O Sonho e a Obra

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Igreja Paroquial de Linda-a-Velha em construção

Republicamos nestes dias quatro textos do Padre Manuel Martins, primeiramente divulgados no folheto distribuído aquando da dedicação da igreja paroquial de Nossa Senhora do Cabo, a 20 de outubro de 1996. O primeiro é este: “o Sonho e a Obra”

Artigo de Padre Manuel Martins
(de 20 de outubro de 1996)

Deus quer, o homem sonha, a obra nasce“. São assim os grandes “mestres”. Têm intuições que conseguem em poucas palavras transmitir conceitos profundos e lições magistrais. Serve de exemplo esta citação lapidar de Pessoa.

Aplicada – atrevidamente – a esta obra Social e Paroquial, apenas com seis palavras se explica e esclarece o longo e duro caminho que foi necessário percorrer para que o sonho de alguém se convertesse neste grandioso empreendimento que vai servir toda a comunidade humana de Linda-a-Velha e a todos acolher com bondade e amor.

Na verdade, se por detrás destas obras não estivesse actuante a Vontade de Deus, os homens podiam sonhar anos a fio, que nunca teriam cometido a ousadia de deitar mãos à obra.

A História ensina que as grandes obras acontecem sempre que o homem sabe colocar-se no seu lugar – o de criatura. Nesta atitude de humildade ele trabalha e ora com o Salmista: “Se não for o Senhor a construir a casa, em vão trabalham os construtores: Se o Senhor não guardar a cidade, em vão vigiam as sentinelas”. (Sl. 126).

Desde que a pequena aldeia de veraneio, que era Linda-a Velha, foi abrangida pelo Plano de Urbanização na década dos anos 50, a célula central entre a Rua dos Lusíadas e a R. Pedro Álvares Cabral, foi reservada aos serviços comunitários. E em 1955 o terreno foi aprovado pelo então Ministro das Obras Públicas, para a construção de um Centro Social e Paroquial e uma igreja.

Devido à inércia de uns e à ambição de outros os anos foram passando e o terreno acabou noutras mãos. Quando tudo parecia perdido apareceu publicado no Diário da República, em Abril de 1983, um Despacho do Ministério da Administração Interna, que “declara de utilidade pública a expropriação do referido terreno, para a construção de um Centro Social e Paroquial e de uma Igreja. Alcançada a devolução de grande parte do terreno para se cumprir os primitivos objectivos comunitários, foi possível na década de 80 elaborar projectos e processos correctos e objectivos.

Obtida a aprovação dos projectos financeiros, faltavam os meios.

Apresentamos as preocupações da Comunidade ao actual Presidente da Câmara Municipal de Oeiras, Dr. Isaltino A. de Morais, que desde logo compreendeu a importância social, cultural e religiosa daquele projecto ambicioso, mas de grande importância para toda a população. Num rasgo de intuição genial deu de imediato a decisão: a Câmara oferece a participação financeira e de interlocutora junto do Governo para a obtenção dos subsídios necessários. Para abono da verdade há que reconhecer que, se não fosse a vontade determinante do Sr. Presidente, estas obras não teriam sido construídas. Por isso, conhecendo o trabalho desenvolvido nesta área Social e Religiosa pelo Dr. Isaltino A. de Morais, sentimos ser nosso dever de gratidão e de justiça, formular um voto de gratidão e louvor pelo modo eficiente como tem colaborado com as Paroquias do Concelho. São muitas as obras sociais, culturais e as Igrejas que tiveram a aprovação e o apoio financeiro da Câmara, como nenhuma outra do país.

E óbvio que por detrás dos grandes empreendimentos há sempre os que de maneira mais notada ou mais na sombra, dão o seu melhor para que o sonho se torne realidade. Assim aconteceu com estas obras. No primeiro caso, estão aqueles que receberam do seu Bispo o múnus de ensinar a Boa Nova e os caminhos da fé, de santificar, e de governar o Povo de Deus. O esforço e o trabalho desmedido, persistente e firme, para construir a Igreja viva e a Igreja de pedra, nunca será avaliado nem apreciado pelos homens deste tempo. Basta a estes Obreiros do Reino viverem a fé e a verdade em que acreditam. Os paroquianos em união com o Pároco formaram o grupo indispensável técnica e financeiramente para que todas estas obras apareçam hoje realidades concretas. Elas vão acolher e servir todas as camadas etárias, sem acepção de pessoas, nas áreas social, cultural e religiosa.

É dever lembrar aqueles que no anonimato deram o melhor de si para que o projecto não ficasse no sonho. Entre os contribuintes apareceram muitos que deram o “óbulo da viúva”. “Deram só um cruzado. Tudo o que possuiam para a sua subsistência”. Também recebemos somas avultadas, que só Deus conhece e pode recompensar.

Foram os esforços conjuntos de todas estas boas vontades que, associadas ao apoio das Entidades Governativas, à colaboração do Projectista, Arq. Nuno Garrido ArquiOficio, e da Empresa Soares da Costa, possibilitaram, mesmo através de tantos contra-tempos e imprevistos, a construção destes edifícios que, sem dúvida, são o orgulho dos moradores de Linda-a-Velha e do Concelho de Oeiras.

Padre Manuel Martins (20-10-1996)