CRISTOS TRANSFIGURADOS!

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Reflexão à Liturgia da Palavra do II Domingo da Quaresma, Ano C

 

O Tempo da Quaresma é um convite a sair de nós mesmos  pelos caminhos da fé e da esperança. Como Abraão, vamos também nós mudar de nome, porque mudamos de vida. O ideal da nossa transfiguração é Jesus Cristo.

Transparece no monte aos olhos dos discípulos a glória que tinha no seio do Pai. Dias antes profetizara a Sua morte e agora transfigurado profetiza e antecipa a glória da Sua Ressurreição. A divindade que em Jesus Cristo se escondia, invade agora os limites do humano, fazendo ressaltar os traços originais daquele divino rosto. O mistério oculto deixa-se ver entre as nuvens  e a voz do Pai exalta o Seu eleito, o muito amado “Este é o Meu Filho”. 

O texto do Livro do Génesis 15, 5-1217-18, que nos aparece na primeira leitura fala-nos da Aliança que Deus realizou com Abraão,  pai do povo eleito e das promessas que lhe fez. Jesus veio celebrar a nova e definitiva aliança com o novo povo de Deus, a Santa Igreja.

“O Senhor é a minha luz e a minha salvação” é o refrão do Salmo Responsorial, para o qual a Liturgia propõe o salmo 26 (27), 1.7-8.9abc.13-14. Aclamemos a Jesus Cristo. Ele é nossa luz e salvação e também nós ansiamos por vê-l’O face a face.

Na segunda leitura, da Epístola de S. Paulo aos Filipenses 3,17-4,1, o Apóstolo anima-nos a viver a sério a nossa vida de cristãos, de filhos de Deus, com os olhos postos na nossa Pátria que é o Céu.”Ele há-de transformar o nosso corpo”. A pobreza da nossa vida escondida em Jesus Cristo será revestida de glória e de esplendor. Seremos semelhantes ao Seu Corpo glorioso. Vivemos já, em disfarces de dor e de pobreza, a condição gloriosa de transfigurados em Jesus Cristo. A Sua transfiguração é a antevisão daquilo que seremos na ressurreição futura, as primícias do mundo novo.

Mas a nossa transfiguração acontece na fé. A fé é a luz que reveste dum brilho novo o rosto das coisas e da vida. Dá tudo aquilo em que toca a divina transparência, que a realidade espessa detém e oculta. Mas a fé que transfigura rompe da nuvem de sinais e testemunhos, onde há que entrar de joelhos. De lá vem a voz que nos confirma e desperta para as grandes decisões. Razões humanas são sonolências  que impedem de ver e escutar. Diante de Deus que se nos revela, a única resposta é dar-se Sobram palavras. Pedro “não sabia o que estava a dizer”.

A Transfiguração de   Jesus manifesta a Sua divindade e fala-nos da maravilha da graça em  nossa alma. “Subiu ao monte para orar”, narra a passagem evangélica,  do Evangelho segundo S. Lucas 9,28b-36. Jesus transfigurou-se no monte enquanto orava. Orar é subir, orar é transfigurar. A oração, como vivência de fé, dá às coisas e à vida o rosto original e o sentido pleno, vencendo a espessura de contradições  e aparências. Na oração se revelam, caminhos, se aclaram dúvidas e incertezas. É de joelhos que se vê bem. Somos os íntimos de Deus, os filhos muito amados, dialogando com Ele, face a face, os segredos que guarda para os escolhidos. A oração nos eleva e introduz na vida trinitária., A nossa importância é rezar.

“Surgiram  então dois homens”, narra o Evangelho. Eram Moisés e Elias, a Lei e os Profetas.    Com eles veio toda a esperança de Israel viver certezas de redenção. Com Jesus Cristo transfigurado,  transfigura-se toda a humanidade. Foi para exaltação do homem que Jesus Cristo viveu aquela hora. O Seu triunfo não é alienação, distanciamento dos homens  seus irmãos. Deus está infinitamente próximo. A Sua glória é o homem e na sua exaltação está o nosso triunfo.

“Falavam da morte d’Ele”, conversavam Moisés e Elias. Falar da morte   na hora da  transfiguração, que dizer, que também a morte é triunfo. Glória e despojo andam inseparáveis no mesmo projecto de redenção. É o sofrimento que nos redime e transfigura, libertando de pesos , cortando amarras. Tudo o que nos acontece no vem ao ritmo binário de morte e ressurreição.

Desceram do monte. Cá em baixo esperava-os a vida real, vivida na rotina e no concrecto. A fé não é evasão, mas luta. A transfiguração da fé  faz-se a fogo lento. A Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a manter o coração desperto para acolher este tempo de graça que Deus nos oferece.                              

Diácono António Figueiredo