FIGUEIRAS BRAVAS

Neste tempo favorável da Quaresma que estamos a viver, o Senhor convida-nos à conversão. Cada um de nós deve sentir-se interpelado por esta chamada, corrigindo algo na própria vida, no modo de pensar, de agir e de viver as relações com o próximo. Ao mesmo tempo devemos imitar a paciência de Deus, que confia na capacidade que todos têm de se poderem “reerguer” e recomeçar o caminho. Deus é Pai e não apaga a chama ténue, mas acompanha e ampara quem é débil, para que se fortaleça e ofereça o seu contributo de amor à comunidade.

A primeira leitura é do Livro do Êxodo 3,1-8a.13-16. No diálogo de Moisés com Deus, ele reconhece a missão divina que lhe estava confiada e que Deus já preparava no seu coração, pelo desejo de servir o povo de Deus, esmagado pelo sofrimento que lhe era imposto pelos egípcios. É na relação pessoal com Deus e só aí, que Moisés percebe que era chamado a ser Seu instrumento para libertar o povo do Egipto, levando-o da terra da escravidão para a terra que Deus prometeu.

O Salmo Responsorial, proveniente do Salmo 102 (103) 1-4.6-8.11, diz-nos que Deus não tinha porque se revelar e manifestar ao homem. A doação de Deus a cada um de nós é fruto do seu amor de Pai. Este é um salmo de acção de graças por tudo o que Deus preparou para nós; não esqueças nenhum dos seus benefícios.

A segunda leitura é da 1.ª Epístola de S. Paulo aos Coríntios 10, 1-6.19-12. São Paulo exorta ao primado de Cristo na nossa vida pessoal. Diante da sua passagem pela nossa vida, fazendo o bem que nos salva; não estejamos desatentos e adiramos de todo o coração, sem soberba e sem reservas.

Estamos já no terceiro Domingo da Quaresma, a meio deste caminho para a Páscoa. Como está a nossa conversão desde o início deste tempo de mudança de vida am Jesus. Não nos esqueçamos que a graça que Deus nos quer dar é sanante e santificante, ou seja, cura os nossos pecados e santifica-nos para que cresçamos para Deus. Arrependamo-nos e deixemos que Deus nos santifique pela oração e sacrifício que nos ajudam a voltarmo-nos para Ele. Disto nos dá conta o Evangelho deste Domingo, tirado de S. Lucas 13, 1-9.

Vinha eleita, figueira mansa foi em primeiro lugar o povo da Israel, transplantado em amor, enxertado em alianças. “A maioria deles não agradou a Deus” – sublinha a segunda leitura. Tirado do Egipto, conduziu-o Deus por sua mão através do deserto, com milagres e prodígios, convivendo e armando no meio dele a sua tenda para partilhar a mesma sorte. Mas na hora de dar frutos, deu idolatrias e infidelidades, convertendo-se em figueira estéril e bravia.

Agora somos nós a figueira que o Pai plantou para dar fruto a seu tempo. Fomos plantados na Igreja e no mundo em sementeira de dons e de talentos, até encher a medida que nos fixou. Rodeou-nos de carinho e solicitude paternal, enriquecidos de bens da natureza e da graça. Armados de forças e defesas para resistir aos dias maus. Mas também nós nos convertemos em figueira brava que só deu frutos amargos de orgulho e rebelião.

“Há já três anos que venho procurar fruto” – destaca o Evangelho. É a história triste das nossas infidelidades. Em vez do fruto das obras, resta-nos apenas a esterilidade das nossas recusas. Fiamo-nos talvez em privilégios e observâncias legais e deixando passar em vão a solicitude de Deus que nos visita e planta em nós a sua graça. Aos planos de Deus sobre nós, respondemos, à hora da verdade, com desculpas e rodeios. Em resposta ao tempo que urge, batem as horas de Deus sem retorno, inúteis e vazias. Os acontecimentos são visitas do Senhor. Ele vem colher o que semeou, arrecadar o que lhe pertence. Não O façamos esperar.

“Deixa-a ainda este ano” – Aconselha o Evangelho. É o coração do Pai que fala no coração de Cristo. Deus é amor e o seu nome é misericórdia. No amor misericordioso nos remiu e nele nos acolhe e sustenta. Deus não tem pressa de fazer isto e aquilo, chegar aqui ou além. Seria reduzir-se à nossa imagem e semelhança. Pressa é o disfarce da nossa limitação e resposta ligeira e desentoada às exigências de Deus. Deus é paciente porque é eterno. A sua pressa é amar. Deus quer ser interpelado pela fragilidade das nossas razões. Não O convencem os nossos argumentos, mas o amor que nos tem. A nossa oração não move o coração de Deus para dar, mas dispões o nosso para receber.

Diz o Evangelho “Se não vos arrependerdes, morrereis”. Há horas de perdão e horas de castigo, horas de plantar e horas de cortar. O amor de Deus chama-nos à conversão. Converter-se é voltar-nos para Deus, renunciar a tudo o o que d’Ele nos afaste. Falta voltar para Ele caminhos e projectos, intenções e sentimentos. Falta dar a morte a muitos egoísmos que resistem ao amor e evangelizar trevas que fogem à luz.

Quaresma é celebrar em nós a Páscoa do grão de trigo que morre para ser vida. 

A Virgem Maria nos ajude a viver estes dias de preparação para a Páscoa como um tempo de renovação espiritual e de abertura confiante à graça de Deus e à sua misericórdia.

Diácono António Figueiredo

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