
Reflexão à Liturgia da Palavra do XII Domingo do Tempo Comum – Ano C
Muitos cristãos têm uma imagem desfigurada de Jesus Cristo. Para uns, é o Jesus sentimental nas dificuldades, dos conselhos nas horas difíceis; para outros é o Jesus dos grandes poderes nas situações existenciais; para alguns é o juiz legislador e promulgador de uma lei moral.
Em que Jesus acreditamos? A resposta é vital, porque a nossa fé n’Ele determina toda a nossa vida. A Liturgia da Palavra deste Domingo poderá ajudar-nos a interiorizar esta pergunta e dar-lhe resposta.
Não era a opinião dos outros que interessava a Jesus saber, mas a dos seus amigos e seguidores. É claro que para muitos, Jesus Cristo não passava dum boato ou vaga suposição. A maioria dos que O escutavam viam n’Ele apenas um Messias político, libertador de Israel do domínio dos romanos.
No texto da primeira leitura, tirada da Profecia de Zacarias 12, 10-11, apercebemo-nos da imagem do próprio Jesus Cristo, que nos amou e se entregou por nós.
O cântico de meditação, Salmo Responsorial, é tirado do Salmo 62 (63), 2-6.8-9. Neste salmo contemplamos a graça de Deus, bendizemos a nossa vida e exultamos a nossa união com Ele.
“Fostes revestidos de Cristo” – palavras de S. Paulo na segunda leirura, tirada da Epístola aos Gálatas 3, 26-29. Pelo Baptismo sepultámo-nos com Cristo para ressuscitar com Ele. Porque somos todos o mesmo Cristo, já não há distinções nem previlégios. A fé a todos iguala. O único previlégio é amar e ser amado.
“E vós, quem dizeis que Eu sou?” – Pergunta Jesus aos seus discípulos na passagem evangélica deste Domingo, tirada de S. Lucas 9, 18-24. Eis a questão. Jesus Cristo espera de mim uma resposta pessoal, que me leve a assumir uma decisão, um compromisso. Tenho de entar em relação íntima com Ele e aceitá-l’O como único necessário e única solução. Isto supõe conhecê-l’O intimamente na profundidade do seu mistério, para que mais O ame e O siga. Jesus Cristo não pode ser apenas para mim Aquele de quem se fala, Aquele de quem eu falo, mas tem de ser Aquele por quem eu vivo. Conhecer Jesus Cristo exige identificar-se com Ele, vivendo a sua mesma vida e mistério. O conhecimento de Jesus Cristo é sabedoria do coração. Não importa tanto saber defini-lo; o mais urgente é vivê-lo.
“O Messias de Deus” – confessa Pedro. O cristão é um seguidor de Jesus Cristo. Como Pedro, é chamado a dar razão à sua fé, saber em quem acredita. Tudo à sua volta o interroga e compromete, todos esperam dele a solução salvadora. A minha resposta leva à compreensão de Cristo. Cada um de nós tem de ser profeta, acrescentando um traço no seu rosto, até tornar visível o Cristo total. Vamos contemplando na nossa vida o que falta para o seu conhecimento e aceitação entre os homens. Quando Jesus Cristo for vida em nós, os homens dirão então quem Ele é. Ser cristão é ver pelos olhos de Jesus Cristo tudo o que não entendo, amar com o seu coração. Não sei a que me comprometo, mas sei a quem me confio. (2.º Espístola de S. Paulo a Timóteo 1,12).
“O Filho do homem tem de ser morto e ressuscitar” – salienta Jesus no Evangelho. Era este o “Messias de Deus”, mas não o Messias de Pedro e dos outros. Por isso, Jesus acrecentou que tinha de morrer e ressuscitar. Falta sempre ao “nosso” Cristo alguma coisa de cruz. Por mais que se explique fica sempre mistério, que não acabamos de entender. Jesus Cristo não se explica, mas aceita-se a ama-se. Só há um Jesus Cristo real; aquele que morreu e ressuscitou. Toda a vida de Jesus Cristo é anúncio da paixão.
No Evangelho, Jesus faz um desafio: “Se alguém quiser seguir-me”. Seguir a Jesus Cristo é ter a coragem de dizer “não” a si mesmo e tomar a cruz todos os dias. É preciso perder a vida para a salvar. Cristo veio inaugurar uma economia nova na qual o perder é ganhar e ganhar é perder. Agora para o cristão, todo o padecer é glória e todo o fracasso triunfo. Cada instante tem duas faces: por um lado crucifica e pelo outro lado nos exalta.
Ainda hoje, Jesus Cristo pergunta a cada um de nós: “Quem dizes tu que Eu sou?”. Acreditar em Jesus não significa apenas professar a fé num conjunto de verdades apreendidas quando se frequentou a catequese. Acreditar em Jesus Cristo é segui-l’O, partilhando o seu próprio destino, fazendo-se um com Ele. “Se alguém quiser vir comigo, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz todos os dias e siga-Me”.

O Senhor exige que deixe de centrar a minha vida em mim próprio e nas minhas preocupações; que tenha a coragem de a perder; que me empenhe diariamente em vencer as dificuldades, as provas e as seduções mundanas que me envolvem.
Diácono António Figueiredo
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