
Reflexão à Liturgia da Palavra do IV Domingo do Advento Ano C
O Senhor vem visitar o seu Povo. Já aí está a nova Arca da Aliança, trazendo o Novo Testamento. Já o Anjo da Boa Nova ensaia o cântico novo. Abri-vos portas estreitas.
Ultimam-se os preparativos para a festa do Natal em família e fazem-se exames à memória para que não se esqueça nada de importante. Procuremos que na lista das nossas preocupações faça parte uma boa confissão para preparar um verdadeiro Natal do Senhor. Celebrá-lo com ruído exterior, mas deixando de lado a vida em graça, a nossa redenção com Deus, é como vestir um fato novo com o corpo sujo.
O profeta Miqueias, alguns séculos antes do nascimento de Jesus, anuncia que Ele vai nascer em Belém. “De ti Belém-Efratá, pequena entre as cidades de Judá; de ti sairá Aquele que há-de reinar sobre Israel”, salienta a primeira leitura, da profecia de Miqueias 5,1-4a.
O Espírito Santo coloca em nossos lábios uma prece ardente, pedindo ao Senhor que venha ao mundo quanto antes e não nos faça esperar mais. Procuremos cantá-lo com profunda sinceridade, desejando de todo o coração que o Senhor transforme as nossas vidas neste Natal. “Senhor nosso Deus, fazei-nos voltar, mostrai-nos o vosso rosto e seremos salvos” é o refrão do salmo 79 (80) 2ac.3b .15-16.178-19, que a Liturgia propõe para Salmo Responsorial.
O autor da Carta aos Hebreus coloca nos lábios de Jesus Cristo, ainda no seio materno, palavras de inteira disponibilidade à vontade do Pai. Então Eu disse: “Eis-me aqui: Eu venho para fazer a Tua vontade”. Ao entrar no mundo, Jesus disse ao Pai: “Eis-me aqui! Eu vim ó Deus para fazer a Tua vontade”. O sim de Jesus Cristo e de Maria foram pronunciados em uníssono no momento da Encarnação: “Faça-se”. “Eis-me aqui”. Na voz de Maria ressoa a voz do Filho, ensinada pelo Espírito Santo. No sim de Maria começa o Verbo encarnado a fazer a vontade do Pai. A Serva do Senhor vai adiante como sinal do “Servo de Javé”. O sim de Maria é o sim de Jesus Cristo, começo de vida nova, programa de redenção. A segunda leitura é da Epístola aos Hebreus 10, 5-10.
Aprendamos com Maria como havemos de responder quando o Senhor nos pede alguma coisa. “Maria pôs-se a caminho e dirigiu-se apressadamente para a montanha”. O Emanuel, Deus connosco, tem pressa de se comunicar. Completaram-se os tempos e vai cumprir-se tudo o que àcerca d’Ele está escrito no livro (segunda leitura). Por isso Maria se apressa a levá-l’O aos outros. Quem está cheio de Deus tem ânsias de O comunicar. As pressas de Maria são as pressas de Jesus, anúncio de caminhadas e buscas redentoras. Nos seus passos apressados ecoa o amor incontido de Deus que vem salvar.
Aí vem o Senhor, percorrendo o caminho a passos de gigante (Sl 18,6). O amor tem pressa, tudo compreende e suporta. O amor redentor mora nas alturas . Os passos de Jesus Cristo vão de monte em monte, como Pastor de Israel,, reunindo os filhos dispersos. Há sempre um monte que se levanta, desde Belém ao Calvário, como lugar de escolhas e alianças, termo de glórias, cenário de mistérios.
“O menino saltou de alegria”, narra o Evangelho. Maria de Nazaré foi a morada escolhida para Deus visitar o Seu povo. N’Ela e por Ela, Deus visita a humanidade prostrada nas trevas e nas sombras da morte. Quando Deus visita é para libertar. Vem ao nosso encontro apressadamente, fazendo saltar de alegria as nossas dores e esperanças. Maria é profecia de Deus pelos caminhos dos homens, figura do que vai acontecer. Os seus passos inauguram os do Redentor, precursora dos seus gestos e caminhos. O Messias libertador proclama pela Sua voz a alegria de todo o povo.
“Bem-aventurada Aquela que acreditou no cumprimento de quanto lhe foi dito da parte do Senhor”, narra a última frase do Evangelho deste Domingo. A salvação que o Pai nos dá vem-nos pelo cumprimento da Sua vontade. Fazer a vontade de Deus é a oblação imaculada, o sacrifício agradável que sobe do altar da vida. Substitui sacrifícios e holocaustos, oferendas que Deus não quis. Jesus Cristo obediente é o único sacrifício que agrada ao Pai. Desde agora só a obediência redime e nela seremos salvos. Para nós, como para Jesus Cristo, há em cada acontecimento uma vítima que se oferece. O Presépio já é altar de sacrifícios, oferta de sangue e despojos.
O mistério da Encarnação é mistério de fé. Pela fé Jesus Cristo foi concebido no Coração de Maria e vive pela fé em cada pessoa. Feliz de ti se acreditas. Quando a Palavra de Deus germinar em ti e a levares aos outros, o Verbo se fará carne outra vez e habitará entre nós.
A Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos obtenha a graça de viver um Natal extrovertido, mas não dispersivo. Extrovertido, que no centro não esteja o nosso “eu”, mas o Tu de Jesus e o tu dos irmãos, sobretudo daqueles que têm necessidade de uma ajuda. Então daremos espaço ao Amor, que também hoje se quer fazer carne e vir habitar entre nós.


