AMAI OS VOSSOS INIMIGOS

Reflexão à Liturgia da Palavra do VII Domingo do Tempo Comum Ano C

Neste sétimo Domingo do Tempo Comum, Ano C, somos convidados a escutar Jesus, o divino Mestre, que nos ensina a amar, a fazer o bem e a perdoar, mesmo aos inimigos. A Palavra de Deus contida na Liturgia da Palavra deste Domingo, ajuda-nos a celebrar a misericórdia divina, que recompensará o amor que praticamos neste mundo, com a felicidade eterna, na Casa do Pai Celeste: «Então será grande a vossa recompensa e sereis filhos do Altíssimo».

Cristo é a medida de todas as coisas. Com a sua ressurreição libertou-nos dos enredos da razão e dos sentidos, para nos deixarmos guiar pela glória de Deus. Cristo é a medida exacta, que pode dar a tudo o que existe e acontece o seu justo valor e peso de eternidade.

A primeira leitura é retirada do primeiro Livro de Samuel 26, 2.7-9.12-13.22-23. «O Senhor entregou-te nas minhas mãos, mas eu não quis atentar contra ti» – palavras de David, na primeira leitura. A atitude bondosa e pacífica de David nesta leitura, antecipa a palavra de Jesus: «Vós, porém, amai até os vossos inimigos.

O Salmo Responsorial, salmo 102 (103)1-2.3-4.8.10.12-13. Este salmo é um poema de louvor e traduz a alegria dos crentes, que fazem a experiência da misericórdia divina. É um poema ao amor e grandeza do perdão de Deus. A fragilidade humana aparece simbolizada nas imagens do pó e da erva, em contraste com a estabilidade do amor de Deus, que permanece para sempre.

A segunda leitura é respingada da primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios 15, 45-49. «Assim como trazemos em nós a imagem do homem terreno, procuremos também trazer em nós a imagem do homem celeste». S. Paulo fala sobre a ressurreição, estabelecendo o confronto entre o primeiro homem, Adão, e o novo Adão, Jesus Cristo, «o Primogénito de toda a criatura» – S. Paulo aos Colossences, 1,15.

O Evangelho é de S. Lucas, 6, 27-38: «Sede misericordiosos, como o vosso Pai é misericordioso». Aclamemos Jesus Cristo, que nos ensina como deve ser o nosso comportamento para com aqueles que nos rodeiam: «Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei»(S. João 13,34).

Na sua mensagem, Cristo revela-nos uma nova dimensão de relações com Deus e com os homens. “Eu digo-vos” – diz Jesus no Evangelho. Para o cristão, a regra de vida é Cristo ressuscitado, o novo Adão, que fez de nós descendência celeste, membros do seu corpo glorioso (2.ª leitura). Seguindo e imitando a Cristo, temos em nós o mesmo pensar e sentir, vendo as realidades do homem e da vida com olhos ressuscitados. Cristo convida-nos a agir segundo uma nova justiça. Hão-de ficar de fora razões pessoais e sentimentos feridos, onde a mediocridade é lei. Em Cristo, imagem viva do Pai, está a divina perfeição que nos desafia e seduz.

Deus é misericórdia. “Sede misericordiosos, como o vosso Pai” – refere Jesus no Evangelho. A história das relações de Deus com os homens, resume-se em amor misericordioso. Deus revela-nos um coração cheio de ternura e de piedade, lento para a ira, fácil para o amor. Não se cansa de perdoar, porque não se cansa de amar. Quando deixasse de perdoar, deixaria de ser Deus. Deus ama-nos perdoando, e é no perdão que se revela amor.

Mas a suprema compaixão de Deus mostra-se em Jesus Cristo, a misericórdia do Pai em pessoa. Nele fomos salvos e vivificados (S. Paulo aos Efésios 2, 4-5). Jesus é o Sumo Sacerdote misericordioso, que não vem para condenar o mundo, mas para o salvar (S. João 3,17). A regra suma da moral cristã consiste em proceder como o Pai. Amar como Deus ama é perdoar como Deus perdoa. Num coração que perdoa e se compadece assoma o rosto de Deus, visitando o seu povo. Assim saberá o mundo que Deus é amor.

“Amai os vossos inimigos” – exorta Jesus no Evangelho. Nem todos entendem. Mas não estará nisto a suma justiça, a dívida suprema? Nas faltas dos outros todos estamos comprometidos. Perdoar ao outro é absolver-me também a mim. O perdão das ofensas faz-nos entrar no novo Reino, onde temos por lei o ideal das bem-aventuranças. Perdoar e ser perdoado é a suma pobreza, que nos abre as portas e enriquece. Quem arde em vinganças, vive ainda muito apegado à falsa riqueza de orgulhos e ressentimentos. Quando eu perdoar ao meu inimigo, ouvir-se-ão menos tiros nos campos de batalha. A paz no mundo depende do meu amor e perdão. Só a bondade e a misericórdia curam feridas que o ódio homicida rasga a toda a hora. Nas faltas dos outros, o importante é perdoar. “Sede misericordiosos… Perdoai! E sereis filhos do Altíssimo” – salienta o Evangelho. Da nossa atitude para com os outros depende a nossa transformação em Cristo. Então nos hão-de reconhecer por seus discípulos e filhos amados do Pai. Amando e perdoando, entraremos na alegria de Deus e chegaremos à plenitude do amor. 

“Perdoai e alcançareis perdão”. Sou eu que dito a lei do tribunal que me há-de julgar. As minhas faltas de perdão podem impedir o coração de Deus. Só quando perdoar aos outros é que poderei dizer: “Pai nosso …”

A Virgem Maria nos ajude a deixar-nos tocar o coração por esta palavra santa de Jesus, ardente como o fogo, que nos transforma e nos torna capazes de fazer o bem sem recompensa, testemunhando em toda a parte a vitória do amor.

Diácono António Figueiredo

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