tempo Comum Ano A

Jesus vem fazer novas todas as coisas. Todos lhe chamam Mestre. “Fala como quem tem autoridade”. Não se apresenta como intérprete da Lei, à maneira de qualquer escriba, mas como intérprete do Pai e lição de si mesmo. “Foi-vos dito, mas Eu digo-vos”. 

Jesus Cristo é Senhor da Lei, Senhor do sábado. Ocultava-se em toda a Lei ua aspiração e anúncio da Boa Nova. A Lei antiga era a preparação da Lei Nova, caminhada para Jesus Cristo, como termo e pleniotude. Os homens complicaram-nos a vida com o jugo pesado de preceitos e observâncias. Mas Jesus Cristo veio simplificá-la, resumindo toda a Lei no mandamento do Amor. Agora a nossa lei é Jesus Cristo, medida de todas as coisas.

Para realizar o plano de salvação, Deus transmitiu à humanidade a sua santa Lei. Alcançaremos a perfeição quanto mais fielmente agirmos de acordo com a vontade divina. Neste VI Domingo do Tempo Comum, continuamos a escutar Jesus no Sermão da Montanha. Jesus não suprimiu a Lei dada a Moisés, mas libertou-a das falsas interpretações. Condenou o apego à letra da Lei, mas valorizou o espírito da Lei. O essencial dos Mandamentos resume-se ao amor a Deus e ao amor ao próximo.

«Deus não mandou a ninguém fazer o mal», refere a primeira leitura extraída do Livro de Ben-Sirá 15, 16-21 (15-20). Todas as orientações da palavra de Deus iluminam o nosso modo de viver. A Lei não destrói a liberdade, mas oferece-nos uma ajuda para fazermos uma boa escolha. Diante de nós estão a vida e a morte; o que escolhermos isso nos dará certo. O texo desta leitura enquandra-se num conjunto de ensinamentos práticos em ordem a alcançar a verdadeira sabedoria: «Quem se dedica à Lei possuirá a Sabedoria».

O Salmo 118 (119) 1-2.4-5.17-18.33-34 é o Salmo Responsorial proposto pela liturgia para este Domingo. Este salmo é uma meditação tranquila, como a do terço. Os primeiros versículos afirmam que a lei é uma fonte de felicidade para os que a observam fielmente e procuram o Senhor de todo o coração. «Este grande salmo exorta-nos à felicidade. Todos querem a felicidade, mas poucos querem seguir o caminho perfeito» (Santo Agostinho, Saltério Litúrgico).

«Antes dos séculos Deus predestinou a sabedoria para a nossa glória», diz S. Paulo na primeira Espístola aos Coríntios 2, 6-10, na segunda leiura deste Domingo. O plano salvífico é misterioso e só foi definitivamente revelado em Jesus Cristo. A manifestação deste plano não é uma conquista humana, mas um dom divino. 

«Foi dito aos antigos … Eu, porém, digo-vos …». Jesus não veio revogar a Lei antiga, mas elevou-a à perfeição, ensinando a entender o seu sentido, ensinando a observá-la no íntimo do coração. O cristianismo coloca a plenitude da lei na prática do amor fraterno. «Não vim revogar a Lei, mas dar pleno cumprimento», diz Jesus no Evangelho deste Domingo, segundo S. Mateus 5, 17-37. Jesus Cristo não é um contestador vulgar, demolidor de profissão. Remir não quer dizer destruir, mas renovar, completar. A renovação vem de dentro, ao ritmo de lutas e esperas, até que a Lei se converta em graça e a observância em amor. Com Jesus Cristo, a Lei deu o seu fruto e chegou à plenitude da sua observência. Jesus Cristo não veio revogá-la, mas transformá-la à imagem do que viu e observou no seio do Pai. Agora quem quiser cumprir a Lei, fazendo a vontade do Pai, tem de obedecer como Ele obedeceu, amar como Ele amou. 

«A plenitude da Lei está no amor», diz S. Paulo na Epístola aos Romanos 13, 10. Jesus não se contenta com gestos rituais, mas exige o amor como lei suprema. Veio estabelecer o primado da caridade, porque Deus é amor. Na essência de toda a lei há uma exigência de amor, um mais que nos ressalta e nos desafia. Jesus Cristo exige de nós um amor de Deus mais radical e absoluto, um amor do próximo, que perdoa sempre e dá a vida. Já não basta cumprir, é preciso amar. Em Jeus Cristo morto e ressuscitado a Lei fez-se amor. Cumprir a Lei Nova é amar sem medida.

«Se a vossa justiça não exceder a dos escribas e fariseus ..,.», adverte Jesus no Evangelho. Justiça quer dizer santidade. Há uma santidade farisaica de exteriores e aparências que Jesus condena. Honram com os lábios, mas renegam com o coração. A santidade não vem das obras da Lei, como efeito mágico, mas das obras do amor praticadas na graça de Jesus Cristo. Regras e leis são servas do Espírito, para ajudar a discernir a única Lei do amor. Pelos caminhos da vida, ao sol da graça, é o amor que discerne e tem a última palavra. Quando o Espírito Santo, Espírito de Amor, for Lei, “ama e faz o que quiseres” (Santo Agostinho).

“Sim,sim; não, não”, avisa Jesus no Evangelho. É a linguagem dos simpes, dos corações humildes e puros, que não traficam com Deus nem com os homens. Usam a mesma medida e critérios para si e para os outros, sem falácias ou subterfúgios. Tomam atitudes claras e constantes diante de Deus e dos homens, nada tendo a dissimular ou encobrir, segundo as conveniências ou circunstâncias, fiéis aos compromissos e palavra dada. Actuam como dizem. É o retrato do homem sábio, segundo a Escritura, ensinado pelo Espírito que nele mora. 

Na Lei Nova de Jesus Cristo o Espírito Santo é Lei.Se vivemos encadeados em normas e estruturas, o Espírito solta gemidos inenarráveis. Vamos à fonte divina, donde corre a água viva de novas leis e exigências, fonte de vida e comunhão Amor é Lei. Isto basta! Hoje, Jesus pede-nos para progredirmos no caminho do amor que Ele nos indicou e que parte do coração. Que a Virgem Santa Maria nos ajude a seguir o caminho traçado pelo seu Filho, para alcançarmos a verdadeira alegria e difundirmos a justiça e a paz por toda a parte.

Diácono António Figueiredo

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s