Reflexão à Liturgia da Palavra da Missa do Dia do Natal do Senhor
Alegremo-nos! Nasceu no mundo o nosso Salvador. Pastores, Anjos e estrelas viram a sua glória, manifestada num Menino recém nascido. Só não O reconhece quem não tiver lugar para Ele. Com Jesus Menino nasce o homem novo, reclinado e envolvido no mesmo mistério de amor e aparências. Um novo mundo começa, instaurado na unidade de Jesus Cristo, como Cabeça e destino. O Filho de Deus fez-se “filho do homem”, herdeiro da nossa fragilidade, construtor da mesma história. Esvaziou-se de grandezas e divinos atributos para ligar o seu destino à nossa liberdade e caminhos imprevistos. Deus quis fazer-se homem, assumindo a nossa condição, para que, tal como o fermento introduzido na massa, nos divinizar e fazer crescer. A expressão natural e perfeita compreensão entre Deus e os homens é fragilidade e ternura.
No ambiente em que vivemos, parece-nos que o cristianismo tem cada vez menos influência na vida das pessoas e instituições. Depois de tantas infidelidades que cometemos, não será que Ele nos põe de lado, fazendo que o cristianismo floresça noutras regiões do mundo? O nascimento do Salvador vem repetir-nos que Deus está connosco para nos salvar e nunca nos abandonará, sejam quais forem os nossos pecados.
Isaías, numa visão profética, muitos séculos antes do nascimento de Jesus, canta a beleza do Redentor, “nos pés do mensageiro que anuncia a paz, que traz a boa nova, que proclama a salvação”. Ele vem ao nosso encontro para nos libertar da escravidão do pecado e nos oferecer uma alegria e felicidade sem fim. Disto nos dá conta a primeira leitura tirada da profecia de Isaías 52, 7-10.
Deslumbrado profeticamente com a vinda do Salvador, o salmista entoa um hino de louvor ao Altíssimo. Entoemos também nós este hino de louvor ao nosso Deus, porque já temos entre nós o Salvador do mundo. Para Salmo Responsorial é proposto o Salmo 97 (98), 1.2-3ab.3cd. 4.5-6
Na introdução da Epístola aos Hebreus, o autor sagrado faz um resumo da História da Salvação, para a coroar com a vinda de Jesus Cristo. Depois de o Pai ter revelado aos homens muitas vezes e de muitos modos, enviou-nos o seu Filho feito Homem, como Sua Palavra, última e definitiva. A Epístola aos Hebreus é sem dúvida, o célebre escrito doutrinal e exortatório, começa com um prólogo solene que nos situa, sem rodeios, perante a suma dignidade da pessoa de Jesus Cristo, à semelhança do prólogo do Evangelho de S. João. Começa por mostrar que é n’Ele que o Pai nos fala e se revela de modo exaustivo e definitivo, em contraste com toda a revelação anterior, fragmentária, variada e feita numa fase da História da Salvação. A segunda leitura da Missa do Dia do Natal do Senhor, é da Epístola aos Hebreus 1, 1-6.
Acompanhemos S. João Evangelista na contemplação do Verbo de Deus que se fez um de nós por amor, para nos salvar. A leitura evangélica de hoje, S. João 1,1-18, é o prólogo do IV Evangelho, que constitui a chave para uma profunda compreensão de toda a obra do discípulo amado e da Pessoa adorável de Jesus Cristo: Ele é o Verbo incriado, o Deus Unigénito que assumiu a nossa condição humana e nos oferece a possibilidade de sermos filhos de Deus.
O Verbo, segunda pessoa da Santíssima Trindade, existe em Deus desde sempre e é Deus. Vemos que Ele, a Palavra, se fez carne e S. João legou-nos este magnífico hino. Assim sabemos quem Ele é, que Ele existe e O devemos amar, porque é Deus e Deus é amor, Amor eterno e incriado do qual dependemos. É esse que adoramos e Esse a quem dobramos o joelho, é a Esse Deus que referimos as virtudes teologais. Afirmamos ainda a nossa dependência como criaturas contingentes que aparecemos e desaparecemos; Ele é eterno e absoluto, não depende de ninguém; a nós cumpre-nos, como toda a criação, dar-Lhe glória: agradar, pedir e louvar, em gratidão diária de filhos e filhas pobres e humildes.
Ele vence o poder das trevas dando-nos o exemplo de como lutar contra todas as desordens para nos situarmos um dia junto de Deus como Ele: o Verbo era Deus e estava junto de Deus. Tudo foi criado por meio d’Ele. Ele vence o poder das trevas. Ilumina todo o homem, veio ao mundo e os seus não o receberam. Ajoelhamos e levantamos as mãos diante d’Ele em pedido de socorro, batemos no peito porque somos pecadores que necessitam de perdão para a multidão de pecados que nos antecede. Quem se prostra de joelhos no chão, reconhece que diante de Deus não é mais que pó.
“E o Verbo se fez carne e habitou entre nós”. Há presença pessoal e tangível de Deus entre os homens, expressa numa dupla imagem: põe a Sua tenda no mundo como um nómada; e nele se oculta a glória de Deus como antigamente na nuvem; só o Filho é que nos revelou Deus Pai, a quem jamais ninguém viu.
Vivemos para aduzirmos como testemunho a nossa fé; e como João Baptista dar testemunho da Luz que a todos ilumina. Aproximemo-nos da Virgem Maria e com Ela contemplemos a Jesus Cristo, que na pobreza do presépio também nos acolhe com simpatia na paz de um sorriso.
Diácono António Figueiredo
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