
Reflexão à Liturgia da Palavra do Domingo de Pentecostes – Ano C
Pentecostes é o complemento e a plenitude do mistério pascal. Há um vínculo essencial entre o envio do Espírito Santo e a Ressurreição de Jesus. “O Espírito Santo não tinha ainda sido dado a ninguém, porque Jesus ainda não ressuscitara” (S. João 7,39). A Páscoa antiga e a Aliança do Sinai são anúncio e figura da nova Aliança. O fogo do Sinai, em que Deus falava, desce de novo em línguas, na manhã de Pentecostes. Não há aliança que não se faça a fogo. O fogo é a linguagem de Deus, selo inconfundível da sua obra.
Uma narrativa altamente sugestiva e simbólica do acontecimento do Pentecostes, interpretada por S. Lucas, como dom de Deus ao povo da Nova Aliança, narrada na primeira leitura, tirada no Livro dos Actos dos Apóstolos 2, 1-11. É a festa da Igreja, o seu aniversário.
“Estavam todos reunidos”. O dia do Pentecostes foi o primeiro dia da missão redentora da Igreja. Estavam lançadas as estruturas da Igreja, mas faltava o sopro de vida que lhe desse alma, o fogo do Espírito que fosse amor.
“Sem o Espírito Santo, o Evangelho é letra morta; a Igreja é uma simples organização” (Atenágoras). O Espírito Santo na Igreja é a alma que lhe dá vida. D’Ele lhe vem a unidade do amor na diversidade de línguas. O que antes foi dispersão, tornou-se agora unidade pelo vínculo do amor que o Pai nos deu. O amor é a fala de todas as línguas, a força de construir, a pressa de ir ensinar. Na Igreja do Espírito, a unidade é graça e a diversidade também.
Com o Salmo Responsorial, Salmo 103 (104) 1ab.24ac.29bc.31-34, invoquemos o Espírito. Ele é o presente que Deus nos deu.
A segunda leitura proveniente da primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios 12, 23b-7.12-13, é um texto sobre a unidade e a diversidade, provocada pelo Espírito Santo.
“Fomos baptizados num só Espírito” – refere a segunda leitura. O Pentecostes é a festa de todo o cristão. Trazemos no coração a nova Aliança gravada a fogo. O Espírito Santo é a realidade e o sustento da vida de Deus em nós, a divina intimidade que perscruta essências e mistérios. Somos o templo de Deus onde o Espírito Santo reza e solta gemidos. Como um pai dá “coisas boas a seus filhos”, assim o Pai do Céu dá o seu Espírito àqueles que lho pedirem (S. Lucas 11,13). O Espírito Santo é “a coisa boa” que o Pai nos dá, gosto que sabe a tudo, dom que encerra todos os bens.
O dom do Espírito é fruto da Páscoa de Jesus, com bem o sugere a passagem evangélica deste Domingo, tirada de S. João 20, 19-23. “Também Eu vos envio a vós” – diz Jesus nesta passagem do Evangelho. A vinda do Espírito Santo inaugura o tempo da Igreja.
Vivemos agora no tempo definitivo, os últimos tempos. Tudo foi dito; tudo foi feito; só falta a cada um deixar-se arder no amor do Espírito Santo. Cada dia é Pentecostes na Igreja. Não há novos Pentecostes, mas o sopro constante do Espírito. O Espírito de Deus sopra na brisa suave do magistério ordinário e sopra no vento impetuoso de moções radicais, que enterra os mortos e derruba os velhos edifícios. A Igreja é do Espírito. É Ele que levanta o vento e impele a barca e a faz chegar ao outro lado, nas horas de Deus.
Pela efusão do Espírito, Jesus continua presente e vivo no meio de nós. A sua última vinda começa agora na descida do Espírito Santo, que vem inaugurar os últimos tempos. Ele é a divina saudade que nos prende ao Pai e ao Filho, a encher ausências e distâncias. Vivendo em nós, renova a nossa vida pelo perdão dos pecados. O Espírito Santo nos deu o vestido novo que nos introduz na festa, a comer o manjar do amor misericordioso.
O mundo está em festa, celebrando a nova criação. Como no princípio, paira o Espírito de Deus sobre a face da terra. O Pentecostes inaugura a nova humanidade, onde tudo converge para Jesus Cristo ressuscitado. O Espírito Santo é o discreto animador do grande teatro do mundo. Oculto entre bastidores de névoas e tempestades, vai marcando a marcha da humanidade e dispondo os acontecimentos para o Grande Dia.
Diácono António Figueiredo

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