
Uma das tentações mais frequentes e difíceis de vencer é a de procurar engrandecer-se e brilhar aos olhos dos outros.
Esta tentação entra também nas coisas ou doações que fazemos para a Igreja. Somos tentados a pensar que um cargo a que nos chamam é motivo de glória, quando na verdade é um serviço; ficamos tristes e até revoltados quando não nos agradecem publicamente aquilo que damos ou fazemos.
Toda a Liturgia da Palavra deste XXXII Domingo do Tempo Comum, ano B, é um, apelo do Senhor para que sejamos generosos para com Ele, mas que não saiba a mão esquerda o que faz a direita.
A primeira leitura, tirada do primeiro livro dos Reis 17,10-16, narra-nos a chegada do profeta Elias a Sarepta, cheio de fome e sede e pede ajuda a uma pobre viúva que lhe dá o último alimento de que dispõe para ela e para o filho. Deus procede miraculosamente para com ela, de modo que nunca mais lhe faltou alimentação na sua casa, até acabar a seca.
A segunda leitura é extraída da Epístola aos Hebreus 9,24-28, narra que Jesus Cristo, Sumo e Eterno Sacerdote, não procedeu como os sacerdotes da Antiga Aliança que tinham necessidade de oferecer constantemente sacrifícios. Jesus entrou uma só vez no Santuário e ofereceu um único sacrifício que é renovado e tornado actual constantemente em todos os tempos e lugares, pelo santo sacrifício da Missa.
O Evangelho segundo São Marcos 12, 38-44, enche-nos de alegria a certeza de que o Senhor lê no coração de cada um de nós, a medida de generosidade para com Ele.
De duas pobres viúvas nos vem hoje o exemplo. O mais importante e o que salva é dar tudo. Mas, cuidado! Não deixemos manchar a oferta com falsas intenções de escribas e fariseus, que fingem fazer longas rezas e devoram depois os bens das viúvas,
Vaidade, injustiça, hipocrisia, são a negação do dom de nós mesmos e transformam a oferta em busca e interesse. Pela vaidade se corrompem na origem empresas e sucessos. Sob pretextos piedosos, cometem-se injustiças, violando direitos e deveres. A hipocrisia é a homenagem do vício à virtude, mentira de sepulcros branqueados.
“Acautelai-vos dos escribas” – recomenda Jesus no Evangelho. Vive-se muito de aparências, mas a passagem do Evangelho deste Domingo tira-nos a máscara. Há valores ocultos em gestos humildes e mediocridades sonoras postas no candelabro. Há virtudes muito ocultas e defeitos muito manifestos, que falseiam juízos e opiniões. A virtude dos fariseus era a contradição da lei do amor mas a pobreza da viúva era riqueza do dom total. Andamos na vida iludidos com aparências: por isso nos saem as coisas erradas.
“Duas pequenas moedas” – relata o Evangelho. Foi isto que encheu a caixa e o coração de Cristo. Na aparência era nada; mas, na realidade, aqu8ela pobre mulher, “deitou mais que todos os outros” Para quem fá, como para quem recebe, não há coisas pequenas. Coisas pequenas ou grandes são contas que não fazemos e Deus não sabe. A grandeza das coisas vai dentro de nós. Fazer cosas grandes depende de mim. É o amor que me enche as medidas e faz grande o que parece pequeno. Pequeno só aquilo que o amor não engrandece. Coisas obscuras, só aqueles quem o amor não ilumina.
Que temos nós de grande? Ao amor infinito só migalhas se oferecem. Tudo nos sai da nossa pobreza e limitação humana. Deus pede aos pobres e pequeninos, porque os grandes deste mundo não têm para dar. Deus contenta-se com as nossas migalhas e em troca nem a farinha se esgota, nem o azeite se esvazia (1.ª leitura). Tudo o que dermos a Deus vem-nos de retorno, convertido em graça. Deus não precisa de receber; sou eu que preciso de dar. Quando eu me der todo, então da pobreza da minha arca, faz Deus sair maravilhas. Na economia da graça, pelas contas do amor, em troca do nosso nada, Deus nos dá tudo. Para riqueza do pobre, só Ele basta.
Dar tudo é a medida que enche o coração de Deus e do homem, a radicalidade evangélica que Cristo nos ensinou. “Lançou tudo quanto possuía” (Evangelho).Dar tudo revela o estilo novo trazido do Céu, a divina arte do perfeito amor. Cristo ofereceu-se uma vez por todas para tirar os pecados das multidões. (2.ª leitura). Em provas de amor, o importante é dar tudo. O amor não se reparte, mas dá-se todo, indivisível e intacto, como saiu do coração de Deus. Só o dom total nos enriquece. Quem dá tudo, nada lhe falta.
A Virgem Maria, Mulher pobre que se entregou totalmente a Deus, nos inspire no propósito de doar ao Senhor e aos irmãos, não algo de nós, mas nós mesmos, numa oferta humilde e generosa.
Diácono António Figueiredo
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