A tentação do poder

Liturgia da Palavra do XXIX Domingo do Tempo Comum ano B

(Profecia de Isaías 53, 10-11; Epístola aos Hebreus 4, 14-16;

Evangelho segundo S. Marcos, 35-45)

Na primeira leitura, o profeta Isaías fala do Messias que havia de vir e da salvação que alcançará para todos os povos, através da oferta de Si mesmo em sacrifício.

A segunda leitura tirada da Epístola aos Hebreus, apresenta-os Jesus como nosso Sumo-sacerdote, muito perto de Deus e muito perto de nós.

No Evangelho, Jesus fala da verdadeira grandeza que está em servir os outros.

Anda o mundo atrás de ídolos, dobrando o joelho a toda a hora. Uns são escravos do dinheiro, como o jovem rico; outros, tentados pelo poder, como Tiago e João.

A tentação do poder entra em toda a parte, mesmo no lugar santo. “Concede-nos que nos sentemos” – refere o Evangelho. Anda o poder desfigurado pelo falso rosto de ondas e grandezas, corrompido por injustiças e ambições pessoais. Mandar é servir, Os governantes são servos do bem comum do9s cidadãos, que os elegem. Servem o povo e não o partido. Antes de serem servos de qualquer ideologia, são servos do povo. Políticos e governantes têm muito que aprender. 

“Mas entre vós não deve ser assim” – diz Jesus no Evangelho. “Quem quiser ser o primeiro, tem de se, tem de se o servo de todos.”. Bem claro. A autoridade na Igreja não é poder que se conquista, mas serviço que se dá. Não é ambição de grandezas, mas missão a cumprir, enviados em pobreza, sem bolsa nem alforge. Não há fumos de incenso, nem tronos, nem pedestais. Neste serviço dos irmãos, não são as pessoas que buscam os cargos, mas os cargos que buscam as pessoas. Quem mais amar e servir, esse será o maior. O primeiro lugar faz-se daquele “mais”, que hei-de pôr em tudo o que amo e em tudo o que faço. Onde eu estiver, servindo e amando, aí está o primeiro lugar. Vai o lugar ter comigo e não sou eu que vou ter com ele. Na ânsia de amar, na ambição de servir, terei acesso a honra e grandezas.

O poder na Igreja e na vida religiosa é governo espiritual que não se funda em aparato humano e estruturas temporais. O superior recebe a autoridade de Cristo pelas mãos da Igreja e exerce-a em seu nome. Através do mandato que recebeu, é enviado aos seus irmãos, com o encargo de ensinar, reger e santificar, fazendo da Comunidade, povo de Deus. A grandeza e excelência do superior está em fazer-se servo

“Podeis beber o Cálice? – Pergunta Jesus. O poder de mandar oculta-se por detrás de atractivos e aparências. Mas a realidade é bem diferente. O perfil evangélico do superior revela-se ao mundo pela capacidade de pôr a vida pelos irmãos em amor e serviço. O seu salário mais certo será dor e humilhação. Quem aceita governar, aceita sofrer, bebendo o mesmo cálice que o Senhor bebeu. O poder anda ligado a cálices de amargura e “dar a vida” pelos outros. Quando assim não for, não é servir, mas ser servido, não é poder, mas usurpação. Por isso a definição evangélica do poder é-nos dada n contexto do anúncio da Paixão. Quem aceita governar, aceita entrar em agonia, onde domina e permanece a aridez insistente de humilhações e fracassos, de críticas e solidões.

“Não sabeis o que pedis” – admoesta Jesus. Na nossa oração e critérios de valor há muito dos filhos de Zebedeu. Queremos o poder de Deus ao nosso serviço: em troca de fidelidades, pretendemos benefícios e promoções. Não sabemos que a felicidade nasce da renúncia e que o preço da alegria é varrer a casa primeiro. Queríamos amar sem amor e ressuscitar sem morrer.

O êxito da vida, a resposta aos nossos anseios está na disposição radical de beber o cálice que Jesus bebeu.

Diácono António Figueiredo

Diácono António Figueiredo

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