
Comentário à Liturgia da Palavra do II Domingo do Tempo Comum, Ano C
O milagre de Caná é manifestação da divindade de Cristo. Vimos a humanidade de Deus na ternura dum recém-nascido e agora conhecemos a sua divindade na evidência de um sinal, revelada num contexto de amor. Jesus é Deus-connosco. Quis identificar-se comigo, viver a humana experiência de amar e ser amado.. Onde houver amor aí está Ele, porque Deus é Amor.
Deus manifesta-se quase sempre mediante sinais simples, porém significativos e de alcance inesperado. Assim foi naquele convívio matrimonial em Caná da Galileia e do mesmo modo sucede no hoje concrecto de cada pessoa que se abre à novidade do Evangelho e se deixa envolver pela sua beleza e densidade.
Neste Domingo, como em cada Domingo, o Senhor coloca diante dos nossos olhos o sinal grandioso da sua infinita e soberana bondade. Senta-se à mesa e revela-se-nos, dando-se como pão da vida eterna e cálice da eterna salvação. Eis o vinho novo, saído9 do Coração de Cristo, que preenche de vida as talhas vazias da nossa pobre condição de mendigos de Deus.
Somos verdadeiramente felizes, porque convocados a participar do banquete das núpcias do Cordeiro; esse legar da plenitude da alegria maior a que se pode aspirar.
Na primeira leitura, tirada da Profecia de Isaías 62, 1-5, o profeta da esperança, abre horizontes de alegria ao povo que andava nas trevas. Também nós seremos a alegria do nosso Deus, na medida em que lhe formos fiéis.
No Salmo Responsorial trata-se do Salmo 95 (96) 1-3.7-8a-9-10ac, refere que Deus é a fonte da nossa alegria e a razão do seu anúncio a todos os povos da terra.
A primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios, 12, 4-11, preenche a segunda leitura. A diversidade de dons do Espírito revela a magnificência de Deus e a sua misericórdia para connosco. Assim como n’Ele não há obstáculos nem sombras, também em nós Deus destruirá os limites impostos pelo nosso egoísmo e a sede de protagonismos se nos dispusermos a acolher o fogo purificador e recriador do seu Espírito.
O Evangelho proclamado neste Domingo vem de S. João 2, 1-11. Nas Bodas de Caná Jesus revela a sua missão no momento em que veio a faltar o vinho, a alegria, a novidade da aliança. Ele vem transformar o velho em novo, a tristeza em alegria e a distância entre Deus e a humanidade, num abraço de amor esponsal, próximo e inquebrantável. Acolhendo o pedido de Sua e nossa Mãe, façamos o que Ele nos pede, em vista de sermos manifestação concrecta e corajosa da aliança que Deus quer estabelecer com o seu povo.
Na narrativa de S. João existe uma perspectiva pascal. “Os discípulos acreditaram n’Ele. O milagre acontece num “terceiro dia”, na expectativa da “sua hora”. Não foi antecipação, mas anúncio. Começa hoje a manifestar-se a glória que se completará no dia da ressurreição. A glória que os discípulos vislumbram hoje na fé, acreditando n’Ele, hão vê-la com os seus olhos e tocá-la com as suas mãos. “O que as nossas mãos tocaram da Palavra da Vida, o que vimos e ouvimos vo-lo anunciamos” (1.ª Epístola de S. João 1, 1-3).
Começa a Igreja a formar-se pela fé dos discípulos que hão-de ser suas colunas e fundamentos. Firmada na fé, o amor será a lei e a força para unir e consolidar. A Igreja é a comunidade de amor, celebração nupcial entre Cristo e a humanidade. Foi na encarnação do Verbo que Deus desposou a humanidade pecadora, “abandonada” à sua condição de infiel, para fazer dela a Jerusalém nova, “meu encanto”, “desposada” (Isaías 62,4). A Igreja nasce do amor e vive no amor: O Reino dos Céus é semelhante a um banquete de núpcias que o Pai preparou para seus filhos.
“Estava lá a Mãe de Jesus” – revela o Evangelho. Tinha de estar. Começava a Igreja a lançar os fundamentos da fé. Por isso, tinha de lá estar a Mãe da Igreja, como esteve em Belém e estará no Calvário. Começa Maria a sua missão de intercessora. Ela também aparece como sinal. É apenas “a mulher” colaboradora de Cristo na obra da redenção p0arab refazer a obra que outra mulher destruiu. Toda a sua vida e missão começa e termina em Jesus, apressando horas e sinais. A Serva do Senhor só quer dar-se e servir, fazendo-se sinal que nos estimula e desperta.
As bodas de Caná revelam-nos um Cristo irmanado connosco na nossa vida real. A sua presença na festa descobre o rosto de Deus que se alegra na alegria de seus filhos. A felicidade do ser humano é a alegria de Deus. A presença de Jesus recorda-nos também a santidade do matrimónio. O amor conjugal funda-se e vive no mistério de Cristo e dele tira a fecundidade e a missão criadora. Como Cristo, os esposos cristãos, pela mútua doação, dão a vida pelos homens. Através do amor humano cresce o Corpo Místico de Cristo em estatura e graça.
Ameaçam a toda a hora a vida matrimonial, os ídolos do egoísmo e da impureza desfigurando o rosto de Cristo. A Virgem Santa Maria nos ajude a seguir o seu convite: “Fazei o que Ele vos disser”, a fim de que nos possamos abrir plenamente a Jesus, reconhecendo na vida de todos os dias os sinais da sua presença vivificadora.
Diácono António Figueiredo
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