
Comentário à Liturgia da Palavra do IV Domingo do Tempo Comum Ano C
Na cena inaugural situada em Nazaré, S. Lucas traça-nos um resumo da missão de Cristo, enviado como libertador e Salvador dos homens e recusado pelo seu povo.
Em breve relato, o evangelista sintetiza diversas visitas de Jesus a Nazaré. Ministério arriscado, porque “em verdade, nenhum profeta é bem recebido em sua terra”. Era difícil reconhecer no “Filho de José” o Messias esperado. Ali se criara e vivera como qualquer e não viam razão nenhuma para que fosse diferente. Para as gentes de Nazaré, os critérios de valor não eram as Escrituras, mas as suas razões mesquinhas e horizontes pessoais. E para mim, quais são?
A nossa relação com Deus, mais do que nos causar admiração, deve levar-nos a estabelecermos com Ele um vínculo afectivo e efectivo, acolhendo e aceitando a sua Pessoa e missão e comprometendo-nos no mesmo caminho e tarefa.
Na primeira leitura, tirada da Profecia de Jeremias, 1, 4-5.17-19, Deus encoraja o profeta para uma árdua e difícil tarefa. Ele deve confiar, não temer, mas ser coluna de ferro e muralha de bronze.
No Salmo Responsorial, trata-se do Salmo 70 (71), no qual proclama que Deus é o nosso refúgio seguro. Responda eu com a mesma confiança do salmista.
Na segunda leitura, extraída da 1.ª Epístola de S. Paulo 12, 31-13,13, salienta que que não há tarefa dura ou impossível que o amor, a caridade, não consiga ultrapassar.
No Evangelho retirado de S. Lucas, 4, 21-30, somos convidados a sermos dóceis ao Espírito Santo e à voz do Pai.
A plenitude da Lei é o amor. “Se não tiver caridade …” – refere S. Paulo na segunda leitura. Nele se resume toda a obra de Deus entre os homens. Salvar quer dizer amar. Cristo deu a vida por amor e assim cumpriu toda a Lei. Mais do que milagres, deu-nos a vida. Também nós fomos enviados na fé a dar a vida pelos irmãos. A plenitude da fé cumpre-se no amor. Vamos em missão profética amar todos os homens. Só assim o mundo acreditará.
Amar é falar todas as línguas, a palavra que todos entendem. Se não tiver caridade, nem milagres me autorizam, nem martírios me aproveitam. Se não tiver caridade, serei uma caricatura de profeta. A caridade consiste em obras e não apenas em palavras ou bons desejos. Quem ama é acolhedor e compreensivo, tudo desculpa e suporta. Perante as faltas dos outros não se irrita nem despreza. A caridade funda-se na verdade e resplandece na alegria. Mostra-se paciente e amável para com todos e não se deixa arrastar por orgulhos e rancores.
Jesus proclama-se Messias, aquele que os profetas anunciaram. “Cumpre-se hoje” – refere o Evangelho. Em Jesus cumprem-se as Escrituras. Cristo é a finalidade da Lei. (Epístola de S. Paulo aos Romanos 10,4). Caminha ao seu encontro a marcha da história, apontam para Ele os oráculos dos profetas. Não é um Messias de feição popular, mas o Messias do Pai, enviado a realizar o seu projecto de amor e redenção. Como Jesus, todo o cristão é enviado a cumprir as Escrituras e a plenitude do amor. Em nós se cumpre a palavra e se proclama a salvação de Deus.
“Um homem da Síria … uma viúva em Sarepta” – refere o Evangelho. Jesus recusa-se a ser o Messias de uma terra ou mesmo de um povo, para se afirmar Messias de todo o mundo. A sua missão transcende os horizontes estreitos dos seus preconceitos egoístas e raciais. Tem uma projecção universal traçada nas Escrituras. Nem Israel nem ninguém deteve nunca o exclusivo dos favores de Deus. As fronteiras do Reino de Deus estendem-se pelos domínios imprevistos da sinceridade e da verdade. Há verdadeiros adoradores que não vêm nos registos e só Deus conhece. Amor de Deus e do próximo são as credenciais que identificam os servidores do Reino.
“Mas Jesus seguiu o seu caminho” -diz o Evangelho. A meta é longe. No horizonte de Nazaré já assoma Jerusalém e a cruz. O caminho para lá vai. Os caminhos de Jesus confundem-se com os caminhos dos homens na mesma busca e no mesmo pó. Vamos com Ele, solidários e comprometidos na mesma incompreensão.
Oremos a Maria Santíssima, para podermos crescer e caminhar no mesmo ardor apostólico pelo Reino de Deus, que animou a missão de Jesus.
Diácono António Figueiredo
Que Maria Santíssima nos ajude a caminharmos juntos ao encontro do Seu Filho Jesus pois é Ele o nosso refúgio seguro ! Obrigada pela sua reflexão
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