
(atribuído ao pintor Hans Memling (1430-1494)
A Liturgia da Palavra do XXXIII Domingo do Tempo Comum, ano B, apresenta-nos um convite à esperança, aguardando e apressando a vinda do Senhor.
A primeira leitura, tirada da Profecia de Daniel, 12,1-3, anuncia aos israelitas perseguidos e desanimados a chegada iminente do tempo da intervenção libertadora de Deus. Esta esperança sustenta-nos também a nós. Em tempo de grande sofrimento, o profeta Daniel aponta ao seu povo a ressurreição futura como o destino último dos que estavam sendo vítimas da perseguição religiosa movida pelo rei Antíoco.
Na segunda leitura, o autor da Carta aos Hebreus, 10, 11-14.18, lembra-nos que Jesus nos ensina a fazermos da nossa vida, um dom de amor a Deus e aos irmãos. Jesus, Sumo e Eterno Sacerdote, ofereceu-Se em sacrifício ao Pai. Depois, com a sua ressurreição de entre os mortos, entrou no santuário celeste. É esta a nossa esperança: passar, com Cristo, da morte à ressurreição: «O Senhor nos torne firmes em toda a espécie de boas obras».
No Evangelho, tirado de São Marcos 13, 24-32, Jesus garante que vai reunir os seus eleitos. Estejamos atentos aos sinais que anunciam a sua vinda. O ano litúrgico caminha para o seu termo, não como para um fim, sem esperança, mas para o supremo momento de quem vive na expectativa da vinda do Senhor. Jesus virá para congregar os eleitos, para os levar consigo para a casa do Pai celeste. Aí será o lugar do repouso eterno, para quem vive na expectativa feliz da sua vinda gloriosa.
O fim do ano litúrgico traz-nos o anúncio do fim do Mundo e do juízo final. É Cristo que passa e vem unir extremos. Ele é o princípio e o fim. Tudo corre para Ele, tudo passa em sua busca.
“O céu e a terra passarão” – lemos no Evangelho. Passa a vida com as suas cruzes e glórias, passa o mundo com as suas seduções. Passa o progresso e a técnica, as conquistas da ciência e da arte. Por isso, não queiramos correr em vão. É preciso conhecer a fragilidade deste mundo para sentirmos em nós, desejos de salvação. No ruir de apoios e seguranças, despertará no coração o grito redentor! O fim do mundo é o êxodo definitivo, a inauguração da Páscoa eterna, a última exigência pascal da morte e ressurreição.
É a hora do Senhor, hora de recolher. “Verão vir o Filho do homem reunir os seus eleitos” – Evangelho. Fazendo história, o homem semeia para o grande dia, quando o Senhor vier encher os seus celeiros. Então se completará a vitória de Cristo iniciada na ressurreição e continuada em cada homem, membro do seu corpo. O grande dia será o triunfo definitivo do bem sobre o mal, a separação radical entre o joio e o trigo. Cairão máscaras e aparências e as coisas voltarão a chamar-se pelo seu nome, como no princípio da criação. Brilhará aos olhos da humanidade a sabedoria encoberta do projecto de Deus e o homem reconhecerá que tudo o que acontecia era amor.
A nuvem da fé que envolveu os nossos caminhos, transformar-se-á então em nuvem de glória e esplendor. “Verão o Filho do homem vir nas nuvens” – diz Jesus no Evangelho. Será então o juízo, a resposta final de Deus ao Homem. Ao longo do caminho ficaram muitas perguntas sem resposta. Porquê? Para quê? Mas à luz do juízo de Deus veremos a sabedoria dos seus decretos. Todos os juízos humanos hão-de ser corrigidos e os gritos de revolta e desespero se converterão em aclamações e hossanas. Então aparecerá claro tudo o que agora acontece e não entendo. Ao fim, a dor frutificará em glória, assumindo o seu lugar na trama do edifício. Nem uma lágrima se perdeu, nem uma dor sofrida em vão. Lágrimas e dores são história sagrada, história da salvação, onde Deus se revela e levanta a sua obra. “Não julgueis antes do tempo”. (Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios 4,5).
A Palavra de Deus neste Domingo convida-nos a uma atitude crítica perante o mundo que passa. É preciso discernir valores, estabelecer hierarquias. Não andemos correndo atrás de coisas transitórias, mas daquilo que permanece para sempre. Só a Palavra de Deus fica e a sua vontade triunfa. Nada termina, tudo começa. Nada passa, mas tudo se transforma e reencontra na plenitude marcada, de regresso à eterna fonte.
O cristão vive em atitude de vigilância, servo diligente na expectativa do Senhor que vem. O juízo de Deus é aqui e agora. Para além de dores e incertezas, por sobre o ruir de anseios e projectos, o grito de esperança desperta a noite: “Vem Senhor Jesus” (Livro do Apocalipse 22, 20).
Invoquemos a intercessão da Virgem Maria, para que a constatação da nossa provisoriedade na terra e do nosso limite não nos faça afundar na angústia, mas nos chame à responsabilidade em relação a nós mesmos, ao próximo e a todo o mundo.
Diácono António Figueiredo
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