ESTE É O MEU FILHO

By

Reflexão à Liturgia da Palavra do Domingo do Baptismo do Senhor

O Baptismo do Senhor inaugura o ministério da Sua vida pública. A Palavra de Deus, que no silêncio crescia, vai abrir-se e frutificar. O Baptismo de Jesus é o resumo e o programa da Sua missão apostólica. Desde o princípio nos aponta o desfecho pascal da morte e ressurreição.

Celebramos hoje a solenidade do Baptismo de Jesus por S. João Baptista nas margens do rio Jordão. Sem ter mancha alguma que purificar, Jesus quis submeter-se às demais observâncias legais, pois essa era a vontade do Pai. Com o Baptismo de Jesus ficou preparado o Baptismo cristão, directamente instituído por Jesus Cristo.

“Diz o Senhor: ‘Eis o Meu Servo a quem, Eu protejo…’”. Diz a primeira leitura da profecia de Isaías 42, 1-4.6-7. No rio Jordão o Santo “fez-se pecado”, assumindo a nossa condição de pecadores, responsabilizando-Se perante o Pai pelos pecados do mundo. Mistério de aniquilamento e humilhação. Esvaziou-se dos atributos da divindade e assumiu a condição de Servo, aceitando, a humilhação de parecer-Se comigo, entrando na fila dos pecadores. Quis fazer-se solidário com o homem, identificar-Se com ele na mesma pobreza e destino. Jesus Cristo meteu-Se dentro da nossa condição humana e será dali, de dentro de nós,, que Ele actua e realiza a salvação.

“O Senhor abençoará o Seu povo na paz” é o refrão do salmo 28 (29),1a.2.3ac-4.3b.9b-10, que a Liturgia propõe para Salmo Responsorial. O salmista convida os filhos de Deus a adorar o Senhor. A seguir descreve a tempestade, em que o trovão simboliza a potente voz de Deus ressoando sobre as águas do mar e sobre as florestas, onde derruba e retorce as árvores mais sólidas. Por fim apresenta-nos Deus sentado no trono como Rei eterno a abençoar o Seu povo na paz.

“Deus ungiu-O com o Espírito Santo”.A segunda leitura é do Livro dos Actos dos Apóstolos 10, 34-38. Jesus “passou pela terra fazendo o bem, curando os que eram oprimidos pelo demónio, porque Deus estava com Ele O Espírito Santo desceu sobre Jesus e ungiu-O para dar início ao Seu ministério Salvador. A unção do Espírito Santo revela a identidade de Jesus: Ele é o Ungido de Deus Pai.

No Evangelho, vemos que Jesus quer cumprir totalmente a vontade do Pai, tornando-se solidário com a humanidade pecadora. Submete-se ao Baptismo de penitência de João, num gesto de humildade. O Pai, por Sua vez, proclama que Ele é o Seu Filho. “Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e o fogo, diz João Baptista ao povo que o escutava, conforme refere a passagem evangélica deste Domingo, do Evangelho segundo S. Lucas 3, 15-16.21-22. O Baptismo de Jesus é antecipação e figura da Sua morte e ressurreição. Das nascentes da água viva surgirá a vida nova. Lavados no Sangue surgiremos novas criaturas,consortes e participantes da mesma natureza divina. Por este sinal de arrependimento reconcilia com o Pai a humanidade pecadora, feito Cordeiro inocente para tirar o pecado do mundo. Pela Sua humilhação aceita a missão de Servo de Javé, para lavar os nossos pecados num Baptismo de Sangue. Entre dois Baptismos decorre e se resume toda a vida de Jesus.

“E do Céu fez-se ouvir uma voz: Tu és o Meu Filho muito amado:”, narra a parte final do Evangelho deste Domingo. Mas em resposta ao aniquilamento e humilhação de Jesus, Deus exaltou o Seu Filho. O Pai e o Espírito Santo dão testemunho de Jesus. Pela voz do Pai, Jesus é proclamado Filho de Deus, identificado com Ele na mesma essência e na mesma obra. Na hora da humilhação, o Pai revela-se glorificando o Seu Filho, não para O livrar do fracasso, mas para O confirmar na humilhação que exalta. O Espírito Santo desce sobre Jesus, sagrando-O como Messias, ungindo-O de fortaleza e confirmando-O na Sua missão salvadora (2.ª leitura). Como no princípio, o Espírito Santo pairava sobre as águas, para inaugurar em Jesus Cristo a nova criação (Génesis 1,2)

O Baptismo do Senhor é revelação e mistério da Trindade e evocação do nosso  Baptismo. Também nós somos filhos muito amados em quem o Pai se compraz, reconhecendo-nos filhos no Seu Filho. Também sobre nós desceu o Espírito Santo e nos consagrou para a missão de continuarmos no mundo a mesma obra de Jesus Cristo. Fomos Baptizados no Espírito Santo e no fogo. Mas como Jesus Cristo, também nós temos de ser baptizados num Baptismo de sangue, em renúncias e humilhações e morrer todos os dias.

A humilhação é o rito sagrado, o lugar do encontro, onde Deus se revela e faz crescer em nós o sentimento de filhos. Connosco vai o Espírito Santo que nos ensina a dizer: Pai. A Bem-aventurada Virgem Santa Maria, Mãe de misericórdia, seja a nossa guia e o nosso modelo.