UM HOMEM CHAMADO ZAQUEU

Meditando a Liturgia da Palavra do XXXI Domingo do Tempo Comum Ano C

Foi um pecador público que Jesus escolheu para O receber em sua casa. Hospedou-se na vida de Zaqueu e hospedou-se na minha. A condição é reconhecer a minha “pequena estatura”. Pecado e graça andam à porfia, mas a graça “corre à frente”e chega sempre primeiro. Zaqueu recorda-nos a grande necessidade de querermos procurar a Deus, de nos fazermos visíveis e nunca darmos por perdida a obra da nossa redenção, porque esta não é nossa tarefa, mas sim do Senhor e Ele quer estar connosco, para que não vivamos como filhos bastardos, mas como filhos muito amados.

Deus, como bom Pai, indica-nos sempre o caminho da verdade, com paciência para os seus filhos e sem exasperar, para que saibamos sempre tornar à casa paterna e receber os seus sábios conselhos. Isto nos relata a primeira leitura, tirada do livro da Sabedoria 11, 22-12,2.

Para Salmo Responsorial , a liturgia deste Domingo sugere o salmo 144 (145) 1-2.8-9.10-11.13cd-14. Ao reconhecer as misericórdias de Deus, reconhecemos a Sua presença junto de nós.

S. Paulo exorta-nos a permanecer na misericórdia de Deus e a viver como filhos que escutam os conselhos paternos. Isto nos relata a segunda leitura proveniente da Epístola de S. Paulo aos Tessalonicenses 1, 11-2,2.

O Evangelho é de S. Lucas 19, 1-10. O Senhor Jesus convida-nos à conversão, deixando os subterfúgios e a vergonha do pecado para deixarmos transparecer em nós a luz da graça divina.

“Esforçava-se por ver Jesus” – relata o Evangelho. Era desejo que vinha de longe e tinha raízes fundas na misericórdia de Deus, que não odeia nada e que de todos se compadece (refere a primeira leitura). É Jesus que vem de longe ao encontro de Zaqueu, acordando nele o desejo de O ver e escutar. Tudo mudou naquela hora. Passou à porta de muitos, mas poucos se abriram ao seu apelo. A semente da graça germina onde menos se espera. Disfarçados de pecado, ocultam-se “filhos de Abraão”, adoradores em espírito e verdade. Entre o pecado e a graça há um secreto convénio, ditado e gerido pelo amor misericordioso. Em resposta às faltas do ser humano, Deus disfarça e fecha os olhos para que deles se arrependam. (1.ª leitura).

Não é fácil ver Jesus. “Por causa da multidão”, esclarece o Evangelho. Todos somos de “pequena estatura”, impedidos pela multidão da preocupações terrenas. “Multidão” são os critérios mundanos, que deformam a visão das pessoas e da vida e ocultam o rosto do Senhor. Para ver Jesus é preciso isolar-se da “multidão” dos apegos falsos para subir ao encontro d’Ele. Da renúncia e oração vem a força que nos eleva a vê-lo passar. Quando subimos em oração, escutaremos as surpresas que Deus tem para os “pequenos” e humildes, convites de graça, que escandalizam sábios e “perfeitos”.

Deus dá sempre mais do que lhe pedimos. “Preciso de ficar hoje em tua casa” diz Jesus a Zaqueu. Zaqueu só O queria ver; mas Jesus queria salvar. “Não vim chamar os justos, mas os pecadores” (Evangelho de S. Mateus 9,13). “Não abandona os que caem, mas corrige-os brandamente para que se apartam do mal”, refere a primeira leitura. Como Bom Pastor, conhece Zaqueu pelo seu nome. “Zaqueu, preciso de ficar em tua casa”. É o amor que O obriga. Havia outras casas embandeiradas em presunção, mas Jesus não entrou. Humildade e pequenez são os instrumentos de que Deus precisa para depois fazer maravilhas. Não há maior maravilha do que Deus entrar-nos em casa e fazer de nós a sua morada. “Desce epressa”. O amor tem pressa de arder. Correr à frente, descer depressa, são exigências do amor para chegar primeiro, recuperando desvios e atrasos.

Ao receber Jesus, Zaqueu deixa-se invadir pelos critérios duma nova justiça. “Vou dar aos pobres metade dos meus bens”. Pobreza é sinal do novo Reino. Quando Deus nos entra por uma porta, sai o dinheiro por outra. Não há lugar para dois senhores. Repartir bens, dar-se a si, é sinal de salvação e vida nova. Quando nos dermos aos outros, conheceremos a alegria de ser dom. Não há maior felicidade do que dar-nos e partilhar o dom de Deus. Assim nos parecemos com Ele.

Gostava de ser Zaqueu, o homem das contas largas. Já não se contenta com ser feliz sòzinho, mas quer fazer felizes os outros. Ao sentir-se amado, quer sentir a alegria de amar também. Andam Zaqueus perdidos na multidão à espera de alguém. Não julguemos. Não condenemos”. Um olhar meu, um gesto de acolhimento e entraria a salvação naquela casa.

Que a Virgem Maria nos obtenha a graça de sentir sempre o olhar misericordioso de Jesus sobre nós, para que possamos encontrar com misericórdia aqueles que cometem um erro, para que também eles possam acolher Jesus, que veio “procurar e salvar o que estava perdido”.

Diácono António Figueiredo

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