Como atempadamente foi avisado, a Páscoa já aqui está, pois o tempo não tem nenhuma compaixão pelos homens. O cíclico nascer/pôr do sol, que moldou as nossas células ao longo de milénios, é implacável e não cede aos nossos desejos ou boas intenções.
Percebe-se inteligentemente que as culturas religiosas, que construíram os seus modelos a partir da observação da natureza, são incapazes de perceber o termo compaixão. Atenção, não me interpretem mal. Existem pessoas extraordinárias, militantes nestas expressões religiosas de um testemunho ético impressionante.
Mas não há compaixão no sentido em que nós, ocidentais, a compreendemos!
O termo compaixão é uma palavra de matriz judaico-cristã. É uma das grandes contribuições da cultura ocidental para o nosso mundo globalizado. A capacidade de alterar a ordem da natureza para acorrer em auxílio daquele que está em padecimento é fruto da experiência de um Deus que também Ele, altera a ciclicidade dos tempos e vem em socorro do seu povo: Eu vi a aflição do meu povo (Ex 3, 7) .
Deste forte sentimento nasce a história de um povo que atribuiu à compaixão divina a sua identidade étnica. E todos os anos a celebra, no 14 de Nisan, dando-lhe o nome de Pessach, a passagem.
Mas o património desta espiritualidade não poderia ficar só consignada a um identidade étnica. E durante esta festa, à mesa do banquete, um carpinteiro judeu, consciente de que todo o poder lhe tinha sido dado, torna-se o Autor da nova e definitiva interrupção do divino no humano. Promove, a uma escala global, esta moção, antecipando a sua própria oblação como o definitivo gesto de compaixão.
Mudar a vida; alterar a natureza; aguentar a passagem do tempo; ir para além do humanamente suportável, apenas por causa do outro, isso é ter compaixão, isso é descobrir a Páscoa
Paróquia de Linda-a-Velha 
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