
Reflexão à Liturgia da Palavra do XXXII Domingo do Tempo comum Ano B
De duas pobres viúvas vem-nos hoje o exemplo. O mais importante e o que salva é dar tudo. Mas, cuidado! Não deixemos manchar a oferta com falsas intenções de escribas e fariseus, que fingem fazer longas rezas e devoram depois os bens das viúvas.
Vaidade, injustiça, hipocrisia, são a negação do dom de nós mesmos e transformam a oferta em busca e interesse. Pela vaidade se corrompem na origem empresas e sucessos. Sob pretextos piedosos , cometem-se injustiças, violando direitos e deveres. A hipocrisia é a homenagem do vício à virtude, mentira de sepulcros branqueados.
Deus que é Amor, chamou-nos à vida para sermos felizes no tempo presente e por toda a eternidade. Como é importante descobrir e levar muito a sério este plano do Seu Amor! Ele dá resposta aos mais profundos e sinceros anseios da nossa vida. Como é importante que existam sempre anunciadores conscientes e convictos desta tão maravilhosa realidade! Só assim sentiremos o verdadeiro sentido para a vida.
Estamos a terminar uma semana de oração muito especial pelos Seminários. Peçamos ao Senhor da Messe que nos dê muitos e santos candidatos ao Sacerdócio. Que todos eles, de forma convincente e vontade séria, anunciem o único e verdadeiro Salvador da humanidade.
Uma pobre viúva de Sarepta mostra-se disponível para acolher os apelos de Deus. O Senhor recompensa-a. O seu exemplo garante-nos a grandeza da generosidade do Senhor quando estamos dispostos a tudo colocar ao Seu serviço. A primeira leitura é do primeiro livro dos Reis 17, 10-16.
“Ó minha alma louva o Senhor”, é o refrão do salmo 145 (146) 7.8-9a.9bc-10, que a Liturgia propõe para Salmo Responsorial. O Senhor coloca a Sua omnipotência ao nosso serviço. Como é bom saborear tão consoladora realidade.
O autor da Carta aos Hebreus propõe-nos o exemplo de Jesus Cristo, o Sumo Sacerdote que entregou a Sua vida em favor de todos nós. Ele mostrou-nos com o Seu sacrifício, qual a medida do dom perfeito que Deus quer e espera de cada um de Seus filhos. Mais do que dinheiro ou outros bens materiais, Deus espera de nós o dom da nossa vida, da vontade que se abandona ao serviço do Seu projecto de salvação para os homens e para o mundo. A segunda leitura é da Epístola aos Hebreus 9, 24-28.
O Evangelho é de S.Marcos12,38-44. Esta passagem do Evangelho anima-nos a confiar inteiramente no Senhor. Ele nunca desampara os Seus amigos.”Acautelai-vos dos escribas”, aconselha Jesus. Vive-se muito de aparências, mas o Evangelho de hoje tira-lhes a máscara. Há valores ocultos em gestos de humildade e mediocridades sonoras postas no candelabro. Há virtudes muito ocultas e defeitos muito manifestos, que falseiam juízos e opiniões. A virtude dos fariseus era a contradição da lei do amor; mas a pobreza da viúva era riqueza do dom total. Andamos na vida iludidos com aparências; por isso as nossas contas saem erradas.
“Veio uma pobre viúva e deitou duas pequenas moedas” (V. 42 do Evangelho). Foi isto que encheu a caixa e o coração de Jesus Cristo. Na aparência não era nada; mas na realidade, aquela pobre mulher “deitou mais que todos os outros”. Para quem dá, como para quem recebe, não há coisas pequenas. Coisas pequenas ou grandes são contas que nós fazemos e Deus não sabe. A grandeza das coisas vai dentro de nós. Fazer coisas grandes depende de mim. É o amor que me enche as medidas e faz grande o que parece pequeno. Pequeno, só aquilo que o amor não engrandece. Coisas obscuras, só aquelas que o amor não ilumina.
Que temos nós de grande? Ao amor infinito só se oferecem migalhas. Tudo nos sai da nossa pobreza e limitação humana. Deus pede aos pobres e aos pequeninos, porque os grandes deste mundo nada têm para dar. Deus contenta-se com as nossas migalhas e em troca, nem a farinha se esgota, nem o azeite se esvazia (1.ª leitura). Tudo o que dermos a Deus vem-nos de retorno, convertido em graça. Deus não precisa de receber; sou eu que preciso de dar. Quando eu me der todo, então da pobreza da minha arca, Deus faz sair maravilhas. Na economia da graça, pelas contas do amor, em troca do nosso nada. Deus dá-nos tudo. Para riqueza dos pobres, só Ela basta.
“… mas ela, na sua pobreza, ofereceu tudo o que tinha ..,.” diz o Evangelho. Dar tudo é o que enche o coração de Deus e do homem, a radicalidade evangélica, que Jesus Cristo nos ensinou. Dar tudo revela o estilo novo trazido do céu, a divina arte do amor perfeito. Jesus Cristo ofereceu-se uma vez por todas para tirar os pecados da multidão (2.ª leitura). Em provas de amor, o importante é dar tudo. O amor não se reparte, mas dá-se todo, indivisível e intacto, como saiu do coração de Deus.
Só o dom total nos enriquece. Quem dá tudo nada lhe falta. Dirijamo-nos à Bem-aventurada Virgem Santa Maria, que com coração humilde e transparente fez de toda a sua vida um dom para Deus e para o Seu povo.


