
Comentário à Liturgia da Palavra do III Domingo do Tempo Comum Ano C
A palavra que Deus disse e nos revelou em Jesus Cristo quer germinar e produzir cento por um. Jesus inaugura o seu ministério proclamando-se Palavra, traduzindo-se em Pessoa na Sinagoga de Nazaré. Ele é a Palavra proclamada pelos profetas e que a Igreja anuncia e traduz como Messias Salvador, ontem, hoje e sempre.
Na primeira leitura, extraída da Profecia de Neemias 8, 2-4a.5-6.8-10, o sacerdote Esdras fez a leitura do livro da Lei, depois do regresso do cativeiro da Babilónia, no meio da emoção do povo.
O Salmo Responsorial, Salmo 18B (19) 8.9.10.15, é um hino de louvor da Lei de Deus.
Na segunda leitura, tirada da primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios, 12, 12-30, S Paulo lembra de que somos membros do Corpo de Cristo e estamos unidos à Cabeça, variedade que não impede a unidade de toda a Igreja.
O Evangelho é de S. Lucas 1, 1-4; 4, 14-21. Na Sinagoga de Nazaré, onde vivera até aos trinta anos, Jesus lê a profecia de Isaías que fala do Messias e afirma que se cumpriu n’Ele aquela profecia. Jesus é o Messias prometido.
A vida cristã é a resposta na fé à Palavra de Deus que falou. O Baptismo faz do cristão a testemunha ocular de Cristo perante o mundo, que nos interroga, como porta de esperança, à procura de resposta e solução. Somos servos da Palavra pela obediência da fé, acolhendo-a na vida e reproduzindo-a nas obras. O cristão vive para levar aos outros a verdade contemplada num olhar de fé e de esperança, onde Deus se revela e se pronuncia. Queremos dizer a todos os que vivem em angústia e escuridão “que a alegria do Senhor é a nossa fortaleza”. (1.ª leitura).
Cristo é a Palavra viva, encarnada, que ressalta aos olhos de toda a gente. “O Espírito do Senhor está sobre mim” — realça o Evangelho. No gesto de abrir o livro revela-se o segredo do Pai contido nas Escrituras. O Messias anunciado pelos profetas rompe o sigilo do tempo e a névoa das profecias para tornar-se vivo diante do povo que O escutava. “A profecia se transforma em manifestação, a Lei em Evangelho” (S. Leão). O Messias esperado era Ele. A Boa Nova dos pobres e dos oprimidos estava ali em pessoa: Jesus de Nazaré.
“Enviou-me a anunciar a Boa Nova” — afirma o Evangelho. A Igreja continua hoje a mesma proclamação e leva ao mundo a Boa Nova de Cristo. Pelo anúncio da Palavra junta a si todos os homens dispersos, fazendo deles um povo de filhos. A Igreja é o Cristo de Nazaré, que abre, perante o mundo, os tesouros de Deus. Actualiza entre os homens a presença do Verbo encarnado, continuadora da sua vida e missão. Pelo seu ministério “cumpre-se hoje”, chega à plenitude a palavra revelada e Cristo cresce em cada um dos seus membros.
“Estavam os olhos postos em Jesus” — narra o Evangelho. Mas a manifestação de Jesus de Nazaré revive e completa-se hoje. O mundo tem os olhos postos em nós. É em nós que a palavra hoje se cumpre e transforma em Boa Nova. Somos nós a palavra que os homens podem ouvir, em resposta às sua perguntas e anseios. Pela nossa vida a palavra torna-se presença de Cristo, deixa de ser promessa para abrir-se em realidade. A plenitude da palavra revelada está no seu cumprimento. Se eu não acolher a palavra e ela não for vida em mim, ficará a Escritura por cumprir e andarei à mercê de fomes e ilusões. Quando me abro às suas exigências e a cumpro, é então que ela chega à plenitude e se torna inteligível, para mim e para os outros. Vive-a e cumprirás; cumpre e entenderás.
Quando escutar o Senhor e for dócil às suas exigências, cumpre-se de verdade em mim algum passo da Escritura. Fiéis aos compromissos do nosso Baptismo, vamos ao mundo em missão, partilhar Cristo com quem nada preparou.
Diácono António Figueiredo
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