
Reflexão à Liturgia da Palavra do III Domingo do Advento Ano C
Aproxima-se o Natal de Jesus e um sentimento de alegria envolve todo o mistério, como percursor do dom que há-de vir. Vão realizar-se as promessas e entraremos no gozo do desejo e da esperança. Deus faz-nos participantes da plenitude da sua alegria e envia ao mundo o Filho para que a nossa alegria seja completa (João 16,24). A alegria do Pai encarnou em Seu Filho Jesus, sorriso de Deus e dos homens.
Alegria é a presença de Deus entre os homens,expressão original da Sua divina essência. Quando uma pessoa sorri é o coração de Deus que se alegra e vê mais uma vez que tudo é bom. Alegria é o sabor do Espírito Santo, dando gosto a tudo o que vive e acontece. É Ele que no-la traz e ensina. Ele que em nós se alegra, perfeita alegria de Deus em Pessoa.
Alegria é Jesus Cristo no meio de nós, fruto pascal animando a festa em segredo. Dá-se de presente a quem a procurar como prémio de vencedores.
“Por causa de ti, Ele enche-se de júbilo, renova-te com o Seu amor, exulta de alegria por tua causa”, refere a primeira leitura, da profecia de Sofonias 3, 14-18a. Alegria é a exaltação da cruz redentora, o triunfo da porta estreita. A perfeita alegria nasce da perfeita renúncia, como tudo o que é grande e redentor. Sorrir sempre revela a divina arte de morrer e ressuscitar.
O salmo 12 (13), 2-3-4bcd.5-6, que a Liturgia propõe para Salmo Responsorial, é um hino de louvor retirado de Isaías, deixa a nossa alma cheia de canções, fazendo-nos repetir: “Povo do Senhor, exulta e canta de alegria”.
A religião cristã, diz-nos S. Paulo na segunda leitura, na Epístola aos Filipenses 6, 4-7, é religião de alegria e tem o seu fundamento no facto de Jesus Cristo continuar a viver no meio de nós, pondo-nos em comunhão com Deus e com os irmãos. “Alegrai-vs sempre no Senhor. Repito: alegrai-vos!”, escreve S. Paulo. Alegria é marca inconfundível do discípulo de Jesus Cristo. Nasce com Ele, como expressão e exigência pascal de vida nova, optimista de nascença e profissão.
“E nós que devemos fazer?”, perguntam as multidões a João Baptista, na passagem evangélica deste Domingo, do Evangelho segundo S. Lucas 3, 10-18. A sua pregação tinha provocado uma forte sacudidela nas consciências. A conversão pregada por João Baptista leva sempre a atitudes concrectas de mudança de vida, vida nova que implica interrogar-se sobre deveres morais que se têm de cumprir, recorrendo a quem possa esclarecer a nossa consciência. Nesta formação da consciência para actuar segundo a vontade de Deus, devem-se ter muito em conta os deveres profissionais do próprio estado, como é o caso narrados no Evangelho, empregados do fisco (publicanos), soldados.
O povo estava na expectativa e pensava em seus corações se João Baptista seria o Messias, ao que este respondeu: “Eu baptizo-vos com água, mas está a chegar quem é mais forte do que eu … Ele baptizar-vos-á com o Espírito Santo e com o fogo”. João Baptista, numa perspectiva do Antigo Testamento, uniria a primeira à segunda vinda do Messias, a primeira em que veio como Salvador e a segunda que virá como Juiz. Uma coisa é certa: João Baptista reconhece a insuficiência e o carácter transitório do seu baptismo, que não podia dar o Espírito Santo prometido em abundância para os dias do Messias, nem purificar a fundo as consciências.
O tema da alegria atravessa as leituras bíblicas deste terceiro Domingo de Advento: alegria a que é convidada Jerusalém pela presença salvífica de Deus, o Rei de Israel e Salvador no meio dela, que traz consigo o perdão, afasta o medo e o desalento, para dar origem a uma renovação maravilhosa (1.ª leitura); alegria a que são exortados os cristãos de Filipos, perante o anúncio de que “o Senhor está próximo”, Ele, em Jesus Cristo continua a viver no meio de nós, pondo-nos em comunhão com Deus e com os irmãos. Por isso, em qualquer circunstância podemos apresentar a Deus os nossos pedidos, as nossas necessidades, as nossas preocupações com “orações e súplicas” (2.ª leitura); alegria presenta na Boa Nova que João Baptista anuncia ao povo que aceita questionar-se: “que havemos de fazer? E seguir o caminho da conversão (Evangelho).
Não se trata, como se percebe, da alegria do divertimento, do prazer, da distração, máscara do desespero, nem a “alegria consumista e individualista que atravanca o coração”. Trata-se sim, da alegria do amor que é de sempre e para sempre; é a alegria de saber que Deus nos ama para além das nossas falhas e fraquezas; que Ele não está longe, mas perto; está entre nós para nos oferecer o perdão, a alegria e a paz.
Para aceitar o convite do Senhor à alegria, é preciso ser pessoas dispostas a pôr-se em questão. O que significa isto? Precisamente como aqueles que depois de terem ouvido a pregação de João Baptista lhe perguntam:”o que devemos fazer?”. Esta pergunta é o primeiro passo para a conversão que somos convidados a realizar neste tempo do Advento. Cada um de nós se questione: o que devo fazer?
A Bem-aventurada Virgem Santa Maria, nossa Mãe, nos ajude a abrir o nosso coração ao Deus que vem, para que Ele inunde de alegria toda a nossa vida.


