
Reflexão à Liturgia da Palavra do XXIX Domingo do Tempo Comum Ano C
Estamos persuadidos da necessidade de orar sempre sem desanimar? Os eleitos de Deus chamam por Ele, noite e dia. É sempre tempo para orar. Não se vai à oração por sentir gosto, mas para dar gosto. O importante da oração não está em rezar muito, mas em rezar sempre.
Oração não é ocupação dos tempos livres, mas ofício de todas as horas. Não rezo porque tenho tempo, mas porque tenho necessidade. Por isso, a oração é tarefa sempre a fazer, nunca terminada. Se é vida, nunca se pode interromper. Pelo trabalho unido à oração perseverante se alcançam as vitórias no serviço de Deus e das pessoas. Temos de ser Moisés que ora e Josué que luta, como refere a primeira leitura. É a oração que sustenta o mundo; são os dez justos que salvam a cidade.
Durante uma batalha do Povo de Deus com os Amalacitas, narrada na primeira leitura, tirada do livro do Êxodo 17, 8-13, Moisés, no monte, manteve os braços abertos levantados em oração e obteve do Senhor a vitória. Nós venceremos todas as batalhas se soubermos levantar os braços em oração, muitas vezes, pedindo ajuda.
O Senhor coloca nos nossos lábios, como resposta à interpelação da primeira leitua, um salmo que proclama a nossa confiança no Senhor. Nas horas de incerteza e provação, recordemos a sua mensagem: “O Senhor te defende de todo o mal, o Senhor vela pela tua vida. Ele te protege quando vais e quando vens, agora e para sempre”. Disto nos recorda o Salmo Responsorial, Salmo 120 (121) 1-8.
Na segunda leitura, tirada da segunda Epístola de S. Paulo a Timóteo 3, 14-4,2, o Apóstolo recomenda ao seu discípulo que permaneça fiel na fé recebida. A ordem que lhe dirige é também extensiva a cada um de nós: “Proclama a Palavra, insiste a propósito e fora de propósito, argumenta, ameaça e exorta, com toda a paciência e doutrina”.
A Palavra de Deus ilumina a nossa vida, dá-lhe sentido e enche-nos de alegria e optimismo.. “Orar sempre, sem desanimar” – refere o Evangelho deste Domingo tirado do evangelista S. Lucas 18, 1-8. A oração exige perseverança. Pesam-nos os insucessos,, escandalizam-nos as aparentes demoras de Deus e vem a tentação de deixar cair os braços. Êxitos e pressas são o tributo da nossa humana fragilidade, que retarda os planos de Deus. Deus quer a nossa insistência para vir “fazer justiça aos seus eleitos”. Quando chamarmos por Ele, noite e dia, veremos a solicitude de Deus encher-nos a casa com a abundância dos seus bens. São as nossas ambições e desistências que O impedem de dar tudo, na sua hora. A oração perseverante esconde o segredo da vitória. Se desanimo torno inútil o esforço da caminhada, caindo à beira da meta. Era só insistir mais uma vez. Perseverar é um gesto da audácia dos humildes, o segredo dos fortes. Quem desfalece e olha para trás, não é apto para o Reino dos Céus.
No Evangelho, Jesus faz-nos uma interrogação: “O Filho do homem encontrará fé?”. É por falta de fé que desanimo na oração. Ponho a sua eficácia em frutos tangíveis, espero o Senhor na lógica dos seus caminhos. E Deus não está encerrado nos caminhos. À luz da fé se iluminam os acontecimentos e o invisívelo aparece. Não há esperanças nem distâncias, mas a vontade de Deus, que se faz presente a toda a hora. Oração e apostolado têm raízes na fé, exigindo recomeçar todos os dias. Todo o deserto é lento e esconde cansaços e miragens. As demoras do Reino e do crescimento de Jesus Cristo são o tempo previligiado da oração e da fé. Não se pode resistir na luta sem perseverar na oração. Resolver problemas é rezá-los. A Eucaristia é o lugar por excelência da oração perseverante. Nela Jesus Cristo se oferece ao Pai, “sempre vivo a interceder por nós” (Epístola aos Hebreus 7, 25). O gesto de Moisés no monte, anuncia o gesto perseverante de Jesus Cristo sobre o altar. Passam pelo altar todos os clamores e lutas e dele vem toda a eficácia para a vida da Igreja e do mundo. É a perseverança de Jesus Cristo que em nós reza e resiste.
A Eucaristia é a perseverança de Deus e dos homens, o monte das mãos erguidas.

Maria, Mãe de Jesus permanecia em oração com os Apóstolos. Ela, que é a Senhora da oração, nos alcance junto de seu Filho Jesus, a graça de termos este gosto pela oração que animou as primeiras comunidades cristãs. Maria, Mãe da esperança e Mãe da oração, rogai por nós.
Diácono António Figueiredo
Deixe uma Resposta