
Reflexão à Liturgia da Palavra do XXXIII Domingo do Tempo Comum Ano C
Aproxima-se o fim do ano litúrgico e mais uma vez, levado no tempo, passou Jesus Cristo entre os homens. A história é a passagem do Senhor na vida, manifestação da sua glória e pensamento. Só ao fim se verá bem e podemos ler os acontecimentos na totalidade do seu projecto. O Templo de Jerusalém que se constrói é imagem do templo que se termina. O fim do mundo não quer dizer ruína ou catrástofe, mas acabamento e plenitude. Nada se destrói; tudo se transforma.
Muitas vezes sonhamos com um mundo melhor, onde haja mais lealdade, mais compreensão e maior amor entre as pessoas. Qeremos que o Senhor intervenha para mudar tudo, menos na nossa vida. Mas Ele quer iniciar esta renovação, a começar pelo interior de cada um de nós. Estaremos nós dispostos a permiti-lo? Os santos que começaram “revoluções” no mundo, começaram por mudar o seu coração, os seus pensamentos, gestos e atitudes, numa entrega total e generosa ao Senhor. A Litúrgia da Palavra deste penúltimo dia do Ano Litúrgico, lança-nos este grande desafio.
“O Dia do Senhor, ardente como uma fornalha” – refere a primeira leitura, tirada da profecia de Malaquias 4,1-2a. Toda a mudança se faz a fogo. Temos de caminhar sobre brasas, que não nos permitem descansar em metas provisórias. Para chegar ao fim, temos de ser provados pelo fogo de lutas e contradições. Levantar-se-ão falsos profetas, enganando a muitos. “Sereis perseguidos”. O sofrimento por causa de Jesus Cristo e do seu Reino é o fogo que purifica. Se o mundo te persegue é porque te reconhece por testemunha de Jesus Cristo. Sofrerás incompreensão de parentes e amigos, mas ao fim “nascerá o sol da justiça”, como refere a primeira leitura. A vida traz a dor purificante e necessária para podermos entrar na glória. Só poderá ser salvo quem passar pelo fogo.
A vinda do Senhor não é motivo de tristeza, nem de medo, mas de alegria verdadeira, porque Ele vem para nos salvar. Façamos do salmo de meditação uma oração constante, a implorar a vinda do Senhor. A Liturgia propõe para Salmo Resposorial o salmo 97 (98) 5-9.
Os cristãos de Tessalónica deixaram-se enganar por falsas notícias de que o fim do mundo estava próximo e muitos aproveitaram este pretexto para se entregarem a uma vida preguiçosa. A resposta de S. Paulo, na segunda carta aos Tessalonicenses 3,7-12, que nos aparece como segunda leitura, é contundente: “Quem não quer trabalhar, também não deve comer”. A proximidade da vinda do Senhor torna-nos diligentes no trabalho, alegres na esperança. Pelo trabalho completamos a obra da criação e da redenção, unidos a Jesus Cristo e ao Pai. Cumprindo o dever, completamos os tempos e fazemos crescer a seara para a messe.
“Eu vos darei palavras e sabedoria” – diz-nos o Evangelho deste Domingo, proveniente de S. Lucas, 21,5-19. A construção da história é conduzida pelo Espírito Santo, que tudo reduz numa história de amor. O Evangelho é optimista. Passa hoje pelo mundo em convulsão um vento de certezas e esperanças. É o Espírito Santo, trazendo a resposta adequada, discernida a fogo. “Não fiqueis aterrados”.
“Mas não será logo o fim”, adverte Jesus no Evangelho. A ressurreição de Jesus Cristo inaugura os últimos tempos. Em Jesus Cristo se tocam o princípio e o fim, n’Ele se encarnam e confrontam os sentidos da história e as contradições da vida. A dor humana é o esforço final, dores de parto, donde vai nascer a humanidade nova. Depois de cada um dos meus esforços e lutas, ainda não é o fim. Há sempre uma meta para além, mais um esforço a fazer todos os dias. O Dia do Sanhor já chegou;; vivemos na sua luz. Cada dia que passa é o dia dio Senhor, dia de juizos e decisões, de lutas e mortes, fragmento que integra a plenitude do Grande Dia. “Estai preparados”.

“Negociai até que Eu venha”. (S. Lucas 19,13). Que a bem-aventurada Virgem Santa Maria, pela sua materna intercessão, ampare o nosso caminho diário de fé, seguindo o Senhor que guia a história.
Diácono António Figueiredo
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