LÂMPADAS ACESAS

Reflexão à Liturgia da Palavra do XIX Domingo do Tempo Comum, Ano C

A vida cristã é vigília de fé, estado de alerta, à espera do Senhor que virá. Caminhamos na noite, a celebrar no deserto, alianças e sacrifícios, animados pela esperança duma promessa. Na obediência da fé, esperamos, como Abraão, a posse da cidade, “de que Deus é arquitecto e construtor”, como refere a segunda leitura. Somos convidados a saber esperar com fé, o momento da chegada do Senhor à nossa vida. Ele manifesta-se nos momentos em que menos esperamos, mesmo no meio das obsuscuridades e dificuldades que porventura estejamos a passar. Vivamos cada dia da nossa vida como se fosse o último. Com este propósito, entremos dentro de nós próprios e procuremos, com atitude filial, reconhecer onde erramos e o que teremos de modificar na nossa vida, para aguardarmos em jubilosa esperança, a última vinda de Jesus Cristo.

A primeira leitura, tirada do Livro da Sabedoria 18, 6-9, lembra como Deus cumpriu a promessa que tinha feito ao seu povo de o libertar da escravidão do Egipto.

No cântico de meditação, Salmo Responsorial, respondemos à mensagem contida na primeira leitura e exclamamos agradecidos: «Feliz o opovo que o Senhor escolheu para sua herança. Salmo 32 (33), 1.12.18-19.20.22.

Tirada da Epístola aos Hebreus 11, 1-2.8-19, a segunda leitura celebra a fé dos homens do Antigo Testamento, concentrando a atenção em Abraão «pai dos crentes» e Sara, sua esposa, que acreditaram e confiaram na Palavra de Deus, sabendo esperar contra todas as evidências.

A tarefa do discípulo de Jesus é testemunhar sem desanimar, continuando a acção do Mestre. Disto nos dá conta o Evangelho deste Domingo, tirado de S. Lucas 12, 32-48.

“Tende as lâmpadas acesas” – refere o Evangelho.Fé é a lâmpada que brilha num lugar escuro, enquanto não raiar o eterno dia (2.ª Epístola de S. Pedro 1, 19). À sua luz despertam as sentinelas da noite, vigiando as entradas e as saídas que a vida tem.”Fé é a garantia dos bens que se esperam, a prova de que existem as coisas que não se vêem” (2.ª leitura). As coisas são para além das aparências. A fé vai adiante a abrir caminhos, percursora do Reino que o Pai nos dá. Fé é o meu país novo, onde mudaram pesos e medidas e até os absurdos libertam. Vive em êxodo constante, em lebertação de exílios e cativeiros. Obedientes à Palavra, Jesus Cristo conduz-nos para a verdade definitiva, onde não há noites nem estrelas, “porque a lâmpada é o Cordeiro” (Apocalipse 21,23).

O Evangelho refere “Com os cintos apertados”. A vida da fé tem vestes de trabalho, porque fé sem obras é morta. Exige o despojo activo dos sentidos e razões, sempre em opção, sempre na encruzilhada. Fé é a divina contestação frente às realidades terrenas e sensíveis. No caminho da fé há sempre um Isaac a imolar; cortar amarras, queimar ilusões. Sou intendente dos bens de Deus que há em mim e nos outros. Quando o Senhor vier, tenho de estar ao serviço, dando-me a cada um como sua ração de trigo.

“O Senhor chegará” (Evangelho) Nunca falta ao encontro que o seu amor nos marcou. Mesmo que pareça tardar, chega sempre na hora exacta. Para Deus nunca é tarde, não há antes, nem depois. Vive no eterno agora, onde o amor tudo faz ser e acontecer. É Deus que marca o encontro e faz soar a hora e não as minhas pressas e impaciências. Os atrasos de Deus são acertos de amor. O Senhor virá na Palavra revelada e na pessoa dos seus representantes. Cada acontecimento no-lo traz e todo o irmão O revela. Permanece connosco todos os dias na celebração do mistério da sua morte e ressurreição.

Deus vem como um ladrão, à hora que eu não sei. Por isso tenho de estar vigilante, cumprindo a sua vontade, fiel administrador dos seus desejos, solícito de tudo e de todos, servo de todas as horas.Tudo o que é importante acontece-nos de repente. Os imprevistos dos homens são as previsões de Deus, corrigindo os nossos juízos e planos incompletos. Onde tudo estiver calculado, tudo previsto, não fica espaço para Deus agir. É no risco da fé, desarmados de tudo, que Deus aparece e constrói a sua obra. Não há seguros de vida, mas o jogo e a audácia de crer e de esperar. Adoreos o Deus vivo e não um cérebro electrónico. O imprevisto é o forte de Deus..

A grande recompensa é o Senhor. Aos servos que assim O esperam, há-de sentá-los à sua mesa e passará, a servi-los. O nosso tesouro é Jesus Cristo; põe n’Ele o teu coração.

A Virgem Maria, que do Céu vigia sobre nós, nos ajude a não esquecer que aqui, na terra, estamos apenas de passagem e nos ensine a preparar-nos para nos encontrarmos com Jesus que «está à dieita do Pai omipotente; de lá virá julgar os ivos e os mortos».

Diácono António Figueiredo

Deixe uma Resposta

Preencha os seus detalhes abaixo ou clique num ícone para iniciar sessão:

Logótipo da WordPress.com

Está a comentar usando a sua conta WordPress.com Terminar Sessão /  Alterar )

Imagem do Twitter

Está a comentar usando a sua conta Twitter Terminar Sessão /  Alterar )

Facebook photo

Está a comentar usando a sua conta Facebook Terminar Sessão /  Alterar )

Connecting to %s