Reflexão à Liturgia da Palavra do Segundo Domingo do Tempo Comum – Ano A
Após a Solenidade da Epifania do Senhor, celebrada no passado Domingo e da festa do Baptismo do Senhor, ocorrida na passada segunda feira, entramos no Tempo Comum. Este tempo prolonga a celebração do mistério pascal. Continuamos a viver e a completar na Igreja e no mundo o mistério da sua encarnação, morte e ressurreição.Vamos agora encarnar, morrer e ressuscitar a fogo lento, baptizados no fogo do Espírito. O Verbo Encarnado vai fazer-se vida em nós. O ciclo litúrgico é a semente a frutificar, Jesus Cristo a crescer em nós até à plenitude. Liturgia é vida.
Este é o tempo da Igreja peregrina meditar no mistério de Cristo na sua globalidade; tempo de anunciar a Boa Nova para fazer crescer o Reino até à sua plena maturidade, caminhando ao encontro do Senhor, até que Ele venha.
Era o tempo do exílio na Babilónia. Por isso, o profeta fala ao povo de um libertador que será apresentado como o Servo do Senhor. Este servo é Jesus Cristo que vem para reunir o povo, restabalecer as tribos, iluminar as nações e salvar os homens. A primeira leitura é da Profecia de Isaías 49, 3.5-6. Temos aqui parte do segundo poema do Servo de Yahwéh.
No Salmo Responsorial, o salmista canta um hino de louvor, de glória e acção de graças pelas maravilhas operadas pelo Senhor, nomeadamente porque Ele O atendeu e colocando-se disponível para fazeer a sua vontade. «Eu venho Senhor, para fazer a vossa vontade», é o refrão do salmo deste Domingo. Salmo 39 (40) 2 e 4ab, 7-8a.8b-9.10-11ab.
Começamos hoje a ler a Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios. A segunda leitura deste Domingo, é respingada da Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios 1, 1-3. Este trecho limita-se à dedicatória desenvolvida, como era costume naquele tempo. Mas logo aí se podem encontrar grandes afirmações da fé cristã, que depois serão desenvolvidas ao longo da carta. Toda a vida cristã é fruto do chamamento de Deus; foi assim com Paulo, é assim com todos os cristãos. O cabeçalho da epístola é, teològicamente muito rico; seguindo o formulário epistolar greco-romano, começa com o nome do remetente: “Paulo”, credenciado como Apóstolo por vocação divina e o irmão Sóstenes, seu colaborador.
Na passagem evangélica deste Domingo, tirada do Evangelho segundo S. João 1, 29-34, aparece-nos a figura de S. João Baptista, que apresenta Jesus: «Eis o Cordeiro de Deus, que tira o pecado do mundo». Depois de proclamar a necessidade de penitência e conversão, João Baptista aponta para Jesus, concrectamente a sua missão santificadora. Este título revela a pessoa e a missão de Jesus Cristo. O Filho de Deus é o Servo sofredor, Cordeiro pascal, “que tira o pecado do mundo”. Sevo sofredor quer dizer Cordeiro imolado, aquele que carrega sobre si os nossos crimes (Isaías 53,6), suporta os nossos sofrimentos (Isaías 53,4). Desde o começo da sua vida pública, Jesus já é o que há-de ser: Pastor que se fez Cordeiro, Servo que se fez manjar. Assim se torna luz das nações, como se refere Isaías na primeira leitura. “Eu sou a luz do mundo”. No seu rasto luminoso caminham todos os povos. Ao clarão da sua face conhecemos todas as coisas.
“Vi o Espírito Santo descer do Céu”, refere o Evangelho. A sua missão é mostrar Jesus, torná-lo visível até ao fim dos tempos. Para isso desceu ao Jordão e desceu depois sobre a Igreja no Pentecostes, investindo-a e sagrando-a para a mesma missão de Servga e de Cordeiro. É a Igreja que leva hoje a salvação de Jesus Cristo até aos confins da terra, acolhendo em seu seio todos os sobreviventes de Israel, como salienta a primeira leitura. À imagem de Jesus Cristo, a Igreja resplandece como luz das nações e Cordeiro imolado, que reúne em banquete os filhos de Deus dispersos.
Como a Igreja e na Igreja, Jesus Cristo continua a oferecer-se sobre o altar, exercitando o seu ofício libertador. Pela Eucaristia, a Igreja oferece o Cordeiro de Deus, feito vida dos homens, coração dio mundoi E o fogo do Espírito continua sempre a passar, consumando o sacrifício.
“Eu vi e atesto”, refere S. João Baptista no Evangelho. Também o cristão é testemunha do que viu e ouviu, do que tocou na fé e na experiência da vida. Escolhido e consagrado pelo Baptismo, vai ao mundo mostrar a sua eleição, como testemunha de Jesus Cristo, instruído pelo Espírito Santo, que nele foi derramado e nele habita. A missão do cristão é guardar-se do pecado e transmitir a luz. Fomos investidos na missão de sermos santos. Os nossos trabalhos e sofrimentos, unidos a Jesus Cristo, transforman-nos em oblação pura e cordero imolado, para tirar o pecado do mundo.
Mas o testemunho de Jesus Cristo dá-se e vive-se em comunhão. Vams ser santos e ser luz “com todos os que inviocam o nome de Nosso Senhor Jesus Cristo”, conforme diz a segunda leitura. O nosso viver de cristãos é gesto que O aponta, luz que O anuncia. Não impeçamos a actuação do Espírito Santo
A Virgem Santa Maria nos obtenha a força para dar testemunho de seu Filho Jesus; para O proclamar com alegria, com uma vida livre do mal e uma palavra cheia de fé, maravilhada e grata.
Diácono António Figueiredo
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