
Reflexão à Liturgia da Palavra do VI Domingo da Quaresma Ano C
Domingo de ramos e da Paixão do Senhor
À hora do triunfo, o povo aclama, os chefes conspiram, Jesus chora. “Bendito o que vem em nome do Senhor”. As glórias humanas são ilusórias, frágeis, inconstantes, como a areia movediça. Na vida de Cristo, como na vida do homem, aclamações de triunfo e gritos de morte andam tão juntos que quase se confundem. Aquele hossana parece-se a impropério; aquele grito de morte talvez queira dizer vida. As lágrimas de Jesus são o sal da graça e sabedoria que equilibram os nossos triunfos e fracassos. Uma lágrima humana dá sentido e dimensão àquilo que aparece e não entendo. Alegrias e tristezas têm a mesma linguagem. Onde termina a tristeza? Onde começa a alegria?
Chegamos à semana maior do ano. Com a celebração do Domingo de Ramos entramos na Semana Santa. A Liturgia da Palavra deste Domingo tem duas partes distintas: a primeira parte descreve o triunfo e a glória, comemorando a entrada triunfal de Jesus em Jerusalém. Logo a seguir debruça-se no sofrimento e convida-nos a contemplar Jesus que partilhou a nossa humanidade, fez-Se servo dos homens e por nosso amor, entregou a sua vida à morte. As leituras deste Domingo apresentam-nos Jesus como “Rei messiânico” e como “Servo do Senhor”. Nas vésperas da sua paixão, Jesus é levado em triunfo. Gritos de aclamação, ramos e palmas gritam ao mundo que a morte conduz à vida e a cruz à ressurreição. O Domingo da Paixão ajuda-nos a compreender que Jesus é o Messias, que realiza a nossa salvação pelo sofrimento. A cruz, que a Liturgia da Palavra deste Domingo coloca no horizonte, lembra-nos o ensinamento do divino Mestre: «Não há maior prova de amor do que dar a vida pelos amigos».
A primeira leitura é da Profecia de Isaías 50, 4-7. Esta leitura é um dos chamados «Cânticos do Servo sofredor». Este Servo é uma prefiguração de Jesus, que na Paixão, oferece a sua vida pela redenção de toda a humanidade.
O Salmo Responsorial de hoje é um pequeno resumo da paixão de Jesus. Trata-se do salmo 21 (22) 2-9.17-18a.19-20.23-24. A Liturgia escolheu como refrão a pergunta: «meu Deus, porque me, abandonastes? Sabemos que o grito de Jesus, na cruz, não traduz a angústia de um desesperado, mas a oração do Filho, que por nosso amor se oferece ao seu eterno Pai, como cantaremos na Sexta Feira Santa: «Pai, nas vossas mãos entrego o meu espírito».
«Humilhou-Se a Si próprio; por isso Deus O exaltou», refere a segunda leitura, da Epístola de S. Paulo aos Filipenses 2, 6-11.
O Evangelho é de S. Lucas 22, 14-23, 56 que narra a Paixão, Crucificação e Morte de Nosso Senhor Jesus Cristo segundo S. Lucas Esta passagem evangélica convida-nos a contemplar o amor de Jesus, um amor infinito: «Jesus Cristo, tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até ao fim» – S. João 13,1. «Amar até ao fim» significa amar sem medida, amar até ao último suspiro. «Amar até ao fim» encerra também a ideia da suprema perfeição: Jesus amou-nos até dar tudo e dar-se a si mesmo, na máxima medida.
Foi sempre assim. Na hora do Tabor (Transfiguração), interpõe-se a cruz; na entrada triunfal decide-se a sua morte. Cruz e ressurreição vão sempre unidas no mesmo destino redentor. Pela cruz se vai à glória e dela se colhe o fruto da vida bem-aventurada. Em cada acontecimento há um aspecto que exalta e outro que crucifica. O cortejo dos nossos triunfos leva um crucificado.
Na vida de Cristo há triunfos e aclamações, alternando com horas de abandono e agonias. “Se eles se calarem gritarão as pedras”. Contudo, uma multidão de discípulos se entusiasmou por Ele, ao longo dos tempos e O seguem no seu caminho. Vem da sua pessoa o atractivo irresistível, que desperta renúncias e doação total, gritos de sangue derramado. Nada atemoriza a Igreja; a persuade a calar a Boa Nova da salvação que Jesus lhe confiou. Se os cristãos se calassem até as pedras da rua haviam de gritar como filhos e filhas de Abraão. Se eu apagar em mim a luz de Cristo, virá um pagão qualquer ser luz no candelabro e profetizar-me o Deus desconhecido.
As intervenções de Deus na vida e na história são entradas desconcertantes, caminhos subterrâneos de triunfo e redenção. Não perguntemos como nem porquê, mas aceitemos e adoremos. O nosso lugar seguro será sob o manto de Maria, Santa Mãe de Deus.


