
Reflexão às leituras da Liturgia da Palavra do XIII Domingo do Tempo Comum Ano C
Jesus e os seus discípulos sobem a Jerusalém para celebrar a Páscoa. À passagem do Senhor há corações que se fecham, indiferentes ao apelo de subir com Ele à festa. Caminhar é optar, subir é morrer. Ser cristão é viver em caminho, peregrino de Páscoas eternas, em busca de morte e ressurreição. Não nos devemos deter. É no caminhar que nos fazemos “caminho”. Cristão é aquele que escolheu Jesus Cristo e O segue. Jesus instruiu e deixou-nos mestres espirituais cujas palavras são guia para uma aliança assídua com Deus.
Na primeira leitura, tirada do primeiro Livro dos Reis 19, 16b.19-21, o profeta Elias, com um gesto simbólico, chama Eliseu a ser profeta, a obedecer à voz divina e a deixar as outras ocupações.
O Salmo Responsorial, Salmo 15 (16) 1-2a.5.7-11, afirma a confiança em Deus, a fideldade ao Senhor, único bem, a afeição pelos santos que O adoram e a repulsa contra as falsidades.
“Cristo nos libertou” – expressa a segunda leitura tirada da Epístola de S. Paulo aos Gálatas 5,1.13-18. Jesus Cristo veio ao mundo instaurar um novo Reino, onde a lei da liberdade é o código da aliança. A sua verdade liberta-nos e o seu sangue redime-nos. Seguir a Jesus Cristo é proclamação da verdadeira liberdade que exalta e compromete. Radicados n’Ele, somos libertados pela fé de toda a opressão de dúvidas e incertezas. Pela nossa pertença e semelhança com Jesus Cristo participamos plenamente da liberdade de Deus e nos tornamos semelhantes a Ele.
Na passagem evangélica deste Domingo, proveniente de S. Lucas 9, 51-62, Jesus toma a grande resolução: dirigir-se a Jerusalém. São muitos os seus ensinamentos e as suas máximas a contrastar com a atitude dos discípulos ao anúncio da paixão. A vida de Jesus é um apelo constante. Pela sua encarnação tornou-se cabeça da humanidade, pedra essencial na construção do mundo e da História. Quem O rejeitar nega-se a si mesmo. No seguimento de Jesus Cristo não há alternativa, mas a resposta radical, que nos faz comungar na mesma vida e destino. Escolher é amar. Seguir a Jesus Cristo é amor de preferência, que nos leva a deixar tudo sem condições. Quer ser na nossa vida a regra absoluta, que n’Ele nos transforma e unifica. Isto supõe atravessar desertos de incompreensões e resistências, que nos estorvam de subir a Jerusalém. No seguimento de Jesus Cristo, todos os caminhos passam pela cruz.
Levamos o tesouro em vasos frágeis. A liberdade tem limites que não se podem ultrapassar. Os direitos e a liberdades dos outros ditam regras de proceder, regulam comportamentos e liberdades. A linguagem da liberdade não argumenta com “fogo do Céu”. Somos filhos da liberdade e não “filhos do trovão”. O amor nos fará livres. É este o verdadeiro fogo do Céu, que queima todos os laços e nos faz caminhar na liberdade de Deus. “Ama e faz o que quiseres”, diz Santo Agostinho. Quando eu amar o próximo como Jesus Cristo o ama, serei livre e libertador. Se recuso perdoar aos outros, o prisioneiro sou eu. Queremos ser livres? Façamo-nos “servos uns dos outros”, como refere a segunda leitura.
“Quem olhar para trás …” – refere o Evangelho. É tentação permanente. Em resposta tenho de cortar pontes e retiradas, queimar carros e bois como Eliseu para responder à chamada, como refere a primeira leitura. Quem se der, que dê tudo, até mesmo a possibilidade de voltar atrás. Já não podemos voltar àquilo que deixamos, porque tudo consumiu o fogo que nos foi dado. Escolher é renunciar. Por isso, já não podemos ficar na resposta medíocre dos instalados, que dão por medida e põem condições. Não temos onde reclinar a cabeça. Só na cruz da vontade do Pai será o reclinar saciante e definitivo, consumando tudo.
O Espírito Santo nos dará um coração novo, o olhar em frente. Conduzidos por Ele, “corremos”, como o profeta Eliseu, a ser anúncio e missão.

Contemplemos a Bem-Aventurada Maria Santíssima. Humilde serva do Senhor. A Virgem é modelo de pessoa espirtual, plenamente livre, porque Imaculada, imune ao pecado e toda santa, dedicada ao serviço de Deus e ao próximo. Com o seu zelo materno nos ajuda a seguir Jesus, para conhecer a verdade e viver a liberdade no amor.
Diácono António Figueiredo
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