A história pintada

Artemisia Gentileschi (1593-1656), pintura da cena bíblica “Judite Decapitando Holofernes

Poucos, sem ser os conhecedores de arte, conhecem o nome Artemisia Gentileschi. Mas já todos vimos, pelo menos uma vez na vida, o quadro enigmático de duas mulheres de pé sobre uma cama, onde se encontra o homem que estão a matar. É um quadro não só conhecido, como estudado a pormenor, com várias interpretações e explicações elaboradas, por vários entendedores. Menos ainda que o nome Artemisia, muitos desconhecem a história por detrás deste.

Artemisia foi uma jovem que nasceu numa família italiana com uma forte veia artística, com laços a Michelangelo Merisi, conhecido como Caravaggio, que foi uma grande fonte para a sua inspiração como artista. Orazio, seu pai, também era pintor, e concede-lhe algo que naquela época era impensável uma mulher obter: mestria nas artes. Orazio não só ensinou e incentivou que Artemisia pintasse, como também investiu na sua educação. Parte deste investimento consistiu na contratação dum pintor de renome na época, para lhe dar aulas. Infelizmente, descobriram da pior maneira que este tinha um historial de violência sexual contra mulheres. Depois de um longo julgamento, durante o qual vários testemunhos deixaram claros em quem residia a culpa, o agressor de Artemisia foi absolvido na mesma. Numa sociedade em que a honra era a coisa mais valiosa que uma mulher possuía, seria fácil de prever que o nome de Artemisia caísse na vergonha e no esquecimento. Mas esta recusou-se a deixar que tal acontecesse, e lutou da maneira que melhor sabia: pintando.

Com cerca de 27 anos de idade, Artemisia era considerada, tal como é hoje, a melhor artista do que hoje em dia reconhecemos como período barroco. E para além das emblemáticas pinturas que produziu, alcançou também algo inédito: para além de toda a simbologia envolvida nas suas pinturas, estas são também representações autobiográficas e espelhos da sua experiência. Nas suas pinturas, Artemisia reconta a sua história e experiência, com uma reflexão sempre presente: qual teria sido o desfecho da sua situação e outras semelhantes, se as mulheres se unissem? Nas suas pinturas, as mulheres encontram-se em pares, defendendo-se e ajudando-se mutuamente. Artemisia, deixa assim uma mensagem intemporal nas suas obras, dirigida a todas as mulheres: quando não conseguem fazer frente ao mundo sozinhas, a união é a melhor solução.

Esta semana, e neste Mês da Mulher, rezemos e guardemos as nossas intenções por todas as mulheres que vivem através da sua arte e dos seus feitos, mesmo quando os seus nomes são esquecidos.
Que o Senhor as guarde com o amor que muitas não receberam em vida.
Teresa Cunha

artigo preparado por
Teresa Cunha

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