A DIVINA INTIMIDADE

Reflexão à Liturgia da Palavra do Domingo da Solenidade da Santíssima Trindade, ano C

O mistério da Trindade é a fonte donde nasce, o centro para onde converge todo o mistério de Cristo. Com a sua vida, morte e Ressurreição, Jesus Cristo revela-nos o Pai e o Espírito Santo. Criação e redenção, quanto existe e acontece, vem-nos por obra e graça das três Pessoas divinas. Tudo converge para a Trindade, para a sua glória e exaltação.

Igreja e vida cristã enraízam no mistério da Trindade. Pelo sacrifício de Jesus Cristo fomos enxertados em Deus e inseridos na sua vida e mistério. A intimidade de Deus veio-nos revelada num projecto de salvação. Ao dizer-nos o que queria, Deus revela-nos quem é.

A primeira leitura deste Domingo, tirada do Livro dos Provérbios 8, 22-31, apresenta a Sabedoria divina personificada, existindo eternamente em Deus e realizando com Ele, como sábio arquitecto, a obra da Criação. Os padres da Igreja reconheceram nestes versículos uma referência à Segunda Pessoa Divina, que com o Pai e o Espírito Santo chama à existência todas as coisas.

Deus cria por amor; mas de modo especial rodeia de amor todos os homens, imagem e semelhança do Criador e chamados a ser seus filhos. Disso nos dá conta o Salmo Responsorial, o Salmo 8, 4-9.

A graça baptismal, infundida nas nossas almas pelo Espírito Santo, inundou os nossos corações com a caridade. Na segunda leitura tirada da Epístola de São Paulo aos Romanos 5, 1-5, lembra aos cristãos de Roma que o amor de Deus que nos foi dado, torna-nos fortes na esperança.

Na passagem evangélica tirada de São João 16, 12-15, Jesus revela-nos que Deus é Trindade de Pessoas numa única natureza. Procuremos nós também criar laços de comunhão entre as pessoas por meio da caridade.

A História da Salvação confunde-se com a História de Deus. Fomos criados pelo Pai, remidos pelo Filho, santificados pelo Espírito Santo. O Espírito de Deus nos move e configura à imagem de Jesus Cristo e por Ele nos leva ao Pai.Toda a experiência da fé e vivência teologal, contemplação na acção, consistem na união íntima com o Pai por Nosso Senhor Jesus Cristo, movidos pelo Espírito Santo. Cada homem leva em si a imagem e semelhança do mistério incriado e tem a sua parte na História de Deus. 

Cada uma das Três Pessoas divinas diz relação às outras e por elas se define e compreende. Três relações e três rostos que reproduzem a mesma essência. O Pai é fonte, o Filho é causa, o Espírito Santo é dom. A vida em Deus é comunhão e diálogo, circulando eternamente de Pessoa em Pessoa. O Pai diz sempre Filho e o Filho diz sempre Pai e ambos em uníssono só sabem dizer Amor. O Pai é princípio sem princípio. N’Ele está a origem de todo o ser, a fonte primeira de toda a vida. D’Ele nos vem toda a paternidade que há nos céus e na terra. Querendo fazer de nós seus filhos, Deus revelou-se Pai. 

O Filho é o Verbo do Pai, a Palavra que nos transmite a sua vida e essência. É a sua imagem total, onde se revê e contempla. “Eu e o Pai somos um”. Aquele que eternamente foi gerado “Filho de Deus”, nasceu e foi-nos dado como “filho do homem”. Se o Verbo de Deus encarnou, foi para nos falar do Pai, a grande notícia que alegra a humanidade. A doutrina que prega é do Pai que O enviou (João 8,26). 

O Espírito Santo é o Amor Pessoal do Pai e do Filho. O Pai revê-se no Filho muito amado e do êxtase divino procede o Espírito Santo. O Espírito do Amor é o dom mútuo entre o Pai e o Filho, dom vivo e substancial. Por isso o Espírito Santo se revelou dom entre os homens. Exerce a missão trinitária de distribuidor de todas as graças, que Jesus Cristo nos mereceu e alcançou do Pai, fonte e princípio de todo o bem.

Mas o mistério distante fez-se em nós intimidade. O imenso e incompreensível cabe dentro de mim. Pelo Baptismo mora em nós a Santíssima Trindade, como seu templo votivo. Somos a família de Deus, seus filhos adoptivos, feitos participantes da mesma vida divina. A condição é amar. “Se alguém Me ama viremos a ele, e nele faremos morada” (João 14,23). Agora a nossa fidalguia vem de Deus. Deus em nós é a esperaça da glória, penhor de grandeza e vida eterna. 

Na sua humanidade dócil, a Virgem Maria fez-se serva do amor divino; acolheu a vontade do Pai e concebeu o Filho por obra do Espírito Santo. Nela o Todo Podetoso construiu para Si um templo digno d’Ele, fazendo do mesmo o modelo e a imagem da Igreja, mistério e Casa da Comunhão para todos os homens. Maria, espelho da Santíma Tridade, nos ajude a crescer no mistério trinitário

Diácono António Figueiredo

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