DEUS DE VIVOS

Reflexão à Liturgia da Palavra do XXXII Domingo do Tempo Comum Ano C

O dinamismo da fé alimenta-se na certeza da nossa futura ressurreição. Foi a esperação na ressurreição que fez os mártires de todos os tempos. Só podemos dar a vida, seguros de receber outra melhor. No início da celebração deste Domingo, renovemos diante de Deus o desejo de O receber, Ele que é o Pão e o penhor da vida eterna, porque neste Domingo somos convidados a mudar de vida, em ordem a podermos, com fé em Deus, a esperar na vida que nos é oferecida.

Na primeira leitura, tirada do segundo livro dos Macabeus 7, 1-2.9-14, narra a atitude de sete jovens macabeus e sua mãe, que morrereram por serem fiéis à sua fé. São para nós um testemunho de que é possível permanecer fiéis a Deus e à Sua Igreja, mesmo diante de tantas dificuldades, dentro e fora da Igreja, que nos assaltam o ânimo e o coração. Apoiemo-nos na esperança da vida eterna.

Nesta vida desejamos sempre mais, ainda não nos sentimos cheios. No entanto, há-de chegar o dia em que, no Céu estaremos saciados, quando em nós se cumprir a bem-aventurança da pureza do coração para ver a Deus. Disto nos fala o Salmo Responsorial deste Domingo, Salmo 16 (17), 1.5-6.8b.15.

Na segunda Epístola de S. Paulo aos Tessalonicenses 2, 16-3.5, o Apóstolo revitaliza a nossa fé com o convite à firmeza na fé e pela caridade, aguardando a vinda gloriosado Senhor. “Aguardem a Cristo com perseverança”, refere S. Paulo na segunda leitura. A vida cristã consiste em aguardar na fé a manifestação gloriosa dos filhos de Deus. Contra nós se levanta este mundo saduceu, material e sensível. Só permanecendo firmes na fé, poderemos superar a sedução da matéria. Pela fé, enfrentamos renúncias e batalhas e levamos ao pleno cumprimento o nosso compromisso baptismal. Implicada nas relações terrenas anda oculta a Jerusalém celeste, que demandamos na fé e na esperança. Aquela que esperamos já está no meio de nós. Em tudo o que vivemos e fazemos, há um germe de ressurreição.

Deus, em Jesus Cristo, quis identificar-se com a natureza humana para a elevar pela Sua graça e assim nos revela que a morte física e espiritual já não têm a última palavra na nossa vida, pertencendo esta a Ele que nos oferece a vida para além da morte. “Todos vivem” diz-nos o Evangelho deste Domingo tirado de S. Lucas 20, 27-38. A Palavra de Deus revela-se na sucessão dos tempos, com divina pedagogia. Foi na época de grandes perseguições que o Espírito Santo enraizou no Povo de Israel a esperança da ressurreiçao. Não é fácil acreditar na ressurreição e por isso Jesus vem em nossa ajuda. Se Moisés chama ao Senhor, Deus de Abraão, de Isaac e de Jacob, quer dizer que “não se trata de um Deus de mortos, mas de vivos”. Os Patriarcas estão vivos e permanecem diante de Deus. O Deus vivo não se compraz na morte, mas em dar vida. Se tivessem morrido para sempre, a sua esperança teria sido ilusão, a aliança com Deus não passaria de engano. Porque a aliança era definitiva, a sua vida continua além da morte. Vivem na cidade, esperada na fé, onde a morte não existe (Apocalipse 21,4). A prova máxima da ressurreição é Jesus Cristo ressuscitado. Se não há ressurreição, também Cristo não ressuscitou, refere S. Paulo na primeira Epístola aos Coríntios 15,13.

“Deus de vivos”, assim O revela Jesus no Evangelho. Não há cristianismo sem ressurreição. O facto da ressurreição de Jesus Cristo traz-nos a certeza da nossa própria ressurreição. Só ressuscitando nos podia dar a vida nova, à imagem do seu Corpo glorioso. Ergue-se dentro de nós esta força insuperável, enraizada no mais profundo do ser humano. A ressurreição futura já a vivemos agora, contida em limites, que detêm o seu esplendor e plenitude. Na esperança já somos ressuscitados.

“Tornam-se filhos de Deus”, continua o Evangelho. Jesus Cristo ressuscitado deu-nos a vida nova. Agora o Pai, olhando para nós revê-se no Filho e reconhece em nós o mesmo jeito de ser, o mesmo tom de voz. Deste divino consórcio da natureza e da graça nasce o homem novo, geração santa e eleita. Ressuscitados com Jesus Cristo, tornamo-nos participantes da família de Deus. “São como Anjos”. Como eles, teremos como único ofício louvar e adorar. Vendo a Deus face a face, viveremos o amor, sem intermédios e sem figuras.

A Eucaristuia é a celebração da ressurreição. Por Cristo e em Cristo todos já ressuscitamos. Celebramos na Eucaristia a grande nova da nossa ressurreição e partilhamos a esperança numa nova humanidade.

Que a bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a viver cada dia na perspectiva do que recitamos na parte final do Credo: «Creio … na ressurrurreição da carne e na vida eterna»

Diácono António Figueiredo

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