
Reflexão à Liturgia da Palavra do III Domingo do Tempo da Quaresma Ano C
Quaresma é tempo de conversão. Como vai ela? O Senhor vai chegar de visita à sua vinha, onde fomos plantados e quer encontrar em nós frutos de vida nova . Converter-se é morrer um pouco. Nesta caminhada para a Páscoa falta-nos morrer um pouco mais.
Neste III Domingo da Quaresma, Ano C, mergulhamos na experiência do Jubileu, um tempo de graça e de renovada esperança. O Evangelho de hoje convida-nos a reconhecer a paciência de Deus e a acolher o Seu apelo à conversão. A exemplo da figueira cuidada com dedicação, somos chamados a produzir frutos que testemunhem a vida nova em Jesus Cristo.
Na experiência de Moisés junto da sarça ardente, Deus revela o Seu nome e a Sua missão de libertação. É um chamamento à esperança e à confiança no Senhor. A primeira leitura é do livro do Êxodo 3,1-8a.13-15. Aqui Moisés encontra-se numa situação de fugitivo do Faraó e refugiado junto de Jetro, sacerdote de Madiã, tendo casado com uma das sua filhas, Séfora.
“O Senhor é clemente e cheio de compaixão” é o Refrão do Salmo Responsorial que a Liturgia propõe o salmo 102 (103),1-4.6.8.11.Com a salmo 102 proclamamos que o nosso Deus e clemente e cheio de compaixão.
Na segunda leitura, da Primeira Epístola de S. Paulo aos Coríntios 10, 1-6.10-12, o Apóstolo recorda-nos que as experiências do passado, são um apelo constante à vigilância e à conversão. “Mas a maioria deles não agradou a Deus”, refere a segunda leitura. Vinha eleita, figueira mansa foi em primeiro lugar o povo de Israel, transplantado em amor, enxertado em alianças. Tirado do Egipto, conduziu-os Deus por Sua mão através do deserto, com milagres e prodígios, convivendo e armando no meio dele a Sua tenda para partilhar a mesma sorte. Mas à hora de dar frutos, deu idolatrias e infidelidades, convertendo-se em figueira estéril e bravia.
Agora somos nós a figueira que o Pai plantou para dar frutos a seu tempo. Fomos plantados na Igreja e no mundo em sementeira de dons e de talentos, até encher a medida que nos fixou. Rodeou-nos de carinho e solicitude paternal, enriquecidos de bens da natureza e da graça, armados de forças e defesas para resistir nos dias maus. Mas também nós nos convertemos em figueira brava, que só dá frutos amargos de orgulho e rebelião.
No Evangelho, Jesus Cristo desafia-nos a reconhecer os sinais do tempo e a converter o nosso coração. O cuidado com a figueira é o sinal do amor paciente de Deus, que nos oferece novas oportunidades para darmos frutos. “Há três anos que venho procurar fruto nesta figueira”, diz o Evangelho deste Domingo, segundo S. Lucas 13, 1-9. É a história triste das nossas infidelidades. Em vez do fruto das obras, resta-nos apenas a esterilidade das nossas recusas. Fiamo-nos talvez em privilégios e observâncias legais e deixamos passar em vão a solicitude de Deus, que nos visita e planta em nós a Sua graça. Aos planos de Deus sobre nós, respondemos, à hora da verdade, com desculpas e rodeios. Em resposta ao tempo que urge, batem as horas de Deus sem retorno, inúteis e vazias. Os acontecimentos são visitas do Senhor. Ele aí vem colher o que semeou, arrecadar o que lhe pertence. Não O façamos esperar.
O vinhateiro disse ao dono da vinha, referindo-se à figueira estéril: “Senhor deixa-a ficar ainda este ano”. É o coração do Pai a falar pelo coração de Jesus Cristo. Deus é amor e o Seu nome é Misericórdia. No amor misericordioso nos remiu e n’Ele acolhe nos acolhe e sustenta. Deus não tem presas de fazer isto ou aquilo, chegar aqui ou além. Seria reduzir-se à nossa imagem e semelhança. Pressa é o disfarce da nossa limitação, a resposta ligeira e desentoada às exigências de Deus. Deus é paciente porque é eterno. A sua pressa é amar. Deus quer ser interpelado pela fragilidade das nossas razões. Não O convencem os nossos argumentos, mas o amor que nos tem. A nossa oração não move o coração de Deus para dar, mas dispõe o nosso para receber.
“Se não vos arrependerdes, morrereis”, conclui-se do Evangelho. Há horas de perdão e horas de castigo, horas de plantar e horas de cortar. O amor de Deus chama-nos à conversão. Converter-se é voltar-nos para Deus, renunciar a tudo o que d’Ele nos separe. Falta voltar para Ele caminhos e projectos, intenções e sentimentos. Falta dar a morte a muitos egoísmos que resistem ao amor e evangelizar trevas que fogem à luz.
Quaresma é celebrar em nós a Páscoa do grão de trigo que morre para ser vida. O estilo de Deus é a proximidade. Ele está perto com misericórdia e ternura. . É assim que Deus nos acompanha: próximo, misericordioso e terno. Peçamos à Bem-aventurada Virgem Santa Maria que nos dê esperança e coragem e que acenda em nossos corações a chama do desejo da conversão.


