
Reflexão à Liturgia da Palavra do XXXIII Domingo do Tempo Comum Ano B
O fim do ano litúrgico traz-nos o anúncio do fim do mundo e do juízo final. É Jesus Cristo que passa e vem unir extremos. Ele é o princípio e o fim. Tudo corre para Ele,. Tudo passa em Sua busca. O ano litúrgico aproxima-se do fim, iluminando o horizonte dos crentes com a glória eterna. “Os que dormem no pó da terra ressuscitarão”.
A Liturgia da Palavra deste trigésimo terceiro Domingo do Tempo Comum, Ano B, apresenta-nos um convite à esperança, aguardando e apressando a vinda do Senhor. A primeira leitura anuncia aos israelitas perseguidos e desanimados que está próximo o tempo da intervenção libertadora de Deus. A confiança é a esperança elevada ao mais alto grau e sustenta-nos também a nós. Na segunda leitura, o Autor da Carta aos Hebreus lembra-nos que Jesus nos ensina a fazer da nossa vida uma entrega amorosa a Deus e aos irmãos.
“Mas nesse tempo virá a salvação do teu povo”, diz o início da primeira leitura, da profecia de Daniel 12, 1-3. Em tempo de grande angústia, o profeta Daniel aponta ao seu povo a ressurreição futura como o destino último dos que estavam sendo vítimas da perseguição religiosa movida pelo rei Antíoco.
Para Salmo Responsorial, a Liturgia propõe o salmo 15 (16)5.8.9-10.22. Este salmo afirma a confiança na fidelidade do Senhor, que nos oferece a grande alegria de vivermos tranquilamente na Sua presença. Deus não nos abandona na mansão dos mortos. Deus dar-nos-á a alegria plena das delícias eternas.
“Por uma única oblação, Jesus Cristo tornou perfeitos para sempre os que foram santificados”, diz-nos a segunda leitura, da Epístola aos Hebreus 10, 11-14.18. Jesus Cristo, Sumo e eterno Sacerdote ofereceu-Se em sacrifício ao Pai. Com a Sua ressurreição de entre os mortos entrou no santuário celeste. É esta a nossa esperança: passar com Jesus Cristo, da morte para a vida.
“Ele mandará os Anjos para reunir os seus eleitos”. Palavras de Jesus no Evangelho deste Domingo, S. Marcos 13, 24-32. É a hora do Senhor, hora de recolher. Fazendo história, o homem semeia para o grande dia quando o Senhor vier encher os Seus celeiros Então se completará a vitória de Jesus Cristo, iniciada na ressurreição e continuada em cada homem, membro do Seu corpo. O grande dia será o triunfo definitivo do bem sobre o mal, a separação radical entre o trigo e o joio. Cairão máscaras e aparências e as coisas voltarão a chamar-se pelo seu nome, como no princípio da criação. Brilhará aos olhos da humanidade a sabedoria encoberta do projecto de Deus e o homem reconhecerá que tudo o que acontecia era amor.
“Hã-de ver o Filho do homem vir sobre as nuvens” (V. 26 do Evangelho). A nuvem da fé que envolveu os nossos caminhos, transformar-se-á em nuvem de glória e de esplendor. Será então o juízo, a resposta final de Deus aos homens. Ao longo do caminho ficaram muitas perguntas sem respostas. Porquê? Para quê? Mas, à luz do juízo de Deus, veremos a sabedoria dos seus decretos. Todos os juízos humanos hão-de ser corrigidos e os gritos de revolta e desespero se converterão em aclamações e hossanas. Então aparecerá claro tudo o que agora acontece e não entendo. Ao fim, a dor frutificará em glória, assumindo o seu lugar na trama do edifício. Nem uma lágrima se perdeu, nem uma dor sofrida em vão. Lágrimas e dores são história sagrada, história da salvação, onde Deus Se revela e levanta a Sua obra. “Não julgueis antes do tempo” (1.ª Epístola de S. Paulo aos Coríntios 4,5).
“Passará o Céu e a terra, mas as minhas palavras não passarão”, adverte Jesus. A vida passa com as suas cruzes e glórias, passa o mundo com as suas seduções. Passa o progresso e a técnica, as conquistas da ciência e da arte. Por isso, não queiramos correr em vão. É preciso conhecer a fragilidade deste mundo para sentirmos em nós desejos de salvação. No ruir de apoios e seguranças, despertará no coração o grito redentor. O fim do mundo é o êxodo definitivo, a inauguração da Páscoa eterna, a última exigência pascal de morte e ressurreição.
A Palavra de Deus deste Domingo convida-nos a uma atitude crítica perante o mundo que passa. É preciso discernir valores, estabelecer hierarquias. Não andemos a correr atrás de coisas transitórias, mas daquilo que permanece para sempre. Só a Palavra de Deus fica e a Sua vontade triunfa. Nada termina, tudo começa. Nada passa, mas tudo se transforma e reencontra na plenitude marcada, de regresso à eterna fonte.
O cristão vive em atitude de vigilância , servo diligente na expectativa do Senhor que vem. O juízo de Deus é aqui e agora. Para além das dores e incertezas, por sobre o ruir de anseios e projectos, o grito da esperança desperta a noite: “Vem Senhor Jesus” (Apocalipse 22,20).
A Bem-aventurada Virgem Santa Maria nos ajude a fazer as escolhas importantes na vida como Ela fez: segundo o Amor, segundo Deus.


