
Reflexão à Liturgia da Palavra do Segundo Domingo da Páscoa, Ano C
Domingo da Divina Misericórdia
“Oito dias depois”, “no primeiro dia da semana”, voltamos a encontrar-nos na alegria pascal, como os apóstolos do Evangelho. E como fez com eles, o Senhor vem também até nós para descobrirmos algo muito importante e manter viva a nossa fé na ressurreição: a comunidade. Jesus Cristo deseja formar uma comunidade com todos os que crêem na sua vida. Uma comunidade de crentes que vivem no amor..
Neste Domingo da oitava da Páscoa que o Papa João Paulo II, a 30 de Abril de 2000 consagrou como “Domingo da Divina Misericórdia”, como família reunida em nome do Senhor, deixemo-nos inundar pela alegria que o Ressuscitado nos traz.
A comunidade dos Apóstolos dá testemunho da Ressurreição do Senhor, não só com a palavra, mas também com o exemplo de vida. Nesta comunidade, animada pela acção do Espírito Santo, a comunhão entre os crentes era perfeita: interior, pensava e sentiam o mesmo e exterior – punham tudo em comum e ninguém passava necessidades. Disto nos fala a primeira leitura do livro dos Actos dos Apóstolos 5, 12-16.
“Exultemos e cantemos de alegria” por todas as maravilhas que o Senhor tem realizado em favor do seu povo e “porque o seu amor é para sempre”. O Salmo Responsorial é o salmo 117 (118),2-4.22-24.25-27a.
A fé dos cristãos da Ásia Menor estava exposta a sérios perigos. Ao golpe da perseguição vinha juntar-se a ameaça de erros doutrinais. A Palavra de Deus, por intermédio do Apóstolo João, vem garantir-lhes que Jesus Cristo ressuscitado está presente nas comunidades. A segunda leitura é do Livro do Apocalipse 1, 9-11a,12-13.17-19.
O Evangelista coloca Tomé como símbolo da dificuldade que cada discípulo encontra para chegar e acreditar na Ressurreição de Jesus. A identidade do Senhor ressuscitado está para além do rosto. Ele possui uma vida que escapa aos nossos sentidos, uma vida que não pode ser tocada com as mãos nem vista com os olhos. Só pode ser alcançada mediante a fé. Como Tomé, somos chamados a fazer a nossa profissão de fé no Ressuscitado: “Meu Senhor e meu Deus”.
“…veio Jesus, colocou-se no meio deles … “ narra o início da passagem evangélica deste Domingo, do Evangelho segundo S. João 20, 19-31. Foi para isto que Ele ressuscitou. À sua volta se congregam os discípulos formando a Igreja, o novo povo de Deus, convocado pelo anúncio da sua Ressurreição. A Igreja é a convocação pascal, a assembleia festiva, que torna presente e celebra Jesus Cristo ressuscitado e proclama a nossa própria ressurreição. Foi o prémio e dom do Pai pela vitória de seu Filho. Somos um povo de ressuscitados, o perpétuo memorial da Páscoa do Senhor..
A Igreja é Jesus Cristo ressuscitado, em aparição permanente. Através do disfarce de fragilidades e estruturas, torna Jesus Cristo presente pelos caminhos dos homens. Jesus Cristo e a Igreja formam só com o Pai, na unidade do Espírito Santo. No mistério da Igreja, Jesus Cristo aparece e desaparece nas sua limitações e disfarces de peregrina. Vive nela, mesmo que a tempestade se levante e se lhe fechem todas as portas. A verdade e o amor não têm prisões nem cadeias. Quando de fora se erguerem muros e dentro surgirem tensões, a glória do Senhor não tarda “A paz esteja convosco”.
“Tomé não estava com eles”, refere o Evangelho. Por isso não acreditou. A fé nasce do facto da ressurreição de Jesus Cristo, presente e vivo entre os irmãos. Consiste em viver como Jesus Cristo vive, estar onde Ele está. Estar com Ele quer dizer estar com a Igreja em comunhão, acreditar no que Pedro acredita. Para acreditar tenho de tocar Jesus Cristo e entrar em relação íntima e pessoal com Ele. Mas há ausências que impedem, orgulhos e recusas que resistem. Quem quiser reconhecer Jesus Cristo, tem de tocar-Lhe as chagas. Tocar a dor é ver mais longe, aceitar os caminhos por onde Ele vem. Fé é tocar o amor e cair de joelhos: “Meu Senhor e meu Deus”
“Felizes os que acreditam sem terem visto”, diz Jesus no Evangelho. A perfeita felicidade veio-nos com Jesus Cristo ressuscitado, saltando muros, abrindo portas. “A fé é a vitória que vence o mundo”, o triunfo da dor e da morte. Para ser feliz é preciso acreditar na Felicidade que é Jesus Cristo. Os crentes encarnam as testemunhas fieis da alegria do Senhor. Levam na própria vida, com em escritura sagrada, a alegre notícia de Jesus Cristo ressuscitado,.Só aquele que tocar n’Ele pode anunciar a Palavra da Vida e ser argumento para aqueles que não viram. O cristão testemunha na vida e nas obras a felicidade de acreditar. Que as pessoas me vejam e toquem e cairão de joelhos.
Neste segundo Domingo da Páscoa somos convidados a aproximar-nos de Jesus Cristo com fé, abrindo o nosso coração à paz, à alegria e à missão. Mas não esqueçamos as chagas de Jesus Cristo pois delas veem a paz, a alegria e a força para a missão. Confiemos este pedido à materna intercessão da Bem-aventurada Virgem Santa Maria Rainha do Céu e da terra.


