
Reflexão à Liturgia dos Fiéis Defuntos
A comemoração do Dia dos Fiéis Defuntos é a festa da continuação do Dia de Todos os Santos. Os que morreram no Senhor formam a assembleia santa, corpo de Cristo, que no amor se purificam para se apresentarem ao Pai, sem ruga nem mancha. É o Cristo total que está em festa. A Comemoração dos fiéis defuntos ilumina os passos da vida e desperta os corações para a realidade do Purgatório, o Reino da esperança e do amor à vista.
A Igreja acredita que existe um estado de purificação depois da morte. Poderá haver ainda por pagar penas temporais, apegos desordenados, que o fogo da penitência não acabou de desprender. O Concílio Vaticano II afirma a realidade do Purgatório, «como fé venerável recebida dos nossos maiores», evocando os Decretos do Concílio de Trento (Lumen Gentium 51) O Concílio fala do Purgatório no contexto de unidade e comunhão de todos os membros de Cristo no mesmo louvor e crescimento, amando a Deus e ao próximo (LG 49). A teologia pós-conciliar procura eliminar da sua reflexão sobre os novíssimos o aspecto dominante do imaginativo e do sensível, para os situar na perspectiva do mistério pascal. Só na escuta dos dados da fé e da revelação, podemos perscrutar as realidades da fé.
Hoje é dia de comunhão. Os irmãos que morreram continuam vivos e a crescer em nós até chegarem à plenitude do seu crescimento. Vivem connosco em comunhão de vida e de amor, dando e recebendo. Ficaria Cristo mutilado, se os nossos Fiéis Defuntos não estivessem unidos a nós, formando com os bem-aventurados do Céu a única Igreja de Cristo. A Igreja que ainda vive em estado de purificação, é isto que se embeleza, num último esforço de plenitude e crescimento. Na Igreja que sofre, todo o corpo se purifica. Se muito lhes damos muito mais recebemos.
É dia de esperança. Cristo venceu a morte e fez dela a porta para a vida. Por isso, diante da morte, o cristão não pode ficar triste “como os outros que não têm esperança” (1.ª Epístola de S. Paulo aos Tessalonicenses 4, 1-3). A nossa esperança reside em Cristo que morreu para a nossa ressurreição. “Quer que onde Ele está estejamos nós também com Ele” (S. João 17, 24). Ressuscitaremos no último dia e assim estaremos para sempre com o Senhor… Não há lugar para tristezas e lutos, mas “consolai-vos uns aos outros com estas palavras” (!.ª Epístola de S. Paulo aos Tessalonicenses 4,18).
À luz de Cristo, a morte tem um sentido diferente. É o dia de um novo nascimento, mas para a vida nova. A vida não acaba, apenas se transforma (Prefácio da Santa Missa dos defuntos). A morte é a humilhação suprema, que nos eleva ao seio do Pai. Vai nela a opção definitiva de deixar tudo, disponíveis para o amor total. A morte encerra um mistério de vida. Para além da morte é que vem a plenitude do homem e das coisas e tudo se reencontra e unifica. A morte já não é o escândalo da vida, mas a maturidade da fé e da esperança. Agora morrer é lucro» -afirma S. Paulo na Epistola aos Filipenses 1,21).
A fé é que ilumina o mistério da morte, respondendo à sua contradição e incerteza. Na fé e na esperança vamos morrendo todos os dias. Comemorar a morte é celebrar a vida. E To0rnemo-nos testemunhas luminosas e credíveis desta esperança, pedindo ao Senhor, por intercessão0 de Sua Mãe, a Bem-aventurada Virgem Santa Maria, que nos dê um novo ardor de ressuscitados, para levar a todos o Evangelho que vence a morte.


