
Quando nos é mencionada a expressão “pessoa com deficiência/incapacidade” as nossas mentes viajam imediatamente para pessoas em cadeiras de rodas, próteses no lugar de membros, bengalas e pistas visuais que nos permitem imediatamente identificar como é que essa pessoa se distingue de nós. Mas nem todas estas “diferenciações” são visíveis, e é quase impossível identificar exatamente em que grau é que estas se manifestam em cada individuo. Algumas, por exemplo, são o resultado de disfunções nervosas que levam ao mal funcionamento de certos membros ou funções corporais.
Em 2012, Matthew Walzer escreveu para a marca Nike, conhecida pelo seu equipamento desportivo, numa tentativa de os consciencializar para a sua história, e outras que tais: Matthew nasceu dois meses antes do tempo, com 7 meses, e pulmões extremamente subdesenvolvidos, o que levou ao desenvolvimento de paralisia cerebral (danos cerebrais), que levou vários médicos afirmar que Matthew nunca andaria na vida. Ao crescer, Matthew provou-lhes que estavam errados. Aos 16 anos consegue andar livremente quando em casa, e no exterior fá-lo apenas com o apoio duma muleta, os seus estudos correm lindamente e está já a começar a considerar faculdades. Contudo, algumas coisas simples ainda interferem com o seu desejo de se sentir como um adolescente livre e independente; uma dessas coisas são os seus sapatos. Apesar de se conseguir vestir sozinho, calçar-se ainda é algo que requer auxílio por parte dos seus pais. E foi nesse âmbito que Matthew escreveu à Nike.
A história de Matthew acabou por chegar a Hatfield, um designer cujo trabalho envolvia projetos das Special Olympics (organização internacional que apoia pessoas com deficiências intelectuais, e que realiza os Jogos Mundiais a cada dois anos). E assim começou o projeto de colaboração entre Hatfield e Walzer, que, 8 anos depois, levou ao lançamento do modelo que finalmente permitirá a Matthew calçar os seus próprios sapatos.
O modelo criado — GO FlyEase — permite aos seus utilizadores calçar e descalçar os ténis sem necessidade de intervenção manual. Duma maneira breve, os ténis permitem que, utilizando o outro pé, seja possível descalçar o primeiro, sem danificar o material, pois o calçado adapta-se perfeitamente a este movimento dobrando-se para facilitar a remoção.
Deste modo este modelo poderá não só impactar a vida de pessoas extremamente atarefadas, para quem o tempo não é prescindível nem para os mais pequenos atos rotineiros, mas também a de pessoas para quem esses atos representavam uma separação entre elas e o seu sentido de independência, para os quais uma ponte foi agora criada.
Nesta semana, as nossas intenções estejam com todos, cujas suas incapacidades não lhes permitem viver a vida que desejam, e por todos aqueles que lutam para concretizar esses desejos.
Teresa Cunha
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