
O mistério da realeza de Cristo completa todos os seus mistérios. Realeza singular! Foi na hora máxima da humilhação que Cristo nos revelou a verdade da sua realeza. Não o disse na hora do triunfo, quando o povo alvoraçado queria aclamá-lo rei. A aclamação veio agora, entre escárnios e ignomínias, feito rei de comédia. Só a verdade infinita podia arriscar tal pregão naquela hora.
A pedido do Papa Francisco, passamos a celebrar neste dia a Jornada Mundial da Juventude. Por isso queremos saudar particularmente os nossos jovens que são protagonistas da vida e da missão da Igreja. Convosco queremos ser uma Igreja sinodal, ou seja, capaz de dar forma a um caminhar juntos. Juntos também celebramos esta solenidade de Cristo, Rei e Senhor do Universo, onde o discípulo de Jesus é chamado a olhar para Aquele que o ama. E diante d’Ele, há-de converter-se ao Seu amor. É este o seu modo de reinar. Ele não reina dominando-nos, mas atraindo-nos no Seu amor.
A primeira leitura da Liturgia da Palavra deste XXXIV Domingo do Tempo Comum, Solenidade de Nosso Senhor Jesus Cristo, Rei do Universo, é tirada da profecia de Daniel 7, 13-14. A primeira visão apocalíptica do profeta Daniel, diz-nos que ao Filho do Homem será entregue o poder e o reino eterno sobre todas as nações. Esta visão aponta para Jesus, o Filho de Deus feito homem, que embora sendo rei, assume a figura de Servo de Javé.
A segunda leitura extraída do Apocalipse de São João 1, 5-8, é um hino que canta a sabedoria e a realeza de Cristo. Ele é o Alfa e o Omega. De facto, Jesus é o princípio, o centro e o fim da história humana, que Deus sempre converte em História da Salvação.
O Evangelho deste Domingo vem-nos do evangelista São João 18, 33b-37, no qual Jesus diz a Pilatos: “… Sou Rei”.
“Sou Rei” – afirma Jesus no Evangelho perante Pilatos. Aquele homem aniquilado veio ao mundo para ser Rei e todo o poder lhe foi dado. Cristo é Rei porque é Filho de Deus encarnado. “Tudo foi criado por Ele e para Ele”. (Epistola de São Paulo aos Colocensses 1, 16). Nada escapa ao seu domínio absoluto, soberano dos homens, Senhor da morte e da vida. Ao seu mando caminha a marcha da humanidade, gritam por Ele todos os sucessos do mundo. Cristo é o Senhor da História e tudo faz acontecer segundo um projecto de amor onde tudo se integra e ilumina.
Enquanto homem, Cristo é Rei de nascença, cabeça e primogénito de toda a criatura a quem se dobra todo o joelho nos Céus e na terra. Herdou do berço o trono de David, seu pai, “reinará na casa de Jacob para sempre e o seu reinado não terá fim (Evangelho segundo São Lucas 1,33). Cristo é Rei por conquista, porque nos livrou da escravidão do pecado e nos transferiu para o Reino de seu Pai. Pela sua morte redentora, estendeu a todos os homens o seu reinado, tomando a cruz por seu trono. “Quando for levantado da terra, atrairei tudo a Mim”. (Evangelho segundo São João 12,32). ”Mas o meu Reino não é daqui” – afirma Jesus no Evangelho perante Pilatos. Não depende do sufrágio dos homens, mas funda-se sobre a soberania de Deus. Não vem ao clamor de trombetas, mas nasce entre ruínas e cresce escondido como o grão de mostarda. Não saímos a conquistá-lo, mas é ele que nos conquista. Não se apoia em riquezas ou poderios, mas na nudez do Presépio e do Calvário. Tem por fronteiras o universo de a sua soberania reside no coração de cada homem. Porque é espiritual, torna-se ainda mais presente e expansivo, informando toda a realidade humana e sobrenatural como a alma no corpo.
“Se nasci, foi para dar testemunho da verdade” – palavras de Jesus no diálogo com Pilatos. Num mundo marcado por ódios e injustiças, o Reino de Cristo triunfa pela verdade e pelo amor. Formamos um só povo sacerdotal (2.ª leitura), em que todos somos medianeiros uns dos outros, no ofício de amar e ser amados. Funda-se na verdade e está no mundo para dar testemunho dela. Somos cidadãos da verdade. É ela que nos liberta e com ela seremos libertadores.
Mas porque deitou raízes no tempo, o Reino de Cristo é progressivo e cresce no silêncio, como o grão de trigo, até à messe. O esplendor da realeza de Cristo aparecerá em plenitude no fim dos tempos, quando toda a História for resumida num grito: “Ao Cordeiro pertence o louvor e a honra, a glória e o domínio pelos séculos dos séculos”. (Apocalipse de São João 5,15). Na História de Deus e dos homens, tudo termina em glória.
Qual a nossa atitude perante Cristo Rei? O povo rejeita o seu reinado e Pilatos lavou as mãos, abstendo-se. Hoje como então os homens riem-se d’Ele. Apesar de tudo, Cristo chama-nos a partilhar da sua realeza. O programa é dar a vida.
A Virgem Maria nos ajude a acolher Jesus como Rei da nossa vida e a difundir o seu Reino, dando testemunho da verdade que é o Amor.
Diácono António Figueiredo
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